O que já era previsto

10.8K 1K 956
                                    

Os dois não voltaram para brincar com a molecada naquela tarde ensolarada de abril, apenas o soldado arriscou-se por entre as crianças suadas e alegres para poder pegar os sapatos de seu alemão de volta.

Entraram na confortável casa, abraçados e com a mente nula de qualquer perigo que podiam estar correndo.

Somente com a segurança dos braços fortes de seu soldado, Louis sentia que poderia vencer o mundo. Que viessem Zayn, guerra, exércitos ingleses e Partidos Nazistas! Ele os encararia e diria a eles que não temeria a nada, pois estava com Harry Styles, seu soldado galanteador e insolente.

Ele depositou um último beijo terno na bochecha de seu alemão, antes de ir tomar um banho. Harry insistira demasiadamente para que ele fosse primeiro, mas o moço ralhara com ele - perfeitamente igual a um velho rabugento - dizendo, entre gargalhadas, que ele era o porco mais fedido dali e que aquele cheiro de suor e terra inebriaria a casa inteira, dando um trabalho imenso para sair depois.

E ele ficara no seu quarto. Sozinho com seus pensamentos sentara-se em sua cama que já presenciara tantas coisas - de gripes fortíssimas a convalescência de soldados inimigos - lembrando-se, com desmedido divertimento, a tarde atípica que vivera. Além de ter em casa um homem inglês, ele o levara para jogar futebol com as crianças da rua! Era um maluco mesmo.

Que pensaria Helene Calvert - a velha mais conservadora de toda Rua Frieden, que dirá de toda a Alemanha - caso o visse correndo na rua, caindo e rolando como uma abobora madura, atrás de uma bola furada? Que pensaria Zayn! Oh, Zayn teria um ataque cardíaco!

Louis riu baixinho, agarrando o travesseiro e, inconscientemente, inebriando-se com o cheiro másculo que ele ainda continha.

Ele o beijara novamente! Oh, e com tanto ardor!

Perguntou-se, de súbito, como ficaria sua vida dali em diante. Naquele momento, uma onda de consciência o invadiu, fazendo-o perceber como fora inconsequente.

Não deveria ter agido daquela forma. Por esse e pelo mais óbvio motivo de que aquele homem trazia problemas tão intensos quanto seus belos orbes verdes.

A realidade pegou-o em cheio, acertando-o como uma bala de canhão.

Não poderia ser daquela forma. Não havia meio algum dos dois... tentarem algo.

Não podiam, pois aquilo tudo já estava fadado ao seu fim, antes mesmo do seu começo. Ele voltaria para a Inglaterra - de onde nunca deveria ter saído - e eles nunca mais se encontrariam novamente.

Louis conservava no coração a vontade absurda de nunca ter que vê-lo partir. Seu peito apertava toda vez que imaginava o soldado saindo da sua casa, sem nenhuma mala, com o caminho da estação de trem traçado em sua cabeça. Seu âmago se retorcia a simples idéia de ele poder ser pego por soldados alemães e morto...

Deus! Por que tudo não se clareava em sua cabeça? Não podia ficar com o soldado... mas queria tanto...

- Pronto. Agora você já pode ir tirar esse cheiro de chiqueiro- a voz salpicada de um sotaque exótico e estranhamente lascivo fez-se ouvi no meio de seus pensamentos conturbados. Louis fixou-o por alguns momentos, notando o cabelo molhado; os olhos esmeraldinos com um brilho brejeiro compunham uma expressão suave que terminava num sorriso faceiro e impossivelmente relaxado. Ele estava tão feliz...

Louis permitiu que uma ponta de presunção lhe raiasse no peito. Afinal, ele fora o responsável por aquele sorriso. Recordava-se de como os olhos daquele homem eram, antigamente, envoltos duma sombra negra e medonha que ele odiava. Agora, no entanto, um brilho intenso habitava as feições dele e parecia nunca mais sair dali.

Ensina-me a Viver ❀ Larry VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora