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Christopher Harris

Meus pés moviam-se sem rumo pelo caminho. Já eram aproximadamente três da tarde e tudo de que eu precisava era um pouco de ar.

A cirurgia podia ter ocorrido bem, mas ainda sinto seus efeitos de vez enquanto. A familiar dor de cabeça ia e vinha violentamente, fazendo-me refletir se minha decisão fora mesmo tão boa quanto pareceu em meu plano estúpido.

Passei por uma loja de roupas femininas e minha mão voo instantaneamente para o anel enfornado no meu bolso, lembrando-me dela novamente, como sempre fazia.

Eu queria pedi-la antes de tudo isso, mas os riscos eram altos demais, não sabia se os meus 20% de chances de sobrevivência valeriam, a deixaria mais destruída do que com os acontecimentos... Acredito eu.

O que minha família, e todos os quais agora me olham feio, não sabem, é que ainda mando mensagens para o antigo número de Katherine, mas ela já deve ter mudado, achado um marido, tido filhos bonitos, e nem se lembrando do babaca que a abandonou no casamento da amiga.

Porra, essa lembrança me atormenta a cada segundo da minha vida.

O vestido verde é retirado da manequim por uma vendedora, puxando-me para a realidade, aquela na qual vivo sozinho, os únicos com quem tenho contato são meus pais, o pessoal da empresa e Megan – que diz estar tudo bem, mas vejo em seus olhos o ar de desapontamento que ambos produzem.

Tudo bem, eu mereço isso. Mereço ser mal tratado, sofrer com tudo, as dores de cabeça, tonturas repentinas, embaçado, e mais. Muito mais.

Volto meu trajeto anterior e sendo em um banco ali perto, admirando o céu azul com poucas nuvens.

Peige costumava vir aqui comigo, mas depois que foi enviada para seu curso de férias nem me telefona mais. Crianças...

- Olá, com licença, moço. – Olho para baixo, a tempo de ver um garotinho sorrindo para mim. – Viu um cachorro grande passar por aqui? Ele é desse tamanho – indicou com os braços curtos – e tem pelos amarelos, mamãe diz que são dourados, mas coisas sobre cores eu entendo e aquilo é amarelo. – Sua fala apressada denunciava a preocupação dele. Os dentes de leite se fizeram presentes quando sorriu.

- Não vi, desculpe. – Apoiei-me nos joelhos, ficando de sua altura.

Olhos grandes e acinzentados, cabelos escuros, pele branca, bochechas rosadas... Baguncei os fios de sua cabeça, recebendo uma risada gostosa de criança.

- Ben, consegui o encontrar e trouxe sor... – Aquela voz. Eu conhecia aquela voz. A voz que durante tanto tempo quis escutar, mas não podia. Era a voz dela.

Sua expressão era de completo choque. Seus cabelos amarrados no rabo-de-cavalo voavam e entravam em sua boca aberta. Uma alegria repentina dominou meu coração de uma forma que nem consigo explicar. Katherine era tão bonita quanto imaginei. Até mais.

- Querido, vamos, precisamos voltar para casa agora. Lembra o que eu avisei? Não fale com estranhos. – Falou, puxando o garotinho para longe.

- Mas...

- Vamos, Benjamin.

Sua voz firme foi como um tiro no meu peito. Ela estava... extremamente brava, e eu não a tiro a razão.

Meus olhos arderam e pude sentir a primeira lágrima descer depois de eras sem se fazer presente.

- Katherine, espere!

Querido. Ela tinha um filho. Um filho lindo, como eu havia o imaginado. Algum sortudo havia ficado com ela. Eu sou um idiota, não a mereço e aqui estou eu, a ponto de desmoronar.

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⏰ Última atualização: Nov 21, 2017 ⏰

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