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[CAPÍTULO SEM REVISÃO]

Neste exato momento eu estaria sendo violentamente acordada pelo mesmo despertador irritante que meus ouvidos nunca acostumaram-se, vestindo a mesma calça jeans de sempre – na qual já se encontra abraçando minhas pernas -, a caminho da enorme casa dos Harris. Bom, isso estaria acontecendo se eu não tivesse os deixado da forma mais covarde possível.

Garota egoísta. Nem dizer adeus consegue.

A porta rústica trazia lembranças que eu nem sabia que ainda habitavam minha mente. Algumas lascas soltas levavam-me direto aos melhores dias da minha vida, como na vez que bati a cabeça contra a madeira e mamãe me levara correndo ao hospital mais próximo - alguns muitos quilômetros de distância. Saudades da época que manter as notas azuis era a única de minhas preocupações.

Soltei a mala vermelha, e pressionei a campainha sem mais demora, querendo logo acabar com o aperto doloroso no meu peito.

Respire, Kate, é sua família... Lena e Mary. Esqueça os Harris.

O som estridente ecoou pelo lado interno na antiga construção, chamando a atenção de minha irmã que logo abriu a porta.

Sua expressão variava de alegria para dúvida, depois alterava-se para alegria novamente, como em um ciclo vicioso. Lena abriu os braços magros e pulou em meu pescoço. Se eu não houvesse engordado um pouco no tempo que passei com os Harris, provavelmente ela teria derrubado a nós duas.

-Kate! Deus, é você mesma?

-Deus não sei, mas eu sim. – Retribuí o abraço apertado. – Desculpe pela demora em voltar para casa, irmãzinha.

Eu podia sentir as lágrimas dela molhando meu casaco, e isso, querendo ou não, me fez ficar com o coração na mão.

Entramos assim que nosso pequeno momento de afeto terminou, colocamos as mala para dentro e enquanto Lena preparava algo na cozinha fui em busca de minha mãe.

Mamãe era do tipo que nunca desmanchava o sorriso, até mesmo quando ela se viu sozinha com três filhas para criar e uma pequena quantidade de dinheiro no pote dos biscoitos. Não foi a toa que cheguei em Londres apenas com o troca da minha passagem. E foi por esse motivo que assustei-me quando a mais nova falou que eu a encontraria no quarto, só não esperava ver o olhar perdido, alguns fios ligados em seu braço e grandes manchas roxas ao redor dos olhos.

-Mamãe... – Ela virou a cabeça devagar e colocou o sorriso no rosto como sempre fazia.

-Katherine! Quando chegou, querida?

-Agora... Eu... O quê aconteceu? – Por  mais que me esforçasse para manter meus canais lacrimais na linha, a ver daquele jeito me fez repensar no tempo que passei fora.

Além de covarde, é uma péssima filha. Parabéns, Kate, você merece o prêmio de pior mulher do universo!

-Não se preocupe, é só um resfriado idiota.

-Se fosse somente aquilo, fios não estariam no seu corpo, muito menos essa quantidade de caixinhas de remédios ai. Não minta para mim, por favor, Dona Mary.

-Eu estou bem, querida, pode acreditar. Vamos, você deve estar com fome. – Ajudei-a a levantar, tomando o máximo de cuidado com os equipamentos ao seu lado. Tudo bem, aguente as consequências.

*

-Mark é só meu amigo, mãe!

-Sim, claro que é. Um amigo que vem para cá todos os dias praticamente. – Mary agarrou o bule de chá e serviu a nós três, derramando poucas gotas na mesa por conta de suas mãos tremulas.

-Lena, você está namorando?

-Até você, K?! Não! Achei que estava do meu lado. – Lena gritou, completamente corada, enquanto eu e mamãe riamos da vergonha que sentia.

Senti saudades desse chá, da televisão ligada em novelas mexicanas, dos episódios de Gilmore Girls, das ervinhas plantadas do jardim e principalmente do gosto da comida que aquelas panelas meio antigas preparavam. Já era tarde e nós três usávamos pijamas de flanelas com estampas variadas de bichinhos, sem nos preocuparmos em ser vistas. Ao levar a xícara aos lábios, pude ver a fina pulseira dourada que ganhei de natal. "Para K. C.". Christopher...

-Que linda, K.! Você comprou ela? – Um leve tremor atravessou meu corpo. Minha irmã encarava o objeto tão profundamente que tive um pouco de ciúmes. No que está falando, louca?!

-Não, ganhei.

-De quem? Do seu namorado? – Oh, como eu queria que fosse... Mas nós não podemos, somos de mundos diferentes, e para variar, fiz merda.

-Não.

-Mas você gosta dele, não gosta?

Preferi ficar calada. Dei as costas e fugi novamente de uma situação complicada. Muito bem, que grande exemplo você é para a humanidade! Chequei o celular na esperança de encontrar alguma mensagem de Sarah ou Meg – principalmente de Meg -, mas a única coisa que encontrei foram notificações do banco.

Quitei  minhas dívidas, e depositei um valor na conta reservada para a faculdade de Lena. Quero dar á minha irmã a oportunidade que nunca tive. Quero que ela se case e tenha filhos, compre tudo que eles quiserem, racionalmente, e não se preocupe se irá conseguir pagar o jantar, ou algo assim.

Droga! Preciso tirar tudo da minha cabeça, antes que a loucura se faça presente.

Visito minha antiga agenda e torço para que Jessica não tenha trocado o número do telefone. Por sorte, não.

-Alô! Jessica?

-Sim... Quem é?

-Katherine. Eu estudei com você no primeiro semestre da faculdade!

-Ah, Kate! Lembro-me de ti! Você sumiu, o que houve?

-Hm... Você quer sair? Preciso relaxar um pouco e te conto o que quiser saber.

-Claro! Conheço um lugar, passo ai na sua casa daqui a pouco. Mesmo endereço?

-Sim. – E desliguei.

Hoje eu sairia daqui, me divertiria, e tiraria um certo cara cego e gostoso da cabeça.


*****

HEY! Desculpem a demora, tive problemas... Enfim, comentem, votem, e até o próximo! Veremos o que Katherine fará para esquecer Christopher. O que acham que será?

Beijos!

Para SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora