friday's appointments

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O alarme das cinco horas da manhã tocou e meus olhos não tinham se fechado um sequer segundo desde que me deitei naquela cama.

A preocupação com minha família me impossibilitava de dormir. Toda a situação que se estabeleceu na minha vida, tudo aquilo, não permitia meu corpo descansar o cérebro por segundos.

Meu corpo doía, e sem dúvida, olheiras pretas assombravam meu rosto. Tem sido assim nos últimos meses, não consigo fechar os olhos na hora de dormir, ou, quando consigo, durmo por pouco mais de uma hora.

Além do nervosismo crônico, fui diagnosticada por distúrbio do sono, que inclusive, foi desencadeado pelo nervosismo. Tenho a quase todos os momentos, crises de ansiedade, que me impedem de concentrar-me em minhas tarefas.

Todos os dias, acordo cedo, antes de todos da minha casa, para fazer coisas que possam ajudar minha mãe. Atualmente, ela é a única que trabalha na nossa enorme família de quatro pessoas. Meu pai foi despedido fazem quatro meses.

No começo, ele procurava emprego todos os dias, distribuía currículos e não cansava de tentar conquistar um novo cargo. Ele não parava de sorrir o dia todo, todos os dias, como se estivesse tudo sob controle. Mas aos poucos, depois de pouco mais que duas semanas, sua energia para sorrir foi acabando e ele se cansou da vida.

Uma vez eu li que, quando uma pessoa passa a se cansar da vida, ela perde a cada dia o prazer de viver, e a vida vai perdendo sua cor e sua graça. Até o dia que ela decide jogar só na próxima rodada da vida e ela parte, vai embora. Ela morre.

Isso na época, não me importou muito. Mas depois que meu pai caiu na depressão, tudo passou a fazer sentido. Eu precisava salvá-lo daquilo, ou mais tarde, lamentaria por não o ter ajudado, e choraria em sua lápide.

Meu pai faz tratamentos. Um psicólogo o visita todos os dias. Aos poucos ele melhorará, eu tenho fé que ele vai. Tenho fé que ele conseguirá se recuperar.

O pior de tudo não é isso, apesar de ser ruim. Além dele, também faço tratamento para minha síndrome com uma psicóloga. Mas isso tudo custa dinheiro, muito dinheiro. Pagar um médico para ir todos os dias tratar do meu pai não é fácil. Um emprego só não resolve.

Por isso, tento auxiliar minha mãe com o máximo. Tenho apenas dezessete anos. Tenho um horário escolar muito puxado e tento trabalhar em meu tempo livre. Estudo das sete da manhã às cinco da tarde de segunda à quinta, e de sexta saio quatro horas antes.

Todas as sextas, as três horas da tarde, tenho horário marcado no consultório da Doutora Hodgman. Ela me ajuda a resolver problemas, me acalma e me dá conselhos. É como uma verdadeira amiga.

Nos outros dias da semana, depois da aula, vou a um trabalho que arranjei. Na maioria das sextas-feiras, apareço por lá depois da sessão também. Limpo mesas e atendo clientes em uma lanchonete perto da minha escola. Meu salário semanal depende da minha produtividade. Se eu atender mais clientes e limpar mais mesas, ganho mais. Caso contrário, ganho uma merreca. Minha mãe não sabe desse trabalho, ela acha que fico em casa estudando ou cuidando do meu irmão, Mike.

Levanto logo da cama e coloco minhas calças jeans que estavam jogadas na cadeira. Pego uma camiseta preta no cabide e troco a do pijama por ela. Meus longos cabelos loiros estavam todos bagunçados e com nós visíveis, então trato de penteá-los. Coloco meus tênis e vou direto à cozinha.

Coloco o café para fazer e pego seis fatias de pão de forma no armário. Ligo a torradeira e as coloco lá. Vou até a sala e a arrumo, ponho as coisas nos seus devidos lugares. Depois volto ao meu quarto e arrumo minha cama.

Ao ajeitar o segundo travesseiro no lugar certo, a torradeira apita e eu me direciono à cozinha para retirar as duas fatias e pôr outras duas. Pego uma delas e passo manteiga, logo depois comendo com vontade, já que meu horário de almoço é só às duas da tarde.

psychologist • shawn mendesOnde histórias criam vida. Descubra agora