Capítulo 8

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Terminamos de assistir ao amanhecer calados, apenas sentados um ao lado do outro.

—Por que passou a noite aqui, Cristina?

—Isso não é da sua conta.

—Já entendi, Cristina, não irei perguntar mais nada.

—Graças a Deus! Pensei que iria demorar ainda mais pra cair a ficha.

Não olhei pra ele. Fiquei encarando o mar por um tempo.

—Venha, vou lhe dar uma carona pra casa.

—Não precisa.

—Precisa sim, não vou deixar você andando sozinha a essa hora da manha.

—Não estarei sozinha, um amigo está vindo me buscar.

— Amigo?

—Sim, Carlos, um amigo. Você é surdo?

—Não Cristina, não sou.

—Pois parece, pois eu disse que não precisava de você ontem a noite e você me seguiu. Agora parece não se conformar por que um amigo vem me buscar.

—Fiquei preocupado por que prometi pro seu pai que levaria você pra casa.

Revirei os olhos.

Logico que ele ficaria de olho em mim, ainda mais com as ordens do poderoso chefão.

—Não preciso de babá, Carlos, pode ir embora.

—Cristina, não ....

—Cris! Que bom que te achei!

Olhei pra traz e vi o Alex.

Graças a Deus.

—Alex, que bom que você chegou. —Me levantei.

—Foi difícil te achar. Fiquei preocupado com sua mensagem. Você está bem?

—Mais ou menos —Sussurrei.

—Quem é você?—Olhei para o meu chefe que estava de pé ao meu lado.

—Sou amigo da Cris, e você? — Alex respondeu.

—Sou o chefe dela e senador de São Paulo.

— Interessante. —Ele disse.— Vamos Cris? Se quisermos voltar ainda hoje temos que pegar a estrada cedo.

—Quero voltar ainda hoje. —falei.

—Gostaria de lembrar senhorita Cristina, que você trabalha hoje.

—E gostaria de lhe informar querido chefe, que hoje não aparecerei no escritório.

—E você vai fazer o que, se não vai trabalhar?

—Ai que droga, Carlos! — Gritei, eu estava cansada e sem paciência para seus interrogatórios. —Não é da sua conta. Que diferença faz saber se vou pra casa dormir ou transar com o Alex no banco de traz do carro dele?

Alex reprimiu uma gargalhada e Carlos me olhou de um modo assassino.

—Não se comporte como uma adulta quando você não passa de uma criança mimada, Cristina.

Ele se virou e foi embora.

—Idiota! — Gritei, esperei que ele tenha escutado.

—Está tudo bem Cris? — Alex se aproximou de mim e segurou meu rosto entre as mãos.

Comecei a chorar de novo.

—Ei, não chora. — Ele me abraçou.

Fiquei chorando por um tempo com ele afagando minhas costas e me acalmando.

—Cris, tem certeza que você quer ir la?

—Tenho, Alex, você sabe que eu faço isso todo ano, sabe que eu preciso ...

—Eu sei. Eu vou com você. Vou te levar.

—Obrigada!

Alex me levou até o carro. Decidimos ir até o seu apartamento para tomarmos café.

—Como está a minha amiga mais gata?— Vinícius perguntou entrando na cozinha só de cueca.

Tinha que admitir ele era to gostoso quanto seu irmão, mas não nos pegaríamos.

—Vou indo.

—Chorando de novo, Cris?

—Quer ir com a gente, Vinícius, a Cris vai ate o ...

—Não. Desculpa Cris, mas tenho certeza que a Tati vai estar la e não quero correr o risco de vê-la.

Fiz que sim com a cabeça.

Vinícius e a Tatiana namoraram durante um curto período, mas foi muito intenso para ambos.

—Eu entendo, Viní, não precisa explicar.

—Sabe que torço por você, não é? E sinto muito pelo o que aconteceu.

—Eu sei. — Reprimi as lagrimas. Aquele era o dia que eu mais chorava, não adiantava tentar segurar as lagrimas.

Vinícius me abraçou bem apertado.

—Vamos, Cris?

— Vamos. — sai dos braços do Vinícius e ele me deu um beijo na testa.

Alex me entregou umas roupas da irmã dele que ainda estavam aqui.

Uma calça jeans básica e uma blusa de manga compridas, não passei maquiagem, eu queria ir livre.

Segui Alex para o carro.

A viagem até Sorocaba estava sendo tranquila, Alex não disse nada, ele sabia que eu não queria conversa. Ele sabia que nesse momento eu queria o silencio.

Não avisei para minha mãe que eu estava indo.

Só mandei uma mensagem pra Tati dizendo aonde ia, ela insistiu em me encontrar la. Nem falei pro meu pai que iria faltar ao trabalho, mas tinha certeza que o babaca do Carlos iria passar todo relatório.

Fechei meus olhos e dormi um pouco.

—Cris, Cris acorda, nós chegamos.

Abri os olhos e vi o lugar que não saia da minha cabeça e onde passei boa parte do tempo.

Respirei fundo e desci do carro.

Vi a Tati me esperando na entrada.

Ela veio e me abraçou.

Percebi que minha amiga também tinha lagrimas nos olhos.

—Amiga!

—Obrigada por vir, Tati.

—Nunca te deixaria sozinha em um momento como esse.

Eu apenas sorri.

—Eu quero entrar sozinha, vocês se importam?

—Não. Sabemos que você precisa fazer isso.

Assenti.

Respirei fundo mais uma vez e caminhei até a entrada do cemitério.

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