Acordo me sentindo enjoada, meus olhos estão pesados, tento abri-los algumas vezes, mas fracasso. Uma luz fraca paira sobre um teto branco, quando finalmente consigo permanecer de olhos abertos, tento me levantar, porém uma pontada na minha barriga me faz deitar novamente, péssima hora para ter cólica.
Olho para os lados e vejo uma poltrona vazia ao lado da minha cama, e aqui estou eu novamente em um hospital, e agora qual foi o motivo? Lembro-me de estar em casa, Richard confessando, Matt chegando, e Clarinha. Ai meu Deus, minha irmã! Ela saiu muito brava, preciso encontrá-la, pedir desculpas. Tento me levantar mais uma vez, mas dessa vez braços fortes me seguram.
– Ei July relaxa, você precisa descansar! – Matt fala com o olhar preocupado.
– Estou bem Matt, o que aconteceu? Porque estou aqui? Cadê a Clara?
– Ei uma pergunta de cada vez! – ele fala franzindo a testa.
– Desculpa, mas me responde, você falou com ela?
– Não July, mas isso não importa agora, o que importa é sua saúde, você desmaiou depois da briga com Clara, eu e Mary ficamos preocupados.
– Eu sei meu amigo! Mas por que estou aqui? Foi apenas um mal estar.
– Não foi apenas isso, os médicos fizerem alguns exames, o resultado sai em uma hora, enquanto isso você vai ficar tomando soro – reviro os olhos para o que acabei de escutar
– Matt eu preciso sair daqui, tenho que falar com Clarinha, você viu como ela saiu de casa, e se alguma coisa acontecer com ela? – vejo culpa em seus olhos.
–A culpa foi minha, eu deveria ter ido atrás dela, mas também não podia te deixar, Mary estava histérica.
– Eu estava o que bonitão? – Mary fala entrando no quarto de surpresa, assustando a mim e Matt.
– Achei que você já tinha ido embora! – falo quando ela se aproxima sentando na ponta da cama, enquanto Matt se afasta e se senta na poltrona.
– Estava perguntando sobre seus exames, daqui a pouco o médico vem falar o resultado, você me assustou.
– Desculpa não foi minha intenção, minha pressão anda caindo muito ultimamente.
– Nem vem com isso Júlia, nós duas sabemos exatamente o que você tem – aqueles olhos azuis me encaram, e uma sensação de familiaridade me invade.
– Mary não sei do que você está falando! – falo desviando o olhar.
– Olha você querer fugir não muda nada, você precisa se cuidar, dessa vez não só por você – ela me fala e sinto minha visão ficar turva pelas lágrimas que tento reprimir.
Não foi só um sonho, a cartela de pílulas quase cheia, ai meu Deus como não percebi antes? Estava tão preocupada com meu sofrimento, que me esqueci de coisas simples.
– Do que vocês estão falando? – Matt pergunta intrigado, olhando de mim para Mary.
– Se eu estiver certa, e eu tenho certeza que estou, os exames de July vai mostrar que logo terei meu primeiro sobrinho – Mary fala transbordando de felicidade.
Olho para o lado, e meu amigo me olha sorrindo, encosto no travesseiro e fecho os olhos decidindo se choro por não ter Fernando nem minha irmã aqui, ou sorrio pela nova alegria que a vida está me dando, isso claro se Mary estiver certa. Toco minha barriga e uma lágrima escapa dos meus olhos, sinto mais duas mãos sobre a minha, abro os olhos e vejo meus amigos me olhando e sorrindo, não tento mais segurar as lágrimas que agora molham todo meu rosto.
Escutamos uma batida na porta, e Mary se levanta da cama pedido para quem bate entrar.
– Como vai nossa paciente? – um médico que segura alguns envelopes na mão pergunta.
– Estou ótima doutor, já posso ir embora? – mal termino de falar e sou metralhada pelos olhares dos meus amigos, o médico sorri quando me encolho na cama e resmungo.
– Calma Júlia se estiver tudo certo com seus exames, você pode ir hoje mesmo.
Sento-me na cama nervosa, quando o médico se aproxima e toma o lugar da Mary aos pés da cama, ele abre os envelopes, isso parece demorar uma eternidade, começo a me remexer nervosa.
– Você prefere conversar a sós? – o médico pergunta e meu coração acelera.
– Claro que ela prefere que a gente fique não é mesmo July? – Mary interfere na conversa e o médico lança um olhar de reprovação em sua direção.
E se Mary estiver errada? E se na verdade eu estiver doente? Ou algum problema sério? Se for realmente isso não quero que eles saibam.
– Prefiro conversa a sós doutor – o médico olha para meus amigos e pede que saiam. Mary insiste em ficar, mas Matt consegue convencê-la a sair.
– Você está bem? Ficou muito pálida de repente – o médico fala se levantando para me examinar.
– Estou bem, só diga logo o que eu tenho, e se é muito grave – ele me olha e franze o cenho.
– O que você tem não é grave, muito pelo contrário é sinal que você está em perfeitas saúde, você está grávida, parabéns!
Ouvir as desconfianças de Mary é uma coisa, ouvir o médico me dar certeza disso é outra completamente diferente. Grávida! Começo a chorar descontroladamente, meus soluços fazem eco na sala silenciosa, até penso que o médico saiu e me deixou sozinha com meus pensamentos confusos, mas sinto uma mão pousando sobre as minhas, o médico sorri para mim e acabo fazendo o mesmo, ele deve pensar que sou doida.
– Desculpa, é só que eu não esperava essa notícia.
– Olha sei que é difícil, mas um filho pode mudar tudo na sua vida, seu jeito de pensar, seu jeito de ver o mundo, o seu filho será sua razão de viver, mesmo agora tudo isso sendo confuso, não tome nenhuma decisão precipitada – encaro o médico sem entender a onde ele que chegar, até que suas palavras começam a fazer sentido.
– Eu não estou chorando por isso, o senhor está pensando que vou tirar meu bebê? Eu nunca faria isso, estou surpresa sim, mas é meu filho e mesmo minha vida estando de ponta cabeça nesse momento, meu filho é a minha única certeza de tudo – falo rápido e chorando, o médico me olha assustado.
– Ei calma, não chora, não quis te ofender falando isso. É só que você estava chorando, por um momento pensei isso, mas agora tenho certeza você irá ser uma mãe incrível.
– Me desculpe, não sei o que está acontecendo, mas ultimamente tudo me faz chorar – falo fungando enquanto mais lágrimas molham meu rosto.
– Não se preocupe isso é normal no estado em que se encontra, agora voltando a falar como médico procure o mais rápido possível um obstetra para acompanhar sua gestação. Você está muito fraca, perdeu sangue quando chegou ao hospital, então você precisase cuidar por você e pelo bebê – suas palavras me assustam, e por instinto que até alguns minutos não sabia que tinha, minhas mãos pousam em minha barriga.
– Meu filho está bem?
– Ei não se preocupe, mas o pré-natal é importante tanto para a gestante quanto para o feto, não se preocupe vocês dois vão ficar bem. Vou lhe entregar o cartão de um amigo meu e amanhã mesmo você pode ir que ele irá atendê-la – ele fala se levantando da cama.
– Obrigada doutor?!
– Michel.
– Mais uma vez, muito obrigada. Posso ir embora agora?
– Pode sim, mas não se esqueça de ir amanhã, evite emoções fortes, fique bem Júlia e se cuide – ele sorri para mim e sai da sala.
Encosto no travesseiro e acaricio minha barriga, choro por saber que irei dar a vida a um ser, não tenho mais o Fernando, mas irei levá-lo para sempre comigo, um pedacinho dele vive em mim. Meu Deus não permita que eu erre com essa criança, como errei com minha irmã, eu preciso ser uma boa mãe, já que o pai dele não estará aqui. O que eu vou fazer? Tenho que contar para ele, mas ele não ligou nem para mim, imagina para o filho.
– Sabe filho, você vai ter uma mamãe meio brava, talvez um pouquinho teimosa, mas que já te ama demais, e prometo nunca vou deixar ninguém te fazer mal. Vou cuidar e te amar muito, acima de tudo te dar muito carinho – falo acariciando minha barriga, grávida? Acho que vai demorar um pouco para a ficha cair.
– O que o médico disse? – Mary entra no quarto apressada e para no meio da sala, me olhando, uma lágrima escapa dos seus olhos e ela se aproxima me abraçando apertado.
– É, você estava certa! – ela sorri e chora ao mesmo tempo, e se afasta de repente.
– Ai meu Deus te machuquei?
– Não Mary, não se preocupe.
– Então vou ser titio? – Matt que eu nem tinha visto fala se sentando na ponta da cama e apertando minhas mãos.
– Que doideira isso né? – ele me olha e sorri.
– Parabéns maninha, estou muito feliz por você – encaro seus olhos e o puxo para um abraço, e choro em seus braços.
Chego em casa e está tudo escuro, meu coração se aperta, preciso saber onde minha irmã está. Mary me trouxe já que Matt recebeu uma ligação e saiu apressado dizendo que tinha que resolver uma coisa importante, tomo banho e me assusto quando toco minha intimidade e vejo sangue, mas logo lembro que o médico disse que eu cheguei sangrando ao hospital, por isso o sangue, amanhã preciso ir ao obstetra.
Saio do quarto depois de colocar uma calça folgada, e uma camiseta, encontro Mary na cozinha preparando sanduíches.
– Você está bem? – ela me olha preocupada.
– Estou sim, amanhã irei ao médico logo cedo.
– Vou com você.
– Não Mary, esqueceu que amanhã é a reunião? Precisamos provar a inocência de Clara – olhos azuis me encaram.
– Depois do que houve, achei que você não ia querer mais continuar com isso.
– Se eu não continuar o dia de hoje não vai ter válido a pena.
Mary concorda, e me entrega um prato com um sanduíche e um copo de suco de laranja, nego com a cabeça empurrando o prato, só o cheiro de peito de peru me causa enjôos. Ela cruza os braços, me dando um sermão que preciso me alimentar, abro os sanduíches tiro o peito de peru, e com muito sacrifício dou algumas mordidas.
Depois de se certificar de que irei ficar bem, Mary finalmente vai embora, antes de deitar pego meu celular para tentar ligar para Clarinha, mas antes de completar a ligação recebo uma mensagem de Matt, dizendo que está com ela e que está tudo bem. Respiro aliviada, agradeço a ele por me avisar, e logo o sono toma conta do meu corpo, e durmo profundamente.
Acordo com o som do meu celular, o pego ao lado da cabeceira meio sonolenta. É Mary me dizendo para não esquecer da consulta que ela já ligou e marcou para as oito e meia, agradeço e ela me questiona quando irei falar para o Fernando. Digo para ela deixar esse assunto comigo, agradeço tudo o que ela está fazendo por mim, mas esse é um assunto meu.
Ela muda de assunto, me falando que a reunião está marcada para as dez, me pergunta se eu quero ir, falo para ela me encontrar depois da consulta.
Ela me avisa que na verdade está pronta para ir comigo, reviro os olhos e desligo o telefone.
Saio da cama e vou direto tomar um banho, coloco um vestido soltinho, e uma sapatilha, deixo meus cabelos soltos, pego meus documentos, minha bolsa e sigo para a cozinha, tudo está me enjoando, tomo um copo de suco e pego uma maçã para ir comendo no caminho.
Pego um táxi e sigo para a clínica que o doutor Michel indicou-me, Mary já me espera na entrada, nos cumprimentamos e entramos.
Faço minha ficha, depois de me pesar, me sento e aguardo.
Depois de alguns minutos escuto o médico chamando meu nome, olho para Mary que sorri, ela se levanta e entra comigo.
– Prazer sou o doutor Henrique, Michel me ligou e falou que você viria.
– Ele foi muito gentil comigo.
–Você trouxe os exames que fez no hospital? – ele me pergunta e tiro de dentro da bolsa um envelope entregando a ele.
– Bem aparentemente seus exames estão normais, mas Michel me disse que você teve um sangramento, isso pode não significar nada, mas como precaução irei fazer um ultrassom. Entre naquela sala e tire suas roupas, em cima da maca tem um avental, vista e me avise quando estiver pronta – o médico fala apontando para uma sala ao lado da sua.
Levanto-me e faço exatamente o que ele me disse, ele entra, e me dá algumas instruções.
– Desça mais até ficar na ponta da cama, coloque uma perna de cada lado, o exame é meio incômodo como você já deve saber, mas se sentir dor me avise tudo bem?
– Sim doutor.
Ele começa a introduzir o aparelho em mim, e me sinto constrangida. Esses exames são sempre horríveis.
Depois de alguns minutos ele aponta para uma tela ao lado da cama, não entendo e nem vejo nada apenas uma tela toda preta, quando digo isso a ele, ele sorri e circula um pontinho ao meio de toda a tela preta.
– Esse é o seu filho – ele me olha sorrindo, olho para o monitor e um soluço escapa dos meus lábios, sorrio e choro ao mesmo tempo, meu filho, no meio de tanta coisa ruim, a minha maior alegria.
Assusto-me ao ouvir um barulho alto, meus olhos se arregalam e o médico se apressa a falar.
– Calma! Esse é o coração do bebê.
Coloco as mãos na boca, e uma alegria toma conta de mim, agora a ficha caiu, vou ser mãe, não tento segurar as lágrimas, pois essas são de alegria.
Tiro minhas mãos da boca, e estico meu braço tocando com as pontas do dedo o monitor que mostra meu pontinho, o pontinho que hoje me ensina o significado de amor incondicional.
Saio do consultório médico com guias de alguns exames e receitas de vitaminas, o médico me disse que estou de sete semanas, e que sentir cólicas é normal, me fez algumas recomendações, mas o que me deixou mais feliz foi saber que meu filho está bem.
Mary fica o caminho até a empresa de cara feia, dizendo que não foi justo, ela também queria ouvir o coração do sobrinho. Sorrio com sua birra, mas explico que ia ser constrangedor tendo uma amiga vendo um exame tão íntimo, ela fala que nos próximos vai entrar em todos.
Ela estaciona em frente à empresa, e seguimos juntas até o elevador, sinto um frio na barriga por saber que vou encontrá-lo.
– Mary como vai ser? – pergunto assim que apertamos o botão do elevador para subir.
– Bem eu sou acionista da empresa, tenho direito de participar de tudo, no meio da reunião vai ser apresentado alguns slides, na verdade deveria ser slides, mas o que todo irão assistir será um vídeo muito interessante – ela me olha e pisca.
– Como você vai trocar os CDs?
– Deixa comigo July.
– Onde eu entro nessa história?
– Você vai ficar esperando eu te chamar, depois que o vídeo estiver pronto para passar você entra na sala, mas July me promete que não vai fazer nenhuma loucura?
Mary já está pedindo demais, passei semanas desejando arrancar cada fio de cabelo daquela vaca.
Adivinhando meus pensamentos ela se adianta em falar.
– Lembra o que o médico disse? Nada de emoções fortes, não deveria nem ter trazido você, e se você ficar nervosa e alguma coisa acontecer com o bebê? Aí meu Deus melhor te levar embora! – Mary fala tudo rápido, e andando de um lado para o outro.
– Mary relaxa, prometo que não vou fazer nada pra machucar o bebê – falo segurando em seus ombros para mantê-la parada.
A porta do elevador se abre, nos olhamos e saímos, Mary pede que eu espere em uma sala, que na hora certa irá mandar mensagem.
Fico esperando andando de um lado para o outro, meia hora depois chega uma mensagem dela dizendo que está na hora.
Saio da sala e Mary já me espera em frente à sala de reuniões com a porta aberta.
– O que significa isso? – Fernando me encara, e toda a saudade volta juntamente com a mágoa.
– Você já vai saber maninho – Mary responde, e ele a fuzila com um olhar.
– Mary essa é uma reunião para acionistas, não um encontro para você fofocar com sua amiga – ele fala com tanta raiva, que por um momento me pergunto onde está todo o amor que ele me dizia sentir.
– Fernando chega – a voz do senhor Miguel sai baixa, porém firme, ele se levanta e pede que eu me sente dizendo que no meu estado tenho que ficar calma.
Encaro Mary e ela dá de ombros, sabia que ela não ia ficar de boca fechada.
– Para quem não sabe, essa é a irmã de Maria Clara, a principal suspeita das fraudes aqui da empresa – Mary fala e um sorriso cínico brinca nos lábios da Amanda.
– E por coincidência é a ex-namorada do presidente, o que talvez indique que ela tenha ajudado a irmã com tudo isso.
– Eu acho bom você calar a sua boca ou eu juro que…
–Você jura o que, hein? A máscara da sonsa da sua irmã já caiu, o Fernando já viu o tipo de mulher que você é então…
– Chega Amanda, cala a porra da sua boca, ou eu esqueço que não posso bater em mulher, e abro exceção para você – todos se sobressaltam com o soco que o Fernando desfere sobre a mesa, sua voz é baixa e controlada, porém a raiva com o que ele fala cada palavra me causa arrepios.
– July você está bem? – senhor Miguel pergunta quando uma lágrima escapa dos meus olhos, droga, já é hora dessa torneira de lágrimas fecharem.
– Estou sim, obrigada.
Sinto mãos pousadas sobre as minhas, olho para o lado e Fernando está de joelhos ao meu lado, ele limpa uma lágrima teimosa que escapou, na verdade mais uma de tantas, as pontas dos seus dedos fica acariciando minhas bochechas, quando nossos olhares se cruzam uma onda de sentimentos volta mais forte que nunca. Eu o amo tanto, encaro seus olhos, e sinto tanta vontade de me jogar em seus braços, e dizer o quanto sinto sua falta.
– Está tudo bem morena? Você está pálida, mais magra, está doente?
– Não eu só…
– Isso aqui é uma reunião, não a casa de vocês, Fernando deixa de ser patético e levanta desse chão – Amanda fala e Fernando fecha os olhos, sinto seu maxilar se contrair sei que está muito nervoso e temo que faça uma besteira, sem pensar toco seu rosto com minhas mãos, ele suspira e relaxa no mesmo instante.
– Olha para mim, eu estou bem. Não deixe ela te tirar do sério, eu estou aqui para provar a inocência da minha irmã, por favor, deixe Mary terminar – ele me olha de testa franzida e respira fundo.
– Por você eu faço tudo, mas depois da reunião vamos conversar ok? – assinto com a cabeça e ele beija minha bochecha, se levantando voltando a se sentar em sua cadeira.
– Mary continue – Fernando fala e a atenção de todos na sala se volta para ela.
– Obrigada Nando. Bem depois dos roubos dos projetos, a Amanda questionou o envolvimento de Clara, e uma investigação interna começou o que deu certeza às acusações, mas nem eu e nem July acreditamos nisso, muito pelo contrário. Desde o começo tivemos a certeza que por ego ferido Amanda armou tudo isso para prejudicar a secretária do meu irmão e por conseqüência atrapalhar o namoro deles, porque ela sabia por experiência própria que Julia faz tudo para defender a irmã – todos os acionistas começam a ficar nervosos, e discutirem entre si.
– Silêncio, por favor! – senhor Miguel fala, e por respeito toda sala ficam em silêncio.
– Isso é um absurdo, de onde vocês tiraram isso? – Amada pergunta se levantando da cadeira muito nervosa.
– Tiramos isso do seu amante, Richard, lembra-se dele querida? Pois é, sabe você precisa achar cúmplice mais leal – digo e ela me lança um olhar de puro ódio.
– Mary sua acusação é muito grave, você pode provar tudo isso? – Fernando questiona Mary.
– Olha para mim, eu lá sou mulher de falar uma coisa sem ter certeza? – Mary fala encarando o irmão que passa as mãos pelo cabelo nervoso.
– Eu não vou ficar aqui escutando essas coisas, quando vocês decidirem fazer uma reunião de verdade me chame – Amanda fala pegando sua pasta se preparando para sair.
– Onde você pensa que vai? – falo me colocando na sua frente.
– Acho melhor você me deixar passar.
– Já eu acho melhor ainda você se sentar no seu lugar e ficar quietinha enquanto eu provo a vadia que você é – seguro sua mão no alto quando ela tenta me acerta um tapa no rosto.
– Pai… – Mary mal termina de falar e senhor Miguel já está afastando Amanda de perto de mim.
– Amanda sente-se ou chamo a polícia. Se você não deve nada tenho certeza que não tem porque estar tão nervosa – Miguel fala conduzindo Amanda até sua cadeira.
Quando todos voltaram aos seus lugares, Mary me olha com reprovação e acaricio minha barriga, sou muito desnaturada, já ia me meter em confusão, coitadinho do meu filho nem nasceu e já tem que presenciar as brigas da sua mãe.
Mary coloca o vídeo do Richard confessando, os olhos de Amanda se arregalam a cada palavra que ele fala, porém Fernando me olha com mágoa, ciúmes e outros sentimentos que não sei descrever, enquanto Amanda encara a grande tela onde seu cúmplice confessa tudo.
– Isso é mentira! É armação dessas duas – Amanda fala chorando.
– Por que Amanda? – Fernando questiona a encarando.
– Fernando acredita em mim…
– Amanda chega. Eu estava lá, Richard confessou tudo – Mary fala.
– É mentira, você armou tudo isso, junto com essa aí, porque no vídeo é ela quem está se insinuando para ele não eu – Amanda se defende e Fernando me encara com um olhar frio.
Mary conecta seu celular a um notebook, e fotos de Amanda tirada no restaurante, enchem a tela, fazendo todos os acionistas olharem em sua direção.
– Como vocês podem ver, Amanda parece bem íntima do Richard, e como mostra ali no canto da tela a data é um dia antes do vídeo, ou seja, eu e July fizemos tudo isso para provar a inocência de Clarinha.
Amanda se levanta, seca as lágrimas e começa a rir descontroladamente, sinto até medo dela nessa hora, seu olhar é frio de alguém que não se importa com nada.
– Devo admitir que para uma simples garçonete de um bar de quinta você é até esperta, e você a mimadinha da família, pela primeira vez na vida usou a cabeça para algo útil – Amanda destila seu veneno encarando a mim e Mary.
– Sabe qual é o seu problema, querida? Você é infeliz, nunca vai saber o que significa amor, vai morrer sozinha, porque pessoa assim como você não merece a companhia nem de um animal, pois até eles precisam de carinho enquanto você é seca e fria – uma lágrima molha seu rosto, mas sua expressão não muda, o sorriso continua ali.
– Olha para você, a garota pobre e órfã que queria se dar bem dando o golpe, vocês devem estar achando que fiz tudo isso porque queria ter uma chance com o Fernando, engano de vocês, na verdade eu queria mesmo que ele sofresse e pagasse por tudo que fez a mim.
Fernando está encarando as imagens, e até agora ficou em silêncio, sua expressão é de alguém traído, ele olha para mim e balança a cabeça, fico sem entender, quero questioná-lo, mas aqui não é o lugar.
– Eu nunca fiz nada para você – Fernando fala de punhos cerrados.
– Como não? Primeiro você me trocou pela desgraçada da Sophia, minha amiga, eu pensei que era, depois por uma DJ de quinta, você nunca deu uma chance real para gente, sempre foi frio, nunca nem se quer me levou ao seu apartamento, nem mesmo quando eu carregava um filho seu.
Sinto-me ficar tonta com as palavras da Amanda, grávida. Ela ia ter um filho com ele, porque eu nunca soube disso? Olho em direção ao Fernando, mas ele não me olha apenas encara Amanda, olho para Mary que balança a cabeça, todos sabiam, menos eu.
– Eu nunca te amei e você sabe disso, tudo foi um erro, essa criança foi, eu estava sofrendo, tinha bebido muito e o que aconteceu foi um acidente – Fernando fala e por instinto minhas mãos vão para minha barriga, lágrimas molham meu rosto, mas ninguém percebe, estão concentrados demais na discussão.
– É isso que você pensa do seu filho, que era um erro, que tipo de homem é você? – Amanda fala com mágoa.
– Não estamos aqui para falar disso Amanda, eu quero saber, o que você ganhava prejudicando a minha empresa.
– Eu nunca consegui seu amor, então resolvi tirar de você algo importante, sua empresa e como a sua irmã disse de brinde mostrar a sua nova piranha que você nunca vai ser capaz de amar ninguém, não depois de Sophia.
Não aguento ouvir mais uma palavra. Levanto-me cambaleando, e tento sair às pressas da sala, me sinto tonta e sou amparada pelo pai de Fernando.
– Eu preciso sair daqui – falo em meio às lágrimas.
Senhor Miguel, me conduz até a sala que eu conheço muito bem a do Fernando, Mary nos acompanha e me entrega um copo de água quando me sento no sofá.
– Você quer que eu chame um médico filha? – Miguel me pergunta com carinho.
– Não eu estou bem, foi só uma vertigem, está passando.
Mary começa a andar de um lado para o outro na sala, dizendo que foi uma má ideia me trazer aqui, que eu não deveria me estressar, que isso faz mal para o bebê, e que ela é uma péssima tia, que o irmão dela vai matá-la por não cuidar direito de mim, reviro os olhos e termino de beber minha água.
Quando me sinto melhor, peço a Mary que chame um taxi, preciso ir para casa, mas antes que ela possa me responder qualquer coisa, a porta é aberta e um Fernando muito bravo entra na sala.
– Vocês duas podem me explicar o que porra foi aquele vídeo? – ele fala e Mary cruza os braços.
– Você não viu? Foi a prova da inocência da Clara – Mary fala com petulância.
– Isso eu sei, o que quero saber é o que ele fazia na sua casa? – ele fala apontando para mim.
Nesse momento uma raiva que nem sei da onde veio me atinge, raiva por ele ter me deixado sem nem me dizer o motivo, raiva por ter me escondido sobre um bebê, raiva por ter me feito acredita em um amor que ele nunca sentiu. Talvez aquela vaca esteja certa ele nunca vai esquecer o fantasma que Sophia representa para ele.
– Isso não é da sua conta, e antes que eu me esqueça, espere um processo contra você e contra a sua empresa, por terem acusado minha irmã, sendo ela inocente. Vocês deveriam ter mais moral – Mary me olha com olhos arregalados Fernando dá um passo para frente, quando eu me levanto do sofá.
– Você se insinua para um cara na sua casa, e vem falar para mim de moral, meio irônico da sua parte não acha? Só me tira uma dúvida: todas aquelas carícias no sofá terminaram aonde hein?
Fernando coloca uma mão no rosto,quando lhe acerto um tapa, limpo uma lágrima que escapa, me nego a chorar na sua frente.
– July... Me desculpa…– ele fala tentando se aproximar, mas eu dou um passo para trás.
– Seu miserável como você pode? Eu infelizmente ainda te amo, amo você ao ponto de te odiar nesse momento com todas as minhas forças pelas suas insinuações, mas sabe o que é pior? Eu me abri com você, te contei o meu pior pesadelo, enquanto você foi um covarde, preferiu fugir, e continuar vivendo nas sobras do seu passado. É com ela ou com o que restou dela em suas memórias que você que ficar. Fique, mas lembre-se a Sophia não existe mais, hoje tem alguém que realmente precisa de você, mas você só vai merecê-lo quando estiver disposto a amar incondicionalmente.
– Me desculpe por não ter te falado sobre Amanda e o bebê, é que foi uma época difícil, e isso implicaria te contar tudo, eu não estava preparado, ainda não estou – ele fala de cabeça baixa.
–Não me importa mais suas explicações, estou cansada Fernando de tentar te decifrar, cansada de chorar por alguém que não é que capaz de lutar por mim.
Olho para Miguel que deposita um beijo em minha testa, e saio da sala acompanhada de Mary, quando paramos na porta de saída da Dean Bau, ela me abraça e pede desculpas. Agradeço a ela por tudo, pego um táxi e sigo para casa, dessa vez não choro, me nego a chorar por um homem que não me merece.
Chego em casa e encontro Clarinha sentada no tapete, ela está de cabeça baixa e chora baixinho, fecho a porta e me aproximo, me sento ao seu lado e ela deita a cabeça em meu ombro, respiro aliviada.
– Oi – digo fazendo carinho em seus cabelos.
– Oi – ela responde fungando.
– Você está bem Clarinha?
Ela levanta a cabeça, olhando nos meus olhos, sorri timidamente e me abraça forte.
– Me desculpa Clarinha eu…
– Não July eu que errei você estava tentando me ajudar e eu fui ingrata.
– Não Clarinha, você estava certa. Eu passei anos tentando te proteger de tudo e todos, e não vi que você precisava fazer suas escolhas e trilhar o seu próprio caminho, depois da morte dos nossos pais eu me senti culpada, e achei que tinha obrigação de me redimir com você de algum jeito, mas na verdade estava pensando apenas em mim e na minha culpa, nunca em você no que você realmente queria. Você é tudo para mim, mas você é uma mulher adulta, não aquela menininha insegura e indefesa que eu tinha que cuidar – Clarinha chora enquanto remexe em suas mãos pousadas em seu colo.
– Eu amo você July, amo você mais que tudo, você é tudo que eu tenho meu porto seguro, tudo que sou devo a você, sempre quis que você sentisse orgulho de mim, porque eu tenho muito de você, e eu tenho certeza que nossos pais também.
Nós abraçamos apertados, choramos e rimos ao mesmo tempo, até que me afasto.
–Também tenho orgulho de você, e além de ser a melhor irmã do mundo tenho certeza que meu bebê vai te achar a melhor tia também – falo acariciando minha barriga
– Ai meu Deus July, você está grávida? – Clarinha fala de olhos arregalados e por um momento acho que ela não gostou da notícia.
– Sim Clarinha, eu não planejei estou tão surpresa quanto você, mas…
Antes de terminar Clarinha se joga em cima de mim, me abraçando e juntas caímos no tapete, rimos sem desgrudar do abraço.
Os dias passam rápido, todos os dias Mary me liga, minha irmã está cada vez mais coruja, as duas sempre me acompanham nos exames, junto com Carol, que quando soube que Mary descobriu antes dela sobre a gravidez, surtou, ficou emburrada, eu e minha irmã ficamos rindo e logo ela se rendeu e me abraçou forte.
Perguntei a minha irmã sobre a noite que ela dormiu fora, mas ela não quis falar, não quis insistir depois de ver seus olhos marejados. Ela está mais feliz essa semana, o Fernando ofereceu uma indenização a ela por danos morais e seu emprego de volta, mas ela recusou, disse que está na hora de desapegar de coisas do passado, essa é minha garota.
Minha barriga está pequena ainda, mas posso senti-la quando me deito. Graças a Deus meu filho está crescendo bem, ainda sito enjôos, mas agora consigo me alimentar melhor.
Estou no bar distraída organizando as notas fiscais, quando a porta é aberta me surpreendendo com quem vejo.
– Dona Helena, que surpresa! – falo me aproximando da mulher que me recebe com um abraço apertado.
– Apenas Helena, July como você está? E meu netinho? – ela pergunta fazendo carinho em minha barriga.
– Estamos bem, ontem fui a mais uma consulta e está tudo ótimo com ele.
– Que bom minha filha, isso me deixa muito feliz.
Helena é como seu marido, uma mulher gentil, e que me trata com carinho, quando souberam da gravidez, fizeram questão de me oferecer ajuda em tudo, mas eu neguei claro, afinal tenho condições de cuidar do meu filho. Mas como sei que eles já amam muito essa criança prometi que se precisar vou recorrer a eles, duas vezes por semana eles me visitam em casa, já trazem presentes para o bebê, e mesmo achando muito cedo, agradeço. Saber que meu filho já é tão amado por todos me deixa muito feliz.
Conduzo Helena até uma mesa aos fundos, pergunto se ela deseja algo, mas ela nega agradecendo, me sento na cadeira a sua frente.
– Julia eu sei que contar ao Fernando sobre a gravidez é uma decisão sua, e sei também que você está magoada, mas ele precisa saber, não é justo todos saberem menos ele o principal interessado – ela fala me olhando nos olhos.
– Eu sei, e vou contar a ele. Eu só esperava que não precisasse forçar ele a uma aproximação, de que ele pense que é por causa da criança, ele não tem obrigação comigo.
– Ele te ama Julia, ele te ama como nunca amou ninguém na vida, e sei que ele está sofrendo, ele só tem medo de perde você.
– Ele me tirou da sua vida, me deixou ir embora sem ao menos me explicar o porque, sinto decepcioná-la, mas acho que ele não me ama tanto quanto a senhora pensa.
– Eu vou lhe contar uma coisa que aconteceu há muito tempo atrás, talvez depois disso você entenda os motivos dele, e o ajude a superar – ela me fala e já imagino que o assunto tem haver com a Sophia.
– Não sei se posso fazer isso…
–Você e a única que pode, ele está indo embora, eu sei que você não quer que ele volte apenas pelo seu filho, mas ele te ama filha – ela fala segurando minhas mãos.
–Eu o amo muito, e por isso vou escutar o que a senhora veio me dizer – ela limpa uma lágrima e sorri.
– Há seis anos...
![](https://img.wattpad.com/cover/62092342-288-k644448.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Atração - Série Irresistível - COMPLETO
Roman d'amourJulia Rodrigues tem a vida virada de ponta cabeça, quando em um trágico acidente perde seus pais. Com o término do namoro e a responsabilidade de cuidar de sua irmã mais nova, July amadurece e se torna uma mulher forte e determinada. Como DJ e dona...