Aproximando-se

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Ao longo daqueles cinco dias que se arrastaram lentos como uma tartaruga, Harry não conseguia permanecer acordado por três minutos contínuos. Parte disso se devia aos incontáveis calmantes e analgésicos que Louis enfiava-lhe garganta abaixo, e outra parte a dor excessiva que o acometia. Os ferimentos incomodavam e os tampões que continuavam em cima de sua pele o impediam de descansar.

Toda vez que acordava e não via o rapaz no quarto, ele se pegava fitando o teto e pensando no por que dele tê-lo abrigado. Em meio a grunhidos de dor, o soldado ponderava as possibilidades, mas sempre se pegava frustrado ao não achar explicação plausível pelo ato de solidariedade. Ele não o conhecia, não sabia de suas intenções, e, pior, sabia que ele era de nacionalidade inimiga de seu país. Claro que isso poderia ter sido 'compaixão', mas o simples pensamento provocava uma estranha vontade de rir no soldado. Essa palavra não existia no dicionário do assassino. Depois de anos vendo torturas e mortes, o vocabulário de Harry resumia-se a 'violência', e qualquer outro tipo de sentimento que andasse no caminho contrário a esse provocava estranhamento nele. Não conseguia enfiar na sua cabeça dura que alguém poderia abrigá-lo apenas por querer ajudá-lo.

Sabia que não existia alguém bom a esse ponto.

O pior de tudo era ver a preocupação que o estranho tinha para com ele. Toda noite, ele trazia leite e remédios pra ele, sorrindo docemente ao vê-lo tomar tudo num gole só. Seus olhos arregalavam toda vez que ele se inclinava e o cobria com uma manta grossa, deixando-o o mais confortável possível.

Harry, de qualquer forma, poderia classificá-lo somente com uma palavra: inocente.

Abrira a porta de sua casa para um soldado ferido, sem querer saber de onde viera, ou ainda sem se preocupar com o que era e com o que havia feito no passado. Cedera seu quarto, cobertas, comida e ainda arrumara um médico para que ele pudesse se recuperar mais rápido. O desconhecido podia, facilmente, ser vítima de um inimigo sem nem perceber.

Isso tudo era um grande desastre. Porque ele sabia quais eram as conseqüências para quem traía o país.

Principalmente lá, onde todos levavam a guerra tão a sério.

O pior de tudo era pensar que todo o risco que o alemão corria era gratuito.

Sim, porque Harry nunca quis ser salvo. Aos poucos, as lembranças da hora do acidente ficavam mais nítidas, e ele conseguia recordar-se de tudo sem ter que se contentar com imagens foscas e difundidas.

Lembrava-se da briga que tivera com o coronel, por conta de sua 'pequena demonstração de poder' na tenda de armamentos, e de ter saído cuspindo fogo, direto para a tal missão de bombardeio em Nagold. Recordava-se com clareza de ter brigado mais uma vez com Nicholas e de quase ter descarregado sua arma na testa de seu único amigo.

Amaldiçoara milhares de vezes sua porcaria de vida e sua maldita condição de subordinado daqueles inúteis. Entrara no avião com a cara fechada e sem a mínima vontade de fazer aquela desgraça de missão dar certo. Foi exatamente por isso que não obedeceu a ordem de Nicholas, e não jogou a bomba na hora certa, com a conclusão de fazer o avião perder altitude, raspando na grama e se espatifando assustadoramente na mesma. Mas, claro, com a funesta sorte que o rondava, todo o impacto da queda foi no lado do Grimshaw, matando-o.

Céus! Nem a morte o queria!

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– Mas não seria o caso de mandá-lo a um hospital? – Louis perguntou, mordendo os lábios de nervoso. Dr. Parkers negou.

– Repouso. É somente isso que recomendo a ele, senhor Tomlinson. – Dr. Parkers disse, assinando uma nova receita de medicamentos que seriam comprados para o soldado. – Dê bastante líquido quente a ele... A perna vai continuar doendo até que eu venha aqui novamente tirar a tala e colocar o gesso... O que vai ser difícil já que ele parece ser um teimoso assumido. – O médico de traços tipicamente alemão riu, e lembrou-se do sacrifício que fora colocar os curativos e a tala naquele homem enorme.

Ensina-me a Viver ❀ Larry VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora