Do outro lado

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Nagold, 17 de dezembro de 1944

Querido Harry,

Eu comecei contando os dias... Depois os meses... Agora, no entanto, eu não conto mais nada, a não ser com a esperança de que você retorne.

Tenho tentado viver uma vida normal, tenho tentado até mesmo, no estopim do meu desespero e saudade, esquecer que você apareceu em minha vida. Tenho tentado esquecer o que você significou pra mim, e o que aconteceu entre nós. Mas eu simplesmente não consigo. Zayn disse que é porque estou preocupado, mas eu discordo. A simples verdade é que eu o amo. Mais do que já amei qualquer outra coisa em minha vida. E tudo o que nos aconteceu está cravado em meu coração e memória, de um jeito que é impossível retirar.

E essa guerra... Essa terrível e maldita guerra que me assola em aflição desde que começou, tirando minha mãe, meu pai... E agora, tirando-me você, dessa forma tão gratuita. Pergunto-me incessantemente quando ela acabará, quando a paz retornará. Eu já não aguento mais. Não aguento acordar todos os dias sem a certeza do que acontecerá, sem a certeza de vê-lo novamente. Sinto falta de acordar com seus beijos a carinhos, sinto falta de cobri-lo no meio da noite, sinto falta de sua voz, de seus olhos, sinto falta de voltar da floricultura com o braço entrelaçado ao seu...

Liam também fora para a guerra e Zayn não poderia estar mais entristecido. No entanto, é compreensível que ele vá, afinal, ele é alemão. Mas você... Oh, soldado tenho tanto medo do que pode estar acontecendo a você!

Lembra-se da promessa que me fez, quando estava prestes a embarcar? De que voltaria vivo? Por favor, soldado... Cumpra essa promessa. Volte para mim.

De seu alemão, Louis.

  ❀ ❀❀ 

Retaguarda polonesa

– Styles, o general está te chamando – Niall Horan comunicou a Harry.

O inglês desviou minimamente seu olhar da pilha de cartas de seu alemão e encarou o outro soldado, indiferente. Já não lhe era mais novidade ser chamado pelo General. Na realidade, durante aquele mês tenebroso em que estava no Exército alemão, ele praticamente já conhecia a sala do General como a palma de sua mão.

Todas as vezes que visitava o velho Hans Vander Field, general das missões da retaguarda,voltava para o alojamento odiando o mundo e quebrando o que via pele frente – o que, numa vez fatídica, fora o nariz de um outro soldado.

Ele estava afogado numa revolta tão grande que quase não havia espaço para outros sentimentos. Revolta por estar ali, revolta por estar longe de Louis... E uma vontade imensa de matar todos e voltar para a Alemanha, nem que fosse a pé.

Como imaginara, aquele alemães imbecis estavam usando-o como informante. Eles sabiam que Harry havia feito parte de um grupo especial para furar o forte bloqueio alemão na Polônia, e estavam, a todo custo, tentando arrancar informações sobre isso. Nas três semanas, Harry fora até a sala do general três vezes e nas três revelou o que sabia e o que lembrava. Tentativas de penetração pela retaguarda fraca, canhões potentes, infiltrados, grupos de soldados pequenos... Ele dissera tudo, porque não tinha motivos para esconder. Ainda tinha a esperança de que, dizendo tudo, eles o mandassem de volta.

Mas não. Há uma semana, o General o chamava para seu escritório, pedindo informações sobre os próximos passos Aliados. E ele já não sabia de mais nada, o que causava a fúria do militar velhote. E Harry nunca fora de engolir sapos, nunca teve medo de peitar seus superiores ingleses e não teria medo de fazer o mesmo com os alemães. Ele não tinha que estar ali, não lhes devia o mínimo de respeito.

Ensina-me a Viver ❀ Larry VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora