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Katherine Willians

Meus olhos ardiam a cada dia que eu passava me encarando no espelho. Nonna havia me dado as férias que vivia pedindo para tirar e faz uma festa quando as aceitei. Agora preciso ter mais cuidado do que antes, afinal tenho um... bebê dentro de mim. Um bebê de Christopher.

O fato dele ter sumido da face da Terra me incomodava constantemente. Meus olhos sempre se direcionavam ao aparelho celular encima do criado-mudo toda vez que o mesmo apitava, mas eram apenas as mensagens da operadora ou de Sarah querendo saber como eu estava, nunca quem eu realmente queria que fosse.

É incrível como a vida pode mudar de uma hora para a outra sem nem mesmo avisar.

Meu corpo não parecia o mesmo. Agora que presto atenção, um leve montinho se forma em minha barriga, minhas calças andam mais apertadas que o normal e preciso avançar um feixe para o sutiã fechar. O pouco que sei sobre gravidez é o suficiente para entender que aquilo são seus "efeitos colaterais". Sou vigiada durante horas, durmo cedo e como muito. O que me preocupa é não saber onde Christopher está, como ele está, e o fato de eu ainda me preocupar incondicionalmente com ele.

Levanto-me da cama após minutos observando meu reflexo no espelho. Idiota, a gente poderia estar juntos agora, independente de sua reação, mas poderíamos. Ele me deixou, jogou nosso mísero romancezinho no lixo e partiu. Quem me dera ser uma Abby. Não o tiro a razão. O quê Chritopher Harris olharia em mim?

- Kate, fiz biscoitos. – Mamãe invadiu o quarto no exato momento que enxuguei a lágrima teimosa que insistia em escorrer. – Querida...

- Eu estou bem, não se preocupe.

- Eu sou sua mãe, Katherine, o mínimo que poderia saber era quando minha filha precisa de um abraço. – Seus braços envolveram meu corpo fino, fazendo massagem em meu cabelo, enquanto eu molhava seu cardigã verde-escuro. – É por causa dele?

O máximo que consegui fazer foi assentir. Nunca em minha vida toda sonharia que choraria por conta de alguém que pouco se importa. Agora aqui estou, chorando no ombro de minha mãe, sem saber o que fazer, com um pontinho crescendo dentro de mim. Um pontinho lindo que provavelmente terá cabelos castanhos e olhos penetrantes.

- Por que você não vai atrás dele?

Minhas pernas congelaram, assim como o choro. Eu já havia pensado nisso, mas preferi não ser patética o suficiente. Correr atrás dele poderia ser uma medida desesperada demais para alguém quem me abandonou sem uma explicação plausível.

- Não posso.

- Querida, você pode qualquer coisa que quiser. Acho que deveria tentar uma última vez. Christopher, por mais... egoísta que ele possa ter sido, merece saber que meu neto vem ao mundo. – Ela me afastou um pouco sem me soltar, o suficiente para olhar no fundo dos meus olhos. – Eu e Lena ficaremos bem. Você deve essa busca para o nosso feijãozinho, e para você também.

Por mais que eu não optava por acreditar, no fundo meu coração gritava que era o certo a se fazer. Pelo menos eu havia tentado uma última vez.

Peguei a primeira bolsa que vi pela frente e joguei algumas poucas coisas dentro, apenas o necessário para sobreviver. Visto minha regata e um casado longo. O transporte sairia em pouco tempo de acordo com a moça do telefone, precisava correr se não quisesse me atrasar.

*

O frio não parecia me atingir quando cheguei ao meu destino. As roseiras haviam sido devidamente retiradas, algumas plantas germinavam por entre as pedras da parede externa, e a mansão dos Harris parecia menos cuidada do que o normal. Minha esperança foi a única luz acessa no lado interno. Tinha alguém nos fundos da casa.

Minha primeira ação foi apertar o interfone o mais forte que meus braços cheios de bagagem permitiam. Meu Deus, que alguém desse sinal de vida, por favor.

Uma senhora rechonchuda apareceu entre as sombras, carregando uma grande bolsa de couro sintético. Ela caminhava rapidamente até mim com a pior das expressões possível.

- Olá. Queria falar com o Senhor Harris.

- Ele não está. Vá para casa, garota. Essas garotas de hoje em dia não possuem mais vergonha na cara. – Ela sussurrou a última parte, mas não baixo o suficiente para que eu não conseguisse ouvir.

- Senhora, por favor, espere! Sou Katherine Willians, diga a ele que precisamos conversar! – Meu nome foi como uma chave. Seus olhos se arregalaram e os pés travaram no chão.

- Senhorita Willians? – A mulher correu de volta ao portão, analisando meu rosto, enquanto transmitia a mais pura pena que alguém já sentiu. – Me desculpe.

- Escute, preciso conversar com Christopher Harris, é caso de vida ou morte. – Mais para vida, é claro.

- Os Harris se mudaram, querida, não faço a menor ideia de onde estejam. Recebi ordens claras de em hipótese alguma direcionar detalhes à senhorita. Mil perdões.

- O quê? Por quê?

A mulher apenas negou levemente com a cabeça e seu olhar entristecido acompanhava minhas lágrimas. Eu sabia que não deveria ter vindo, tinha certeza, e agora aqui estou eu. Patética como sempre.

Minha ponta de esperanças havia se degradado no meio do fogo. Tudo de que preciso é voltar para o calor de meus lençóis e tentar seguir minha vida com o meu bebê, apenas meu. Mais tarde pensaria em como iríamos viver, mas eu daria meu jeito, sempre dou.

Não esperei a mulher voltar para dentro da casa. Pegaria o primeiro transporte que encontrasse e voltaria com a minha casa, a casa da qual eu nunca deveria ter saído.

*   *   *

3 meses depois

- Bom dia. – O consultório da maternidade parecia ser bem maior nas fotos. A médica responsável por acompanhar meu caso, Meredith, era gentil e nunca perguntava nada além do necessário. O que me fazia bem de certa forma.

Meu corpo estava mais arredondado, minhas perna inchadas e minha cintura quase desaparecendo. Depois que descobri sobre meu homenzinho, mamãe tirava fotos da minha barriga todos os meses, assim conseguíamos acompanhar de perto a mudança.

5 meses já é bastante coisa. Meus hormônios já se encontravam alterados ao extremo, os enjoos haviam dado um tempo e parte do que eu comia era nojento e pastoso.

- Como está, Kate?

- Muito bem, obrigada. – Sorri, relaxando no encosto da cadeira e massageando minha barriga.

- E o garotão? Dando muito trabalho?

- Só um pouco agitado, mas tudo bem, nada que incomode.

- Maravilha. Vamos fazer o exame de rotina. – Assenti e acompanhei-a até a outra sala que já conhecia tão bem.

Christopher ainda habitava minha mente. Algumas poucas coisas me faziam lembrar de seu jeito arrogante, do seu cheiro e beijos, mas chorar por ele? Não o fiz, e nem o faria, principalmente por alguém que partira meu coração em milhares de pedaços minúsculos.



*-*-*-*

Olá! Desculpem os erros e espero que gostem! O livro já está quase no final... Talvez nervosa seja uma palavra fraca para me descrever hahaha

Obrigada se você está lendo até aqui! Deixe seu comentário e a estrelinha!

Beijos, até o próximo!

Para SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora