Sem saída

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No mundo, havia algo de intimidador e hostil, algo que fazia com que as pessoas tivessem medo da felicidade, como se ela fosse tão vulnerável que pudesse ser-lhe arrancada com um único puxão.

Louis, ainda que não aceitasse, sempre teve consciência disso. Ele era feliz quando criança, com seus pais e seu cachorro, vivendo tranquilamente em sua modesta casinha de Nagold. Depois, abrira sua amada floricultura e dela conseguia um dinheiro razoável e satisfatório para suas necessidades e as de sua humilde família. Entretanto, sua mãe lhe fora tirada brutalmente, de uma forma sombria e que nunca imaginava que poderia acontecer consigo.
Ele tentara esquecer, era novo e podia seguir em frente. Tinha razões para isso, afinal seu pai – tão debilitado por um abatimento profundo – precisava de sua ajuda. Mas, aí, apenas dez meses depois, seu pai também o deixava para sempre.

Ele chorara, se debatera, amaldiçoara o mundo... mas seguira em frente. Tinha a floricultura, tinha Zayn e suas maluquices; isso já parecia perfeitamente bom para que servisse de motivo para seguir em frente. E, então, aquele soldado caia, literalmente, dos céus em seus braços, precisando de cuidados e precisando de afeto. Harry entrara como um furacão em sua vida, fazendo-o reviver sentimentos há tempo esquecidos, ou até mesmo nunca experimentados. Ele o fazia flutuar em felicidade e em júbilo... Fazia com que ele se sentisse amado e protegido, como se nada no mundo fosse páreo para aqueles dois braços fortes e robustos.

No entanto, de repente... Ele o sentia escapando-lhe pelos dedos, e sentia-se impotente diante disso.
Desesperava-se em saber que eles haviam sido descobertos. E, daquela vez, não havia nenhuma dúvida a cerca disso. Porque, da vez em que o soldado alemão viera ver seu porão, ele se confortava ao pensar que, talvez, ele realmente tivesse aparecido lá apenas para ver o porão, sem realmente desconfiar de nada.
Mas dessa vez, tudo era extremamente diferente. Já sabiam de tudo e ainda se dignaram em avisar, o que deveria servir para, de alguma forma confortá-lo, mas nada era suavizado. Porque era uma questão de tempo. Uma questão de tempo até que arrombassem novamente sua porta, com metralhadoras em punho, com todos os equipamentos de uma operação de guerra.

Uma questão de tempo até que seu soldado fosse preso e uma questão de tempo para que o matassem também. Talvez não fizessem isso imediatamente... talvez resolvessem levá-lo para algum campo de prisioneiros de guerra, onde o
obrigariam a trabalhar em linhas férreas, na manutenção pesada da mesma... Talvez nunca mais lhe dessem comida e ele talvez contraísse tifo, morrendo
lentamente, completamente a míngua.

E quanto a ele? Louis não sabia o que fariam consigo, mas tinha a certeza de que seria algo muito ruim. Eles iriam levá-lo para outro campo de trabalho forçado, onde desempenharia funções demasiadamente pesadas para seu pequeno corpo frágil, mas... Será que eles não entenderiam sua posição? Não entenderiam que ele havia feito uma boa ação para alguém que precisava e que simplesmente... Apaixonou-se por esse alguém?
Não! Não entenderiam. Não seriam capazes.

Somente enxergariam a guerra e o fato de que Harry era inglês!
A guerra! Guerra! Guerra!
Essa maldita guerra que fora a causa de todos seus problemas, desde a morte de seus pais, até a perda da única pessoa que se importava com ele em anos...

Sua casa havia ficado um caos. A mensagem em escarlate pintada no chão de sua sala havia sido facilmente limpa com um pano velho e com água. Seus móveis revirados não tinham dado perda total, mas agora só lhe havia restado um sofá, pois o outro tinha sido completamente estragado.
No seu quarto, ele arfou angustiado ao ver os lençóis rasgados e seus papéis referentes a floricultura completamente revirados pelo aposento. E, no quarto que ultimamente vinha dividindo com seu soldado, as roupas tinham sido tiradas do armário para serem jogadas pelo local.

O soldado havia notado que a porta não tinha sido arrombada e perguntou-se por um momento como que haviam conseguido entrar lá, mas ele logo teve sua resposta ao ver a janela com o cadeado depredado.

Ensina-me a Viver ❀ Larry VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora