O telefonema

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Fiquei sem saber o que dizer, tanto pelo o que ele havia dito quanto por estar chorando. Fiquei impressionada, algo que nunca imaginei presenciar.

Jackson: Eu preciso ir.. - passou a mão no rosto para enxugar as lágrimas e se levantou.

Eu fiquei ali parada sentada o vendo ir embora, eu realmente não sabia o que fazer. Mas quando ele estava se ajeitando para subir na moto, me levantei as pressas e corri até ele.

Cecília: Jackson espera!

Ele subiu na moto, pegou o capacete e me ouviu gritar la do jardim, olhou confuso.

Jackson: Eu não deveria ter vindo até aqui, eu não deveria ter dito nada disso. Me desculpe, vou te deixar em paz...

O interrompi com um beijo, um beijo lento no começo mas que logo foi ficando mais rápido. Minhas mãos estavam em sua nuca e uma das mãos dele em minha cintura. Ele desceu da moto, colocou o capacete em cima, puxou-me para mais perto e me beijou outra vez.
Nos afastamos do beijo lentamente, com os olhos ainda fechados, abrimos vagarosamente.

Jackson: Você não sabe o quanto eu desejei isso.. - sussurrou no meu ouvido.

Eu sorri.

Jackson: Mas eu não quero que faça isso por pena, eu sei que o sentimento não é recíproco - afastou o rosto.
Cecília: Eu não fiz isso por pena, fiz porque eu queria, fiz porque era o único jeito de você não ir embora, nada que eu dissesse iria adiantar.
Jackson: Você mesma disse Cecília, você ama Miguel.
Cecília: E você mesmo me disse, quem ama não vai embora, e porque vou insitir em alguém que não me ama? Às vezes precisamos desistir das pessoas que amamos para ficar com as que nos amam. Talvez você possa me fazer te amar do jeito que o amo...
Jackson: Esta dizendo que ta disposta a me dar uma chance?
Cecília: Sim, ainda a quer?
Jackson: Eu sempre iria querer essa chance se você não me desse.
Cecília: Ela é sua agora.

Ele sorriu.

"Dois anos já se passaram, você ainda não voltou...Me pergunto se você realmente existiu, porque eu sofro todos os dias com a sua ausência e com o fato de que estou esquecendo de como você é. Você realmente me deixou, não me ligou nesses dois anos, não me mandou, mensagens, cartas, nada. E eu continuo escrevendo nesse diário idiota... Não sei porque eu ainda espero por você. Jackson tem sido tão maravilhoso comigo e eu ainda deixo que meus pensamentos sejam de você, te odeio por te amar. Seus pais vão se mudar nessa tarde, ajudarei sua mãe com as caixas, eles e esse diário são as únicas lembranças que tenho de você, por que fez isso Miguel? Poderíamos realmente ter enfrentado tudo isso juntos...
Daqui duas semanas irei me mudar para Malibu, Jackson e eu conseguimos vagas na mesma faculdade,vamos morar juntos em um apartamento que ele esta investindo pra comprar, também estou ajudando com um pouco do meu salário na cafeteria.
E meus pais? As brigas pararam, e esta tudo certo. Mamãe engravidou outra vez, mas perdeu o bebê nas primeiras semanas. Ela ficou trancada no quarto por três dias, mas Tio Colin veio visita-la e só ele conseguiu reanima-la pra sair de lá, mas hoje ela está bem.
Thomaz? Nunca mais tive notícias dele, pra ser sincera, gosto assim.
Austin e Anna começaram a namorar alguns meses depois que você se foi, estão juntos até hoje, se mudaram ontem pra Amsterdã, também conseguiram a mesma faculdade. Mas combinamos nós quatro que nas férias iremos nos encontrar e sair juntos pra algum lugar.
Quero que saiba que nem um dia eu me esqueci de você, nos dias tristes queria que estivesse aqui pra me apoiar e nos felizes queria que estivesse aqui  compartilhar o momento junto co... "

Jackson: Ainda escrevendo pra ele? Pensei que tivesse parado - disse logo que entrou no meu quarto.

Respirei fundo e fechei o diário.

Cecília: Não é pra ele que escrevo, é pra mim mesma. Desde que comecei a escrever gostei disso, expressar meus sentimentos e pensamentos aqui.
Jackson: Pode se expressar comigo amor - deitou-se na cama.
Cecília: Eu sei que posso - sorri o beijando e em seguida colocando o diário em cima da cômoda.
Jackson: Como foi no serviço ontem?
Cecília: Tranquilo - sorri - e na agência de carros?
Jackson: Também. Seus pais chegam quando da viagem?
Cecília: Amanhã de manhã.
Jackson: Temos a tarde toda juntos então.
Cecília: Vou ajudar a vizinha do lado com as mudanças daqui a pouco, teremos a noite toda juntos - sorri.
Jackson: Posso ajudar também.
Cecília: Tudo bem.
Jackson: A vizinha do lado, é?
Cecília: Sim...
Jackson: Quer dizer os pais de Miguel...
Cecília: Não começa Jackson!
Jackson: Me desculpe.
Cecília: Vou buscar as papeladas da facul lá em baixo, pra darmos uma olhada - me levantei.
Jackson: Ta fugindo.
Cecília: Você já pediu desculpas, ta tudo certo, quer que eu fale mais o que?
Jackson: Nada.. Vai lá.

Rolei os olhos e sai do quarto.
Jackson levou as mãos a cabeça, se ajeitou na cama e esticou-se para pegar o diário, e leu as páginas que eu havia escrito hoje.

Jackson: Maldito! - bufou

Ele fechou o diário pois ouviu meus passos, colocou em cima da cômoda outra vez e aconchegou-se na cama.

Jackson: Encontrou?
Cecília: Uhum, aqui.. - o entreguei.

Melissa: Deixe que as caixas mais pesadas Mike leva, querida - pronunciou-se enquanto caminhavamos para os cômodos de cima - e fico grata pela sua ajuda Jackson - sorriu.
Jackson: Magina, é um prazer
Mike: Jack, pode me ajudar a levar a geladeira pro caminhão?
Jackson: Claro - me olhou - ajudo sim - o seguiu até a cozinha.
Melissa: Ele parece ser um bom rapaz - sorriu.
Cecília: Por que é que vocês fingem que Miguel nem existe? Que ele nunca existiu e que nunca foi nada meu? Qual é o problema de vocês Sra. Thompson? - pensei - Ele é sim - disse sorrindo.

Passamos em frente ao quarto de Miguel, as coisas dele já estavam todas empacotadas nas caixas, apenas a cama visível, até o guarda roupas estava desmontado, pude ver a caixa com as fotos e prêmios dele de natação e me lembrei daquela noite na casa dele em que quase ficamos juntos mas eu descobri toda a verdade sobre o acidente com o irmão dele. Lembrei dele dizendo que os pais sempre sentiam que ele era o culpado de tudo e que preferiam que ele estivesse morto. Será que é por isso que ela finge que Miguel nem existiu?  Será que os dois fingiram que Miguel também morreu, no acidente e assim vivem tranquilamente como se nada tivesse acontecido pra ele ter ido embora? Que horrível isso... Imaginei as coisas dele no lugar como estava antes, e lembrei nós dois juntos ali, dele na janela me olhando do outro lado, que saudade...
Melissa: Vamos levar essas caixas primeiro lá pra baixo - me chamou.
Cecília: Ah claro - sorri.

Pegamos as caixas e levamos lá pra sala, Mike e Jackson desta vez, estavam carregando o fogão. O telefone tocou, mas Melissa já estava indo buscar mais uma caixa e eu apenas enrolando aquele tapete em frente ao sofá.

Melissa: Cecília pode atender para mim? Deve ser o vendedor da imobiliária, se for ele, diga que jajá eu retorno pra ele! - gritou lá de cima.
Cecília: Tudo bem! - disse enquanto caminhava até o telefone.

- Alô? - disse a voz do outro lado da linha.

Aquela voz, quanto tempo eu não a ouvia... Quanto eu desejei escutá-la outra vez... Quanto eu pensei nela...
Meus pêlos do braço se arrepiaram, minha garganta ficou seca, senti como se algo me prendese de falar, até mesmo minha respiração parou por uns instantes, o frio na barriga era intenso e o coração acelerado, só aumentava. Deixei que o telefone escorregasse um pouco das mãos, mas sai do transe e o segurei firme antes que caísse no chão.

- Alô? Mãe? Está me ouvindo? Você está ai? - pronunciou-se outra vez - diga alguma coisa, posso ouvir sua respiração, você está bem? Mãe?

E eu também podia ouvir a dele, eu me lembrava. Fechei meus olhos e o imaginei aqui ao meu lado, lembrei-me de como era bom quando nos deitavamos quietinhos, ele acariciando meus cabelos e eu com o rosto em seu peito, ouvindo as batidas de seu coração, sentindo sua respiração, o ar quente em minha pele. Era ele. Era Miguel..

O diário de Cecília..Onde histórias criam vida. Descubra agora