Abrigado

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Louis engoliu em seco, olhando ansiosamente para todos os lados, certificando-se que ninguém estava por perto, para poder dar total atenção ao desconhecido.

Tossiu de forma alta demais, sentindo a fumaça penetrar-lhe nas narinas, fazendo o simples ato de respirar tornar-se praticamente impossível. Com um esforço sobrenatural, agarrou os ombros largos do homem e o arrastou para um pouco mais longe do avião caído. Semicerrou os olhos, tentando enxergar, ao longe, os soldados alemães, agradecendo aos céus ao notar que eles já estavam longe uma hora dessas, provavelmente jogando o corpo do outro inglês em algum lugar.

Suspirou. Desabotoou os botões da farda do desconhecido, e passou as mãos pela barriga e costela, procurando por ossos quebrados. Não encontrou, porém o enrubescimento foi quase imediato, quando notou que havia acariciado um homem que nunca vira na vida.

Ralhou consigo mesmo por ainda conseguir pensar bobagens, mesmo com um homem quase morto diante de si.

Notou os lábios dele – que já estavam roxos – tremerem, para logo depois se entreabrirem, emitindo um gemido agoniado. Ele estava com frio, claro.

Louis agarrou-o novamente – mas, desta vez, pelas axilas – e o elevou, apoiando a cabeça dele em seu peito. Ofegou quando notou um corte entre os cabelos e outro na testa, além de várias pequenas queimaduras.

Os olhos dele não voltaram a abrir e mais nenhum outro som foi proferido por ele, o que levou Louis a pensar que ele morrera. Pegou o pulso dele e aliviado notou uma pequena pressão naquela área. Ainda não estava morto.

Olhou para a distância entre o pasto e sua floricultura, amaldiçoando eternamente Zayn, que resolvera inaugurar seu empreendimento tão longe. Não podia simplesmente deixá-lo lá, agora que o tirara de dentro do avião, mas, por outro lado, o risco que correria ao levá-lo para sua floricultura era enorme, afinal, os soldados voltariam a qualquer momento. Eles poderiam descobrir suas intenções de refugiar o inimigo e ser preso por 'traição ao país'.

Olhou novamente para os lados e, tendo a plena certeza de que a rua estava deserta, levantou-se rapidamente, levando consigo o corpo enorme do soldado.

Cambaleou. O homem era muito grande. Tinha pernas torneadas, peito musculoso, braços grandes e quase 1,90 de altura e ele, por outro lado, não chegava nem aos 1,70.

Gemeu frustrado, percebendo que não iria conseguir sair de lá, se continuasse com aquela ideia de carregá-lo no próprio colo.

Passou as mãos pela cintura larga dele, retirando, com uma dificuldade excessiva, as armas destruídas que lá se encontravam.

De súbito, teve uma ideia.

Deitou-o novamente na grama e saiu correndo de lá, voltando para sua floricultura e arrancando com a caminhonete, rumando novamente para o misterioso.

Sentiu o peito comprimir quando notou que o homem mexia a cabeça de um lado para o outro, provavelmente tendo alucinações devido à dor.

Arrastou-o até a porta do passageiro e colocou-o no banco, fechando a porta em seguida, evitando que o soldado desmaiasse e caísse de cara no chão. Deu a volta e, com a respiração falha, assumiu a direção, rumando novamente para sua floricultura.

Quase vomitou o coração – de tão acelerado que esse ficara – quando vira a Senhora Weber – dona da loja de doces, próximo a sua floricultura – lançar um olhar curioso demais na direção da caminhonete que saia, literalmente, do mato. Rezou para que ela não tivesse visto o homem ao seu lado, e praticamente implorou para que ela não tivesse visto que esse mesmo homem trajava uma farda com uma bandeira inglesa.

Ensina-me a Viver ❀ Larry VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora