Confissões *2°Temporada*

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Miguel: Me desculpe..

Cecília: Eu não quero desculpas, eu quero que você me explique o que esta acontecendo! Eu já estou cansada dessas suas mentiras, não aguento mais! Eu já engoli desculpas bobas suas, já deixei de lado em saber respostas de perguntas que todos fazem, mas eu cansei, eu quero saber a verdade, eu quero saber o que esta acontecendo, e quero saber isso agora!

Miguel: É uma longa história e complicada.

Cecília: Que se dane Miguel, eu quero saber! Ou você me conta, ou nunca mais olhe na minha cara, porque eu estou realmente cansada disso tudo!

Miguel: O que quer saber? - respirou fundo.

Cecília: Tudo! 

Miguel: Tudo bem, eu vou dizer..

Cecília: Comece me explicando porque mentiu pra mim em relação a isso - entreguei a ele a foto da natação.

Ele segurou e olhou o retrato, bufou e desviou o olhar para mim.

Miguel: Fiz natação desde os meus 8 anos aos 14, ganhei esses devidos troféus e medalhas..

Cecília: E por que mentiu? Não consigo compreender qual a lógica de ter mentido sobre isso!

Miguel: A cinco meses atrás, enquanto eu morava em Carson City, na Nevada, fui a uma festa com meu irmão e a namorada dele. Era em torno das 19:00 horas e a festa não tinha hora para acabar. Lá, nos divertimos muito, mas em torno das quatro da manhã, chamei meu irmão para ir embora, depois de muita insistência ele aceitou, ele estava muito bêbado, a namorada também, então não podiam dirigir. Eu tive que tomar o controle do volante, ele se sentou no banco do passageiro ao meu lado e a Lindsay deitou-se no banco de trás - sentou-se na beirada da cama de cabeça baixa, prosseguiu contando - eu não conhecia direito o caminho, ainda por estar muito escuro e com tempo nublado, dificultou mais as coisas - respirou fundo - senti um nó em minha garganta e comecei a tossi muito, como se algo estivesse preso e não quisesse sair, meu irmão me olhou e começou a dar risada, Lidsay estava quase dormindo de tão bêbada então nem deu atenção, meu peito começou a doer e minha respiração ficou ofegante, de repente senti uma falta de ar extrema e não consegui mais respirar, foi ali que eu tive meu primeiro ataque de asma - notei algumas lágrimas escorrendo de seus olhos - levei de automático as mãos a garganta, acabei perdendo o controle do carro, entrei na contra mão, um caminhão veio em alta velocidade, iria nos atingir, meu irmão puxou o volante para o lado para que não batêssemos o carro, mas não adiantou, como Carson City é uma cidade com muitas montanhas e estávamos em uma, saímos da pista, havia um lago logo em baixo, batemos em uma árvore, o carro capotou, perdemos o controle  e caímos no lago. Eu era o único com cinto, impediu que eu batesse a cabeça como aconteceu com meu irmão e Lindsay, mas fiquei preso, primeiro porque o cinto não queria abrir e segundo porque algo estava prendendo minha perna nas ferragens, olhei para o meu irmão e com a cabeça sangrando e os olhos ainda abertos, ele já estava morto, olhei para trás e Lindsay estava com vidros do carro  por todo o corto, a perna dela também estava presa, não demorou nem um minuto para que falecesse também. Vi os dois morrerem e não tive forças pra tentar me soltar, não conseguia para de olhar ele morto ao meu lado, alguns minutos se passaram e eu acabei me afogando, consegui manter o fôlego por pouco tempo graças as aulas de natação, mas que não foram suficientes...

Ele limpou as lágrimas que não paravam de cair e me olhou, eu também não pude conter as lágrimas e não sabia o que dizer, estava sem palavras. Então ele prosseguiu...

Miguel: O resgate chegou vinte minutos depois quando notaram que havia algo errado no lago, tinha umas peças do carro espalhadas pela pista. Acordei dois dias depois no hospital, minha perna direita estava engessada. Disseram que foi um milagre eu ter sobrevivido, não pela perna mas pelo tempo que fiquei afogado, era pra ter ficado com sequelas, mas não tive nenhuma. Pra ser sincero, eu preferia não ter sobrevivido.. 

Cecília: Se essa história for mentira, eu juro que...

Miguel: Não é, se não acredita nas minhas palavras, olha nos meus olhos, acha mesmo que eu seria capaz de mentir sobre isso? Meus olhos já não transmitem a verdade o suficiente? - secou mais algumas lágrimas.

Cecília: Eu sinto muito - não tive palavras para consola-lo, não tive palavras pra continuar falando sobre o assunto, a história era chocante. 

Miguel: E é por isso que eu acabei me afogando na piscina na festa do Austin, não por eu não saber nadar, porque eu sei, mas porque naquele momento toda a cena do acidente veio na minha cabeça e foi como se tudo estivesse se repetindo, e é assim desde então, eu sempre me afogo dentro d'água e em sonhos, acordo assustado as vezes por pesadelos do tipo, o trauma do acidente...

Eu sabia que naquele momento, nenhuma palavra de consolo serviria, apenas me aproximei dele e o abracei forte, estávamos nós dois chorando ali no quarto, eu por vê-lo naquele estado e ele por relembrar de tudo que aconteceu. 

Miguel: Eu não quis contar sobre isso antes porque eu nunca falo pra ninguém desse assunto, eu sou um assassino, foi por essa causa que nos mudamos para cá, queríamos recomeçar, mas é impossível com as lembranças vindo a todo momento e a dor ainda em nosso peito. 

Cecília: Você não é um assassino, não diga uma coisa dessas! Foi um acidente - o olhei fixamente nos olhos.

Miguel: Nada o que disser vai mudar o que sinto, o sentimento de culpa, de arrependimento..

Cecília: Eu não sei o que dizer, eu realmente sinto muito - o abracei outra vez.

Miguel: Tudo bem...- respirou fundo.

Esperei alguns minutos para que ele pudesse se recompor, suas lágrimas caiam incontrolavelmente, apenas 10 minutos foram necessários para que enfim ficasse em seu estado normal outra vez, mas ainda com os olhos cheios de lágrimas. 

Cecília: O que mais você tem escondido de mim? Por favor, eu só quero que me diga a verdade, eu quero compartilhar os momentos e sentimentos com você, eu prometo não contar a ninguém, eu só quero que confie em mim e diga o que esta acontecendo, porque eu sei que não é só sobre esse seu trauma com seu irmão, há mais coisas que você está escondendo.

Miguel: Eu não posso contar Cecília, eu não quero te magoar, eu não quero te colocar em encrenca, você vai me odiar e posso estar colocando sua vida em risco.

Cecília: Eu não me importo, eu aceito as consequências, eu quero saber, quero te ajudar! Me deixa te ajudar!

Miguel: Eu sinto muito..

Cecília: Não vai mesmo me dizer? - peguei minha blusa caída na poltrona do quarto dele.

Miguel: Não posso Cecília, eu sinto muito.

Cecília: Esquece que eu apareci na sua vida então - vesti minha blusa e abri a porta do quarto para ir embora.

Juro que pensei que ele viria atrás de mim, mas ele não veio, desci as escadas com o sangue fervendo de raiva e ao mesmo tempo decepcionada por ele não confiar em mim, mas tudo mudou de repente quando abri a porta da sala para voltar para casa, quando ele desceu as pressas e gritou por mim.


O diário de Cecília..Onde histórias criam vida. Descubra agora