You can be my cure (Destiel) || CORREÇÃO

SETE

Talvez houvesse algum som, Cas tinha quase certeza, mas tudo parecia tão distante que era como se ele estivesse ouvindo algo abafado há metros de distância. Sua cabeça girou quando seu pai pousou a bebida na mesa. Ele não era de gastar o dinheiro escasso com isso, ultima vez que viu seu pai nesse estado foi no dia da morte de sua mãe, os restos dos outros dias ele passou literalmente como uma estátua de decoração na casa.

Castiel lembra de cuidar de Gabriel e do bebê recém nascido que não parava de chorar com exceção das vezes que estava dormindo. Havia sido nomeado Rafael pelo ultimo suspiro da mãe. Chuck não queria olhar para os filhos. O sofá da sala havia se tornado seu espaço pessoal. Ele só saia para comer e voltava para lá cobrindo o rosto com um lençol e deixando as lagrimas rolarem. Passou semanas assim, ainda era vívido esse sentimento em Cas.

— Ele vai ficar assim pra sempre? – perguntou um dia Gabriel segurando a manga da blusa de Cas que colocava as roupas no varal.

O irmão raramente chorava, parecia algo incompreensível para o pequeno. Lúcifer tinha sua própria forma de lidar com o luto, gostava de destruir tudo, quebrou tantas coisas que o quarto dele parecia ter sido bombardeado. Miguel sentava nos cantos da casa e abraçava as pernas olhando para o nada preso em seu próprio mundo. Gabriel e Castiel eram os mais fortes, guardavam tudo para si e faziam de tudo para manter o cotidiano, como ir as aulas e tentar deixar a casa apresentável.

Se não fosse por eles. Tudo teria desabado em suas cabeças.

— Não Gabe, não vai. Ele vai ficar bem, só precisa de... – Cas olhou o sofá da sala pela janela de vidro a partir do exterior. Chuck movimentou o corpo sentado e embrulhado no lençol, mudou o canal da TV até parar em um programa sobre plantação vertical e hortas em casa. Era a primeira vez que seu pai ligava a TV naquela semana. 

— Tempo. – Suspirou voltando a atenção as suas roupas e de seus irmãos.

Naquele dia tarde da noite Chuck acordou a todos com um barulho de um motor no jardim. Castiel levantou suado e correu para fora assustado apenas para vê-lo trazendo pilhas e pilhas de madeira e outros materiais, incluindo vidro.

— Pai? Pai? O que está fazendo? – Ele o ignorou. Lúcifer saiu pela porta assim como Miguel e diferente de Cas ele sabia exatamente o que Chuck estava fazendo.

— Deixe ele, Castiel. Está construindo uma estufa.

O pai tinha encontrado sua forma de dar a volta por cima, tudo graças ao programa de TV.

— Como sabe? – perguntou Gabe sonolento na soleira da porta. Os pés descalços no chão frio da madrugada se contorcendo. Ele usava um pijama com estampa de cupcakes e não tinha vergonha nenhuma disso.

Gabe ama doces, só eram raros em sua família, mas ele faria tudo para ter um doce todo dia.

— Eu nasci com irmãos burros? – zombou Lúcifer – Eu o vi assistindo aquele programa. Parecia interessado demais pra não fazer nada a respeito.

Cas continuava encarando o pai, uma sensação de alivio o tomou, finalmente ele voltaria a ser como era antes, talvez até falasse. Lúcifer pegou a todos de surpresa movendo os pés na direção do pai e o ajudando com uma tora de madeira pesada. O pai sorriu para ele e no mesmo instante Castiel também correu para ajudar, ele adoraria receber essa mesma expressão de Chuck, mas não houve sorriso de volta. Isso não o impediu de continuar erguendo os vidros com bastante cuidado, no entanto.

As quatro horas do segundo dia a estufa estava feita e em menos de dois meses Chuck já começava a plantar e redecorar seu interior.

Cas se lembra de sempre tentar agradar o pai. Sempre. Mas ele nunca parecia satisfeito... Queria sempre que Castiel fizesse mais. O olhar evoluiu tanto que passou de observar para julgar. Quando Cas martelou o dedo sem querer quando pregava uma peça Chuck revirou os olhos e tomou o martelo dele fazendo o trabalho no lugar. Cas tinha certeza que fazia tudo errado pro pai, o jeito era se esforçar mais e mais e sempre ser o perfeito, talvez assim Chuck visse o quanto ele era um bom filho.