A mulher baixou a cabeça, olhou para a menina em seu colo, balançou a cabeça e sem falar nada, apenas olhou para a filha que pelo gesto da mãe percebeu que o pai da amiga estava muito mal, talvez não voltasse. Gabriely estava em choque, balbuciava coisas sem nexo, gemia e virava a cabeça de um lado para o outro; seu corpo todo coberto de poeira e lama. A mulher olhava para a menina e para os filhos e agradecia por estarem todos vivos. A carroça passava pela planície e corria solta, mas parecia que estavam em outra terra, pois ali no povoado onde moravam nada havia acontecido, os vizinhos sabiam do terrível terremoto, mas que por algum milagre não tinha passado por ali. A mulher se apressou em chamar os vizinhos que logo ajudaram a retirar a menina da carroça e a levaram para dentro da pequena casa, não tinha nada apenas colchões velhos empilhados num canto, uma mesinha e uma única cadeira, um fogão a lenha e muitas crianças famintas, mas naquela casa existia sempre um lugar para alguém que precisasse mais que ela. Deitaram Gabriely num colchão no chão e a mulher já correu na cozinha, pôs água para ferver e trouxe lençóis e uma toalha, mandou que a Latifah fosse procurar duas taliscas de madeira para fazer uma tala na perna da menina, pois era a única coisa de que ela reclamava e pela qual gemia. Falava baixinho coisas sem sentido e chamava o pai e a boneca o tempo todo.
Aos poucos ela foi imobilizando a perna da menina, colocou um faixa na cabeça dela e conteve o sangue que escorria da testa, examinou a menina para ver se não tinha hemorragias, essa era a sua maior preocupação. Depois mandou a filha preparar um chá de uma erva calmante e depois fez a menina tomar. Sentou no chão ao lado da Gabriely, ficou ali olhando para ela e desejou que tudo aquilo fosse um pesadelo. À medida que as horas passavam, a menina me-lhorava, mas não acordava, ficava só falando de olhos fechados e cha-mando a mãe. Latifah vinha de vez em quando e voltava para cuidar dos pequenos que queriam entrar e ficar com a Gabriely.
No auge dos delírios, Gabriely abriu os olhos e olhou para cima e ao invés de ver d. Bashira, ela viu a mãe, sorriu para ela e balbuciou duas palavras que fizeram a mulher chorar e a abraçá-la forte... A mulher olhava na janela esperando resposta com a vinda do filho ou do Benetto, infelizmente nem um vulto cortava a estrada. Ela voltou-se para a menina que muito se mexia e gemia, com certeza es-tava tendo pesadelos com o que tinha acontecido. Ela se aproximou, sentou-se no chão e colocou a cabeça da menina em seu colo e assim ficou com as mãos afagando-lhes os cabelos. Foi preciso quase uma semana para que a Gabriely começasse a reagir. Chorava muito e à noite não dormia chamando o pai e pedindo que a mãe voltasse. Era de cortar o coração, ver o sofrimento daquela pobre menina.
— mamma! Você voltou.
Os delírios continuaram por vários dias, ela chamava a mãe e completamente desorientada parecia estar em uma realidade totalmente diferente da sua. Dormia o tempo todo e nas raras vezes que conseguia ficar acordada, chamava a mulher para junto de si, como se fosse a sua mãe. Depois de uma semana no hospital cuidando do pai, o Benetto deixou o Cornélius com o velho e veio ver a irmã e a namorada. Ao chegar, muito triste e desolado, dona Bashira o chamou de lado e falou:
— meu filho, você está ciente da sua responsabilidade daqui para frente?
O rapaz baixou a cabeça e debruçou-se sobre a mesa, não conteve as lágrimas, chorou como uma criança.
— não! Eu não sei o que fazer, meu pai vai ficar numa cadeira de rodas para sempre, o médico me falou que com a idade dele foi um milagre ter sobrevivido e segundo o médico talvez não dure mais que seis meses. Gabriely é ainda muito menina pra me ajudar e agora sem poder trabalhar, como vamos comer?
— tenha calma! Sempre o seu pai nos tratou como da família e nos ajudou com tudo até nos dando cabras para não faltar leite para as crianças... Não vou deixá-los desamparados agora. Não posso ajudar muito, mas o que eu puder, eu ajudo. Venha! Venha ver a Gabriely, mas procure não dizer nada a ela que aumente o trauma.
— até quando ela vai ficar assim?
— não sei, já vi casos de traumas pós-tragédias que as pessoas passam muito tempo. Mas creia que a Gabriely vai se recuperar logo,
é uma defesa do cérebro para não sofrer mais, tenha calma, com a menina você não precisa se preocupar, que eu cuido dela. Cuide do seu pai, ele tá precisando muito dos seus cuidados.
— minha preocupação é quando ele sair do hospital, vai pre-cisar de uma cadeira e não vai poder fazer nada sozinho.
— agora, que vocês vão morar aqui perto, eu posso ajudar quando tiver em casa, mas sinto pela Gabriely que terá mais trabalho com ele...
Mais um capítulo e agora peço a todos os leitores para deixarem um comentário, votarem e adicionarem os livro nas listas de leitura... Em breve mais um capítulo...
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Brasiliana a menina em Riace
RomanceO livro de autoria da escritora Nanda Gois, nos leva à dramática história de Gabriely, uma garota que vive numa pequena cidade italiana, cuja origem encontra-se voltada em grande mistério. Gabriely é criada pelo pai, Victorio...