O livro de autoria da escritora Nanda Gois, nos leva à dramática história de Gabriely, uma garota que vive numa pequena cidade italiana, cuja
origem encontra-se voltada em grande mistério.
Gabriely é criada pelo pai, Victorio...
Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
Quando a mulher foi para o quarto, Latifah trouxe Gabriely para dentro da casa. Mandou que fosse tomar um banho, limpou os ferimentos que ficaram da surra e colocou um
prato de comida pra ela, que mal tocou, só comia porque pensava estar grávida e tinha que alimentar o seu bebê.
Depois que terminou de comer, levou o prato para a mesa e lavou uma pilha deles, panelas e bacias. Arrumou toda a cozinha, varreu tudo, embora suas costas doessem da força do cabo de vas-soura. Latifah observava a menina varrendo de cabeça baixa com os cabelos cobrindo o rosto, mas dava pra perceber as lágrimas que caíam no chão.
— Chega, Gaby, deixa essa vassoura de lado e vamos dormir, você precisa descansar; amanhã é um novo dia e a mamãe vai perce-ber que não devia ter sido tão dura com você. Por sinal, você é vitima dessa situação toda e não culpada. Vem, vamos deitar.
A menina não disse nada, acompanhou a amiga, deitou ao lado dela e das crianças, mas não dormiu, aquela ideia lhe consumia os ossos. Pensou muito boa parte da noite, não podia ficar mais ali, a dona Bashira não ia perdoá-la e além do mais o Cornélius ia voltar, não queria ter que ser esposa dele, mesmo ele sendo pai do seu filho. E quando o Benetto voltasse, como seria? Podia até haver uma tragé-dia por sua causa.
Nacerta a mataria de uma surra. Tinha que sair dali o mais rápido possível.Levantou-se devagar e pegou uma bolsa velha que.
estava com o pouco que tinha lhe restado, colocou opacote com documentos que seu pai lhe deixou... Não sabia ler muito bemportuguês, mas pelo pouco que entendeu, o seu nome estava nele e não iadeixá-lo. Seus únicos dois vestidos, a sua boneca Carmela. Pegou o xale e saiudo quarto em silêncio, atravessou a sala e abriu a porta com muito cuidado, esaiu para a rua, caminhou muitas horas por uma estrada sem fim... tinha comocompanhia apenas a solidão das montanhas à sua frente. Durante horas caminhou,até que o dia começou a nascer e ela com medo de ser vista ou de alguém dacasa da Latifah ir atrás dela, entrou no mato e continuou caminhando, até quesuas pernas não aguentaram mais. Sentou-se numa pedra e sentiu muita fome, umcansaço tomou conta de seu corpo. Tirou um pedaço de pão do bolso e comeuapenas uma pontinha, só para enganar o estômago. Ficou ali sem forças paraandar, mas resolveu deitar um pouquinho na pedra, embaixo daquela enormeárvore. Pegou a boneca na bolsa e a colocou juntinho do seu pescoço,encolheu-se toda e assim dormiu, quase que o dia todo. Quando acordou, ouviu aolonge passos apressados, juntou tudo e correu para a mata fechada. Viu quandoalgumas pessoas gritavam seu nome. Inclusive Latifah. Pen-sou por um momento emaparecer e voltar com ela, mas lembrou do que tinha acontecido e olhando para abarriga, passou de leve a mão afagando o que ela acreditava ser um bebê.Continuou escondida, até que todos passaram. Não podia mais ir por aquelecaminho, tinha que procurar outra direção para chegar à cidade. Lá iriaperguntar a alguém como chegar a Reggio e depois iria caminhando até onde oirmão estava, ela mesma iria contar pra ele. Estava disposta a pedirmisericórdia e sabia como ele era bom... Mesmo que batesse nela, com certezateria pena do seu bebê... Voltou a andar pelo mato, até que escureceu, nãoparou, sentia sua barriga roncar e imaginou que era o seu filho com fome;parou, comeu mais um pedaço de pão. ...