O diário de Cecília..

O quarto de hóspedes

Cecília: Jackson, eu não vim aqui pra isso - tentei fixar meus olhos nos dele mas estava impossível com aquele peitoral de fora. 

Jackson: Me da uma chance poxa - se aproximou.

Olhei ao meu redor e dei um passo para trás, ele se aproximou mais ainda, me encostou na parede e chegou bem perto de mim com seus lábios quase colados aos meus. 

Cecília: Jackson... - disse quase como um suspiro enquanto sentia a respiração dele tão próxima.

Ele desviou o rosto e me deu um leve beijo no pescoço, o que foi suficiente para me arrepiar completamente. Fui para o lado pra me afastar e virei-me para ele.

Cecília: Não, por favor, respeite isso.

Jackson: Tudo bem - respirou fundo.

Cecília: Obrigada - sorri.

Ele retribuiu o sorriso e me guiou até o quarto de hospedes onde eu poderia dormir tranquilamente. Agradeci e me deitei, ele me desejou boa noite, encostou a porta e foi para o quarto dele. Respirei fundo, olhei as horas no celular, guardei em baixo do travesseiro, fechei meus olhos e adormeci.

Acordei no dia seguinte no susto, ele estava sentado na beirada da cama me olhando fixamente. 

Cecília: O que faz ai?

Jackson: Primeiramente bom dia.

Cecília: Bom dia, o que faz ai? Quase me matou de susto. - sentei-me na cama.

Jackson: Sou tão feio assim? - sorriu de canto - estava te olhando dormir, até assim consegue ser linda.

Cecília: Não flerte comigo, sabe da situação difícil que estou passando.

Jackson: Exatamente, não deixarei que você fique mal, quero vê-la sorrir e superar. 

Cecília: Flertando comigo não vai adiantar nada.

Jackson: Vai te fazer sorrir que eu sei, e se você sorrir já é um bom começo. 

Cecília: Não me vem com esse papo de bom moço, sei muito bem das suas intenções.

Jackson: E quais são?

Cecília: Me levar pra cama e simplesmente me dar um pé na bunda.

Ele riu.

Cecília: Não estou achando graça.

Jackson: Desculpe. É isso que você pensa que eu quero de você?

Cecília: É isso que todos sabem.

Jackson: Todos sabem sobre o Jackson da escola, não o verdadeiro eu. Posso ser desse jeito que você imagina que sou sim, não vou negar, mas também sei ser um cavaleiro e de maneira alguma eu faria isso com você, você é especial, diferente de todas as outras, você sabe disso e sabe que eu sei desde o primeiro dia que nos falamos. 

Cecília: Jackson... - eu já ia o interrompendo mas ele me interrompeu.

Jackson: Um corpo bonito me atrai sim, mas olhos, um sorriso sincero e um caráter bonito atrai muito mais em uma garota para mim. 

Fiquei quieta, não sabia o que dizer e não sabia se acreditaria realmente naquelas palavras, seus olhos pareciam estar dizendo a verdade, mas era difícil acreditar com todas essas atitudes que ele tem. Me levantei e ele me seguiu pelo olhar.

Cecília: Obrigada por ontem, já vou indo. - peguei meu celular, olhei as horas, 10:30, e guardei no bolso - devolvo seu moletom amanhã, tudo bem?

Jackson: Pode ficar aqui se quiser, podemos passar a tarde juntos... - levantou-se e ficou bem próximo de mim.

Cecília: Acho melhor não, fica pra outro dia, tudo bem? - caminhei até a porta.

Jackson: Ta.. - ficou meio sem jeito.

Cecília: Não precisa me levar até a saída, eu já aprendi o caminho - sorri.

Jackson: Ei.

Dei um passo para trás para retornar ao campo de visão dele.

Jackson: Pode ficar com meu moletom, não precisa devolver tão cedo. Fique com ele para você como recordação da noite de ontem, de como se sentiu, de como foi bom e de como pode ser assim todos os dias se ficar comigo.

Encolhi os lábios, fiz um gesto com a cabeça de afirmação, um sorriso tímido e caminhei escada a baixo para a saída da casa de Jackson Haynes.

Parei um táxi na esquina da rua dele, cheguei em casa em torno das 10:55, paguei ao motorista e caminhei para os fundos da casa, entraria pela porta de trás para não ser vista caso alguém estivesse em casa, mesmo parecendo não ter ninguém, afinal os carros não estavam na garagem e as janelas estavam fechadas. 

Como o combinado, entrei pela porta dos fundos, dei uma olhada geral nos cômodos a minha vista e mesmo assim caminhei delicadamente para não fazer barulho, subi calmamente cada degrau da escada, mas parei no último quando ouvi o barulho de risadas vindo de um dos cômodos do andar de cima. Tirei lentamente meus sapatos e segurei na mão, andei pelo corredor ainda sem fazer barulho e caminhei até a direção de onde as risadas e conversas vinham. Era no quarto de hóspedes.

A porta estava entreaberta, parei-me de frente e olhei para dentro do quarto. Naquele instante minha vontade natural era de soltar os sapatos, mas lembrei-me que eles não sabiam que eu estava ali, então os segurei mais firme. Senti aquela terrível sensação de frio na barriga e suor por todo o corpo. Lá estavam eles, Miguel e Eliza sentados lado a lado na cama conversando, ambos sendo cobertos por uma coberta. 

Eliza: Temos meia hora antes que Cecília chegue. 

Miguel: Temos todo o tempo do mundo.

Eliza: Não quero que ela nos veja juntos aqui - o olhou.

Miguel: Qual o problema? Não foi ela que terminou comigo? Não devo nada, muito menos explicações.

Ela sorriu.

Eliza: Mas eu prefiro assim. Vou tomar um banho rápido, me espera aqui, okay?

Miguel: Não vou a lugar nenhum - sorriu.

Ela se levantou e calçou os chinelos, vestida apenas de lingerie...Caminhei para o quarto dos meus pais, afinal a porta estava aberta, fiquei lá até ter certeza de que Eliza já havia entrado no banheiro. Queria ter essa certeza pois eu não podia me controlar, eu tinha que falar com ele. 

Ouvi o barulho do chuveiro ligando, larguei os sapatos ali mesmo e caminhei vagarosamente até o quarto de hóspedes, abri a porta e Miguel olhou no mesmo instante, parecia surpreso.

  Eu tinha milhares de palavras para dizer naquele momento, mas preferi não dizer nenhuma. O silêncio destrói mais que qualquer ofensa, mais que qualquer bom argumento, e eu o escolhi. Acho que esse meu silêncio foi aterrorizante para Miguel, acredito que ele estava esperando que eu corresse até ele, o xingasse e batesse de todas as maneiras possíveis. Acredito que ele esperasse que eu entrasse em desespero, mas eu tentei não ser do jeito que ele queria e sim do jeito que ele temia me ver. Quieta.