Melhor do que Jesse Owens!

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- Eu odeio domingos - Louis reclamou, esparramando-se no sofá, ao lado do soldado.

Os dois já haviam mudado completamente a arrumação da sala, já haviam pintado a parede do porão e já haviam limpado os quartos, mas o dia não havia nem começado direito.

-Eu também - o inglês disse, se ajeitando no sofá até que Louis estivesse quase deitado em seu peito. Eles sentiram aquela corrente elétrica e todas as outras sensações prazerosas os atacando, mas tentaram ignorar.

Não houve malícia na posição na qual ficaram por minutos longos e aprazíveis, foi somente algo natural, como se já tivesse de acontecer há muito tempo.

- Nunca tem nada pra fazer - Louis resmungou depois de um tempo. Remexeu-se um pouco até que sua cabeça pudesse repousar na curva do pescoço do outro.
Pode concluir que o corpo másculo e quente dele era infinitamente melhor do que qualquer travesseiro. Riu baixinho com seus pensamentos, mas, daquela vez, não se importou em praguejar-se.

- Você já desarrumou e arrumou essa casa mais de dez vezes... e acha mesmo que não tem nada pra fazer? - Harry sussurrou, rindo.

Ronronou uma concordância e se aconchegou ainda mais ao peito dele, não se importando realmente. Deixaria esse tipo de preocupação para depois, para o dia de amanhã. No momento em que vivia, nada mais importou.

- Estou feliz. - Harry confidenciou num murmúrio risonho, enquanto enfiava seu nariz nos fios do cabelo dele.

- E você não era antes? - Louis indagou, desfrutando da carícia que o soldado fazia.

- Não. - Respondeu ele, com tanta convicção que chegou a assustá-lo. - Se fui, não me lembro.

- Isso é tão contraditório - suspirou ele. - Muitos venderiam a alma para entrarem na Guerra.

- E tenho certeza que, se conseguissem entrar, teriam que vender outra coisa par sair. - O soldado riu sem humor algum.
Outro silêncio confortável se instalou. Aquele silêncio gostoso que só eles sabiam como fazer. As palavras não precisavam ser utilizadas, era como se não tivessem valor.

O silêncio era quebrado somente pela respiração ritmada do inglês. Louis gostava de ouvi-la. Era como se, de alguma forma, aquele som a acalmasse. Remexeu-se levemente no colo do soldado, inebriando-se de forma inexplicável com o cheiro másculo e levemente agridoce proveniente dele. Era um cheiro poderoso, que Louis sabia pertencer somente a ele.

Harry sorriu quase que imperceptivelmente e estreitou o alemão ainda mais em seus braços, mantendo-o protegido da forma que ele ansiava. Perto de si.

Aquilo que faziam - ainda que inocente - era uma coisa feita somente por pessoas que já tinham algum mínimo de comprometimento com a outra, mas a intimidade psicológica entre ambos era tão intensa e verdadeira que, certamente, superava todo e qualquer casamento arranjado ou com pouca afeição daquela época.

- Como você sentia? - o alemão sussurrou por final. - Naquele lugar.

Harry sentiu um arrepio perpassar por sua coluna ao se lembrar de seus assombrosos dias no Exército. Não queria recordar-se daquilo novamente, mas sabia que, contando ao alemão sua vida anterior, a confiança - já tão presente ali - seria triplicada.

- Eu não me sentia - respondeu simplesmente. - Era como se... eu não tivesse permissão para ter esperanças de algum dia sair de lá. Sabe... Como se eu não tivesse perspectivas de algum dia toda aquela matança acabar... Ainda acho que não acabará.

- Por que acha isso? - perguntou ele soltou um sussurro cauteloso.- Não houve fim da primeira vez?

- E não houve um recomeço? - perguntou ele retoricamente, sorrindo sem humor. - Se acabar, vai começar novamente. É um ciclo, alemão. O mundo permanecerá em guerra, porque os humanos são burros. É simples.

Ensina-me a Viver ❀ Larry VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora