• 07 •

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Sabe quando a única coisa que você quer é ficar deitada na cama, debaixo das cobertas, comendo coisas extremamente gordurosas e assistindo algo qualquer na TV? É exatamente como eu me sinto, pena que devo ir trabalhar se pretendo ir logo embora daqui.

Madame Doerr está mais inquieta do que nunca! Subindo nos móveis e miando direto. Um dia estava pesquisando algo na internet quando li que gatos podem prever a morte... Será que... Ah, que droga estou pensando?!

Levanto de uma vez, lavo o rosto e prendo os cabelos. Pronto, está ótimo.

Certo, agora preciso ir para a casa do rabugento, e depois comprar ração para a pobre gata que já deve se sentir abandonada. Então poderei voltar para casa e dormir o dia inteiro.

Visto a calça e coloco minhas sapatilhas nos pés. Sim, eu dormir com uma blusa e estou indo para lá com ela mesmo. O quê? Ele não vai ver mesmo...

Nossa, que pensamento horrível.

Chega!

Será se devo ir? Ontem quebrei umas dezenas de regras que tinha no meu contrato premiado, mas se não me ligaram ainda, quer dizer que tenho um emprego. Não é?

* * *

Sinto meu corpo acabado de tanto ser esticado. Arrumar uma biblioteca não é algo fácil. Pobres bibliotecárias de escolas.

Já pensou colocar milhares de livros em prateleiras? E ainda ter que organizar tudo em ordem alfabética? Eu provavelmente teria que ficar soletrando até descobrir, tipo, repetindo todo o enorme conjunto de letras.

Quando vou colocar os livros na estante, escuto um ruído de vidros sendo quebrado do outro lado.

Um ladrão?

Oh, Deus, o que farei?

Christopher Harris puxava os cabelos com força, enquanto fitava os pés.

O que está acontecendo?

- Está bem? – como se minha voz fosse um aviso de "a nojenta está por perto", o que provavelmente era, seu rosto de sofrido, passou para um estágio tenso, em que os óculos não estavam mais cobrindo os olhos acinzentados.

- O que está fazendo aqui?

- Aquela coisa que eu não deveria fazer, sabe? Arrumar a casa.

- Está reclamando, Senhorita?

- De forma alguma! – ai meu Deus, eu e minha boca grande.

E foi ali, observando a postura reta do homem que vi um abajur estraçalhado e um livro perto. Mas, diferente daqueles que estava arrumando, pequenas bolinhas em alto relevo preenchiam suas páginas. Ele estava lendo? Ou tentando ler?

- Está tudo bem? – insisti.

- Eu... – Christopher pareceu juntar todas as peças de sua armadura e, logo em seguida, derrubar tudo no chão ao seus pés. – Só quero ler em paz.

Certo, aquele abajur não saiu flutuando até ali e se tacou naquelas prateleiras porque quis, e o livro muito menos. Algo está errado e isso é evidente, mas o quê?

Bom, eu posso o ajudar como pedido de desculpas por ter feito as diversas coisas que fiz ontem e realmente exercer a função para qual fui escalada de o ajudar, ou fazer a "paz" mencionada o dominar. Mas acredito que quando algo não funciona temos vontade de joga-lo no chão. Por exemplo, quando o meu celular antigo não fazia ligações, arremessei ele contra a parede e tive que comprar outro, então deve ser isso que está acontecendo com ele, não?

Abandonei o espanador e caminhei lentamente até o livro esparramado no canto, debaixo de cacos de vidros coloridos, tirei os pedaços brilhantes e então passei meus dedos pelas bolinhas. Teria sido uma ação mais útil se eu soubesse ler aquilo.

- Que livro é este? – eu preciso fazer isso, mais do que qualquer coisa que já senti. Esse aperto no peito cheio de arrependimento e culpa está me matando!

- Para quê quer saber, Senhorita Willians?

- Apenas me diga, por favor.

Por que Christopher Harris tinha que ser tão teimoso? Por que não só transmitir a informação sem questionar nada? O que é tão difícil em ser gentil comigo uma vez na vida? Trabalho aqui para cuidar dele, fazer-lhe companhia, mas não posso fazer nada se esse cara não parar de ser tão fechado!

Ele ficou calado, coçando o queixo perfeitamente alinhado com a ponta dos dedos, sempre mantendo o rosto direcionado á parede.

- A Vida Era Assim Em Middlemarch, de George Elliot.

Então quer dizer que o Senhor Sem Paciência gosta de romances de época? Uma total surpresa para mim e para a população mundial, devo acrescentar.

Coloquei o livro em minhas mão perto do vaso que por pouco não foi atingido, e busquei o título na estante perto de mim, recheada com os mais diversos livros. A Vida Era Assim Em Middlemarch... Aqui está, jogado debaixo de alguns outros, bem lá no cantinho, e adivinhe: Na última prateleira.

Puxei a escada amadeirada até o local e, indo contra todos os meus princípios de não subir em uma escada deste tipo, agarrei os degraus e escalei até uma certa altura que seria suficiente para pegar o objeto.

Subir foi tudo bem, mas descer? E se eu caísse daqui de cima?

- Senhorita Willians? – ai meu Deus, o que vou fazer?

- Sim?

- Está bem? – então ele virou o corpo na direção de minha voz e pude reparar na sua aparência.

Terno com o corte mais perfeito que já vi, sapatos exageradamente brilhantes e cabelos bagunçados, tão quanto os de Louis Tomlinson, aquele cara daquela banda que minha irmã tanto ama. Ele estava como todos os dias, mas a falta dos óculos o deixava tão charmoso... Tanto quanto sua expressão de calma enquanto dorme.

É melhor eu parar definitivamente com esse tipo de coisa.

- Sim. – engoli em seco.

Tateei o degrau de baixo com o pé direito, vendo se estava na altura certa para poder me equilibrar sem cair desastrosamente. Fiz o mesmo com o outro, e o outro, sem me soltar um segundo das laterais da escada.

Finalmente viva!

- O que está fazendo? – perguntou ele no mesmo instante que o fiz sentar na cadeira.

- É meu pedido de desculpas por ontem.

- O que fez ontem, Senhorita Willians? – pude perceber uma ruga maravilhosa se formar entre suas sobrancelhas, logo acima dos olhos acinzentados direcionados ao nada.

Se ele não lembra, é melhor nem falar nada, não é?

Abri o livro mais ou menos na mesma página que o outro se encontrava e o repousei sobre meu colo, enquanto sentava no banquinho que antes auxiliava minha limpeza.

Então, quando pronunciei os primeiros trechos, Christopher Harris, por mais estranho que pareça, fechou os olhos e encostou-se totalmente na cadeira, deixando seu corpo relaxar, como uma criancinha de três anos que está assustada e sua mão dar-lhe um beijo na cabeça para que possa dormir tranquilamente, sem medo do escuro.


* * * * *

Ah, finalmente! Eu já estava ficando louca com a falta de criatividade. Sim, é um livro inspirado em uma fanfic que foi inspirada em Como Eu Era Antes De Você, mas pode crer que não vai ter o mesmo final. Detesto livros que o nosso personagem favorito morre e olha eu aqui passando spoiler para vocês!

Bom, quero muito saber se preferem uma narração em primeira (ponto de vista do personagem) ou terceira (ponto de vista do narrador) pessoa, então me contem nos comentários, por favor!

Não esqueçam de votar e me perdoem pelos erros!

Beijinhos e até o próximo.

Para SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora