Acidente

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Base Militar Inglesa

Harry mantinha o rosto lívido enquanto caminhava vagarosamente até a casa amadeirada, onde era improvisado o escritório do coronel. A única coisa que denunciava isso era a placa ridícula, onde era entalhado 'Coronel Adams'.

Ele já previa o que o coronel tinha para falar com ele. Outra missão é claro.

Embaixo de seus olhos verdes, já estava mais do que evidente as manchas assustadoramente arroxeadas, que denunciava as incontáveis noites mal dormidas. Estar naquela base militar era o mesmo que renunciar a todo e qualquer luxo dado a qualquer ser humano, como medo, compaixão e, claro, liberdade.

Estava submisso às ordens daqueles malfeitores, sem nem poder recusar as missões dadas à ele, afinal, mesmo que de forma infantil, isso seria considerado traição. E Harry sabia o que acontecia com os traidores.

A brisa era gélida sobre sua pele pálida, enquanto, novamente, Harry tentava ver um fim para aquilo. Não para seu próprio bem, claro, mas pelo bem das gerações futuras. Não era justo para as crianças inocentes crescerem naquele tipo de ambiente hostil.

Ele mesmo demorara em se acostumar a toda aquela brutalidade. Chegara ao Exército no começo da Grande Guerra, onde a cólera das nações era ainda mais grandiosa, e ele – que crescera no interior inglês, rodeado por amor e compreensão – se assustara com o que vira. Destroços, feridos, armas, sangue. Dor.

Mas, depois do primeiro bombardeio que presenciara, Harry começara a se esquecer completamente dos sentimentos bons, não tinha por que praticá-los naquele lugar, de qualquer modo.

Forçou-se a caminhar mais alguns passos até parar na frente da porta inopinada. Suspirou, concentrando toda sua pouca paciência dentro si e, de forma nada sutil, adentrou ao local, com sua postura imponente e arrogante, ainda que submisso àquela gente.

– A missão? – perguntara direto ao homem de cabelos grisalhos e rugas profundas que estava sentado atrás de uma grande mesa de mogno, infestada de papéis. Ele tinha um sorriso satisfeito nos lábios enquanto mirava o rapaz.

– Você vai para um bombardeio em Nagold, Alemanha. – Informou o coronel, sem rodeios.

Harry crispou os olhos, fitando o responsável pela merda de vida que era lhe dado com um ódio repentino dentro de si.

Não conhecia Nagold – afinal, as únicas vezes que fora para Alemanha, participara de bombardeios em Berlim –, mas sabia que a cidade citada era pequena e de interior e, consequentemente, não apresentava riscos. Sabia que, se esse bombardeio fosse concretizado, apenas inocentes morreriam.

– Isso não faz sentido – contestou. – É uma cidade pequena e duvido que haja algum tipo de armamento escondido lá. – Terminou com a voz baixa, porém decidida.

O homem atrás da mesa sorriu sadicamente e, em claro gesto de aprovação, balançou a cabeça positivamente. Harry era, de longe, o melhor ali. Não só em combate, mas também nos adjetivos que deveriam caracterizar qualquer bom militar daquela época. Havia completado, com maestria, todas as missões que lhe foram entregues sem medo algum de olhá-lo nos olhos e dizer algo daquele calibre, num sinal claro de que tinha suas próprias opiniões e não seria manipulado.

Harry era seu soldado e o queria como o mais forte dali, mesmo que ele tivesse apenas vinte e dois anos.

Seu maior erro era óbvio. Harry não queria nem estar ali, tampouco ser o mais forte.

– E é por isso mesmo que você deve acabar com aquilo – disse o homem calmamente. – Acha que aquela cidade despertaria algum tipo de desconfiança nos inimigos? É um esconderijo perfeito, Styles. As coordenadas estão nesse papel. – Mostrou os desenhos que só eram entendidos pelos homens dali. – Você irá partir daqui a algumas horas. Ah, chame o Grimshaw, também. Você não vai conseguir sozinho.

Ensina-me a Viver ❀ Larry VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora