O livro de autoria da escritora Nanda Gois, nos leva à dramática história de Gabriely, uma garota que vive numa pequena cidade italiana, cuja
origem encontra-se voltada em grande mistério.
Gabriely é criada pelo pai, Victorio...
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— Deixe os documentos dela comigo que ainda hoje vou ligar para o Consulado, tenho amigos lá, que têm me ajudado com vários problemas com os refugiados e sei que dessa vez não vai ser diferente
— Lucci falou com muita convicção.
A menina se encolheu toda no canto da cela, não queria ir pra casa de um homem estranho, e se ele quisesse fazer o mesmo que o Cornélius, o que faria?
— vamos, Gabriely! Não tenha medo, vou cuidar bem de você. Seu coração bateu forte, iria pra casa de um homem. Como seria? Teve tanto medo do Cornélius e agora ia pra casa de um ho
mem estranho, nem sabia o que acontecia entre um homem e uma mulher, sabia tão pouco, queria ter ido mais à escola, não tinha estudado para aprender mais, só sabia que estava grávida porque a dona Bashira tinha dito e ela devia saber como era, pois teve nove filhos. Porém aquele homem parecia gentil, afinal tinha vindo tirá-la da cadeia, mesmo sem conhecê-la. O homem pôs a mão em seu ombro para levá-la para o carro. Na porta da sala do delegado, voltou-se e pediu os documentos da menina. Isso foi outro gesto que a fez gostar do homem. No carro ela não falou nada, embora tivesse vontade de agradecer e dizer algumas coisas. Precisava falar pra ele do bebê, pois se ia ficar na casa dele, não podia esconder nada. Na casa, se ele desse uma chance, ela falaria. Então, se ele ainda quisesse ficar com ela, tudo bem, mas senão teria que voltar para as ruas e dessa vez tomaria cuidado pra não ser pega novamente pela polícia.
— Lucci, essa menina é a que você falou? Está bem sujinha mesmo, vai lá à loja e compra uma roupa pra ela e um par de sapatos ou chinelos. Deixa o resto comigo que vou dar um banho com caco de telha até deixar limpinha.
A menina quis retrucar.
— não! Não vou tomar banho assim não, com caco de telha, não senhora.
— ora, cale a boca, e venha comigo.
Meia hora depois a menina saiu do banheiro, parecendo que tinha deixado outra Gabriely lá. Estava tão limpinha com um vestido novo, unhas cortadas, cabelos penteados e presos em um elástico. Pronta para jantar, sentou à mesa e a mulher trouxe um prato de macarrão com porpeta,, uma cesta de pão e um copo de suco de uva. Ela nunca tinha visto tanta fartura em sua frente, pelo menos não depois que o seu pai tinha adoecido. Não esperou ninguém mandar, rasgou com as mãos um pedaço de pão e molhando no molho enfiou todo na boca, logo em seguida, colocou um garfo bem cheio de macarrão. E colocando a comida sem nem mastigar... Tinha muita fome, parecia que seu estômago não enchia nunca.
O homem chegou e se admirou com ela, era mesmo outra menina, tão bonita, apesar de magérrima, tinha um porte de nobreza, podia até ser filha daquele brasiliano, pois tinha algo nela que lembrava ele. Mas que bobagem esse pensamento, ela não tem nada a ver com o senhor Álvaro. Pensou consigo e sentou à mesa bem a frente dela.