Ensina-me a Viver ❀ Larry Version

Primeiro Contato

– Eu volto a repetir que sua ajuda veio muito bem a calhar, Harry – Liam repetiu novamente, rindo descrente. Harry concordava, definitivamente.

Não sendo prepotente – longe disso –, mas quando Liam se referiu aos seus ajudantes como 'molengas', ele não estava exagerando. Os homens arrumavam todo e qualquer tipo de desculpa para não exercer o serviço para o qual eles eram pagos. Harry sabia que aqueles homens não aguentariam nem um mês na guerra e que não teriam medo na hora de inventar alguma doença contagiosa pra poderem ser exonerados e voltarem pra casa.

Hilariante.

Por fim, o trabalho não estava sendo difícil e a convivência com Liam também não. Tudo bem que aquele homem falava mais rápido do que um feirante, mas – com muita concentração – Harry conseguia entender o que ele dizia. O alemão tinha uma aura muito animada e sempre arrancava sorrisos de Harry por conta das bobagens que dizia. Lembrava-o vagamente de Nicholas, mas Harry tentava a todo custo não pensar nisso, pois, por mais que doesse, o amigo representava sua vida antiga. Aquela vida que ele já desistira de viver.

Acabara percebendo que Liam realmente gostava do amigo de Louis, porque, toda vez que o nome dele era mencionado, o soldado percebia os olhos do outro brilharem e os ombros dele relaxarem instantaneamente. Ao que parecia, só faltava coragem de admitir o que sentiam. Ou, talvez, eles estivessem confusos e não soubessem o que era que tinham.

Ele talvez tenha mencionado uma ou duas vezes o fato dele ser primo da mãe de Louis, e isso o ajudou a perceber a lorota que foi contada, para que ele pudesse confirmar. O modo como Liam acreditou rapidamente em toda aquela mentira deixou Harry se divertindo por dentro. Tinha a plena certeza que, se estivesse numa missão para o Exército e, nessa, ele tivesse que aniquilá-lo, o faria com a maior tranquilidade que lhe fosse possível, tamanha a confiança que o alemão depositou nele.

Mas aquilo não era uma missão para o Exército. Era um trabalho honesto, digno e que selava sua nova vida, longe das batalhas, longe do sangue e longe daquilo tudo que ele tanto ansiou pra largar.

Harry chegava em casa mais cedo do que o alemão e ainda ficava uns bons longos minutos esperando-o. O que era ótimo, porque ele, estranhamente, não gostava da ideia de Louis ficar sozinho em casa, principalmente com todas aquelas Bases Militares por perto. Ele bem sabia que o inimigo poderia atacar da maneira mais sorrateira possível e que seu Louis era um alvo super fácil. Ele era inocente demais, sempre acreditava no melhor das pessoas e dava confiança a quem não devia. Certamente, atacá-lo seria fácil como roubar doce de criança.

– Então... O que você fazia antes de vir para Nagold? – Liam perguntou. Mas não era como se fosse uma pergunta feita por algum inimigo, para obter informações importantes. Era curiosidade, Harry percebia. Tudo inocentemente.

– Eu meio que... – Harry começou, vasculhando sua mente à procura de alguma história convincente. – Estava cursando medicina. – E deu um sorriso satisfeito. Não era totalmente mentira, afinal, ele iria mesmo cursar medicina antes de ir pra guerra. O que acabou se tornando uma ironia sem tamanho; ele, um verdadeiro assassino, cuidando de alguém? Não daria muito certo.

– Oh – Liam exclamou totalmente surpreso. – E deixou tudo lá, só pra dar os pêsames pra Louis?

– Não exatamente. – Respondeu rapidamente, se arrependendo logo depois, porque não via como continuar. – Hm... Eu não estava indo para as aulas há algum tempo, você sabe... A guerra e tudo mais.

– Entendo. – O outro disse simplesmente, não parecendo realmente entender. – Vai ficar muito tempo?

E Harry parou, sem saída. O martelo com o qual ele pregava alguns pregos numa madeira clara parou abruptamente, dando a certeza de que o inglês estava numa berlinda. A verdade era que ele não iria ficar muito tempo, mas o que imperava dentro de si era o desejo de ficar pelo resto de sua vida ao lado de Louis.