Capítulo 13

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Meu desconforto foi inevitável.

—Vocês se conhecem? — O doutor Marcos perguntou.

— Eu e a Cris...

—Não ouse falar comigo, Felipe.— Minha voz saiu cheia de raiva.

Como ele ousou falar comigo depois de tudo o que aconteceu?

Quem ele pensava que era para ter o direito de chegar perto de mim de novo?

Carlos percebeu meu estado.

—Marcos, já posso levar minha namorada pra casa?

Percebi que ele nos olhou surpreso.

—Claro, Carlos, mas não sabia que ela era sua namorada.

—Longa historia. —Ele murmurou.

Seus braços me apertaram e me guiaram para fora da sala.

—Foi muito bom te ver, Cris, quem sabe não podemos marcar...

Antes que eu pudesse processar o que ele disse, o punho de Carlos já havia acertado o rosto dele.

—Você quebrou meu nariz seu desgraçado.

—Fique longe da Cristina, se não quiser ter mais nada quebrado.

Então ele me tirou dali.

Assim que entramos em seu carro o silencio predominou sobre nós dois.

—Quem era aquele cara, Cristina?

—Alguém que eu não quero lembrar que existe.

—Ele te conhece, e pelo jeito muito bem, o que vocês...

—Que droga, Carlos, será que dá pra entender que eu não quero falar sobre isso?

—Desculpas. Não vou insistir mais. — Ele ligou o carro.— Vou te levar pra sua casa.

Assenti e encarei a janela.

***

—Obrigada. — Falei antes de descer do carro dele.

—Obrigada pelo que?

— Por ter batido no Felipe, ele mereceu.

—O que ele fez pra você, Cris?

Olhei para ele, era a primeira vez que me chamava pelo meu apelido.

—Não quero falar sobre isso, Carlos.

—Quer ajuda pra subir?

— Não precisa, eu peço pro porteiro me ajudar. Obrigada.

—De nada.

Sai do carro e o observei ir embora.

Consegui chegar em casa com um pouco de dificuldade, mas cheguei.

Não acreditava que depois de dois anos ele resolveu aparecer de novo.

Não acreditava que ele teve a ousadia de dirigir a palavra a mim.

Mas o soco que ele levou do Carlos foi bem merecido.

Sorri ao lembrar disso.

Resolvi tomar um banho, precisava relaxar.

Depois do meu banho relaxante me deitei na cama já de pijama e fiquei pensando na vida. Era difícil ser uma pessoa "normal" sendo filha do governador de São Paulo, mas eu tentei durante toda a minha infância.

Não fui alvo dos holofotes que pairavam sobre ele e minha mãe. Mas conforme fui crescendo isso foi mudando, e trouxe varias consequências das quais me arrependia até hoje.

Assim que comecei o ensino médio todos sabiam que eu era Cristina Medeiros, filha do governador de São Paulo. Todos queriam ser meus amigos, andar comigo, conhecer minha casa, aparecer na televisão. Mas ninguém realmente queria ser amigo da Cris, a pessoa que precisava da amizade de alguém que não se importasse com o status dela.

Foi difícil conseguir amigos assim, mas eu consegui, a Tati, o Alex e o Vinícius foram meus melhores amigos desde o primeiro ano. Eles não ligavam se eu era filha do governado, do presidente ou do rei, quando estávamos juntos eu era somente a Cris.

Então no segundo ano tudo mudou. Eu conheci o Felipe, ele tinha 19 anos na época e eu 16, mas eu não liguei, estava completamente apaixonada por ele.

E por que eu me importaria? Eu era filha governador, namorava um cara mais lindo que eu já havia conhecido e que ainda fazia faculdade de medicina. Todas as garotas daquela escola queriam ser eu. Todos os caras queriam ficar comigo, mas o Felipe me exibia como um troféu, algo que ele conseguiu e poucos tiveram a oportunidade de buscar.

Me lembrava até hoje da nossa primeira briga, foi logo depois de dormirmos juntos pela primeira vez. Ele ficou morrendo de raiva por que eu não era mais virgem.

E ainda exigiu saber quem tinha sido o cara que me teve pela primeira vez. Não disse quem foi, esse segredo a única pessoa que sabia era, e ainda é a Tatiana, mas depois fiquei feliz em saber que não foi ele quem tirou.

Não arrependia de ter tido minha primeira vez com o Alex, e depois dela vieram varias. Nunca quis nada serio com ele, e ele sempre soube que éramos mais amigos do que qualquer coisa.

Depois o Felipe nem reclamou, pois como ele vivia me dizendo "me pegou experiente". O Alex podia ser bem novo na época, mas ele me ensinou muito bem como dar prazer a um homem. Na época ele me chamava de deusa do sexo, era um apelido só nosso, e eu gostava daquilo.

Mas me afastei deles três nesse meu período de namoro. E não fiquei feliz com isso. Sei que magoei a todos, principalmente o Alex, que era o mais chegado a mim de todas as maneiras. Mas eu não podia fazer nada em relação a isso.

Depois de seis meses de namoro, e não foram os melhores seis meses da minha vida. Claro que no começo tudo eram flores, ele dizia que me amava, que estava juntando dinheiro pra gente viajar juntos, pra gente curtir, ele chegou até a falar em casamento, e a boba aqui acreditou, mas o encanto acabou e a magia se desfez igual fumaça.

Eu não esperava que ele fosse fazer o que ele fez, não esperava que aquele video fosse parar na internet e muito menos que eu fosse ficar gravida tão cedo.

Meu celular apitou identificando uma mensagem no WhatsApp.

"Espero que você esteja melhor"

Não acreditei quando vi que o Carlos me mandou uma mensagem.

"Estou sim, obrigada por perguntar"

A resposta veio logo em seguida.

"Se precisar de qualquer coisa é só me ligar."

"Pode deixar"

Coloquei o celular de volta na cabeceira da cama e abri um sorriso.

O que aconteceu com o senador?

Sou despertada dos meus pensamentos pelo som da campainha.

Vou mancando até a porta. Olhei pelo olho magico e me surpreendi ao ver quem era.

—Mãe? —Falei ao abrir a porta.

—Florzinha! Resolvi vir pra cá assim que soube do que aconteceu com seu pé.

Ela entrou.

—Não foi nada, nem precisava ter se deslocado de Sorocaba até aqui.

—Fiquei muito chateada com você por não ter ido me visitar ontem, mas assim que seu pai me contou o que houve hoje tomei uma decisão muito importante!

—E qual é? —Tinha medo da resposta.

—Vou voltar a morar com seu pai definitivamente e tentar reconstruir nosso casamento!

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