O passado de Thais

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...

-Cadê a garotinha do titio? -Carlos entrara apenas de samba canção e regata no quarto da sobrinha e já tapara a boca dela para que não esboçasse um grito ou gemido sequer- Tava com saudade?

Mais uma vez dissera a Ivete que estava sem sono e iria assistir tv na sala. O que ele não imaginava era que ela estava bem atenta a cada passo dele.

Thais já não tinha mais forças para reagir, sofria calada, seus gritos eram internos, mas eram de desespero, de medo, nojo, sentia nojo, nojo dele, nojo dela, não se sentia dona do seu próprio corpo, corpo que ele destruía a cada abuso, a cada toque sem qualquer consentimento. Jamais voltaria a ser a mesma, jamais teria a vida de uma adolescente normal, para contar a melhor amiga como foi sua experiência na primeira vez.

Aquele ato não era uma primeira vez, era o primeiro estupro, era violência, ele pensava apenas em sua necessidade fétida, em seus desejos e prazeres, mesmo que aquilo a destruísse, por dentro e por fora.

Carlos não pensava nela, muito menos em Ivete, sua esposa que tanto o ajudou. Só se alegrava em dizer:

-Sua tia foi tão gostosa quanto você um dia, sabia?

-Seu porco, nojento. Um dia vai se arrepender de tudo que está fazendo. Vai doer muito mais em você do que o que faz comigo e minha tia.

-Cale-se vagabunda! Apenas cale-se!

E assim continuou a usar seu corpo, a fazer dela um objeto.

Thais perdera a força, tentava relutar, ser forte, mas a tensão , unida à dor, a humilhação que sentia a fizera desmaiar, perder completamente as forças, principalmente pelo fato de que não se alimentava a dias. Tudo começou a girar, sua vida de tristeza passava por sua cabeça, seu estômago revirava, sentia vontade de vomitar, seu corpo doía, seu sexo era destruído e ela não resistiu. Deu um último gemido de dor e perdeu os sentidos, ficou sem cor, parecia morta, desmaiou.

Ivete ouvira o que ele disse e tentou da porta gravar algo pelo celular. Quando ouviu sua sobrinha gemer de dor e desespero sentou na porta chorando desesperadamente, em silêncio, sem saber o que fazer dali para frente, encostou na parede, e ligou para a polícia silenciosamente. Voltou correndo para o quarto, não podia criar alarde, ele precisava achar que estava tudo bem. Ligou também para a emergência.

A imagem de sua irmã não saia da sua cabeça, seu cunhado, como ela se sentia mal, inútil, falhou, falhou em não perceber que casara com um monstro que destruiu sua sobrinha, que trouxe dor, medo e trauma para o resto da vida dela.

Seu cunhado tratava Thais como uma princesa, sua irmã também e no entanto ela que queria poder tratar bem a sobrinha e poder chegar pelo menos perto do que seria uma família, perto porque a ausência dos pais é algo dificilmente superável, não conseguiu.

Carlos viu que Thais desmaiou e ficou com medo, vestiu a roupa nela e foi para o quarto onde Ivete fingia dormir após ter ligado para a polícia e para a emergência.

Ela despertou e disse a ele que iria beber água.

Foi direto para o quarto de Thais, aos prantos, temendo o pior.

Ela estava começando a reanimar, tentando se levantar.

-Thais, minha filha(ela nunca chamava Thais assim), me perdoa, meu amor.

-Tia...-ela mal conseguia falar- Tia eu não tive culpa, eu não...

-Fica calma meu amor, isso não vai acontecer mais, nunca mais. Ele nunca mais vai encostar em você.

Ivete abraçava a sobrinha com força, beijando-lhe a testa, passando a mão em seus cabelos, tentando acalma-la. Thais estava em choque. Chorava desesperadamente.

Sentia vergonha, medo, não conseguia encarar a tia, tinha medo dele voltar.

A Polícia bate no portão.

-Tia, quem é?

-Calma meu amor, é a polícia, esse monstro jamais vai te tocar novamente.

-Cadê ele? Tia, eu não queria atrapalhar a sua via, eu juro que não queria.

-Eu que não queria acabar com a sua trazendo você para morar com um monstro desse. Me perdoa meu amor.

Ivete sabia que aquela noite seria longe, de delegacia, depoimento, exames, interrogatórios atrás de interrogatórios.

algemado

Carlos levantou e foi ver o que estava acontecendo, Ivete do corredor do quarto já gritou para que o prendessem, uma vez que temia que ele pudesse fugir.

-Levem esse monstro, ele abusou da minha menina. Você nunca mais encosta nela, monstro!

-Eu não fiz nada! - gritava ele já temendo com que a polícia o algemasse. - Do que está falando, está louca?

-Diga Thais, diga o que ele fez, ele foi até seu quarto ou não?

-Fo..foi...-abaixava o rosto, sentia medo.

Ela já tinha feito Thais levantar para irem para a delegacia, Thais estava nervosa, mal conseguia ficar em pé, mal podia encarar Carlos e a polícia, sentia medo e muita vergonha.

Carlos foi levado e elas foram também prestar depoimento, e Thais levada para fazer todos os exames possíveis para provar que houve realmente estupro.

Foi horrível, ela ter que novamente ter seu corpo tocados por estranhos, mas aquilo logo acabaria. Sua tia não saíra do seu lado em nenhum momento, tinha medo de que a sobrinha pasasse novamente por aquela situação horrível, qualquer homem que chegasse perto de Thais ela já a abraçava, com medo de que pudessem machucá-la.

Voltaram para casa era quase tarde já.

Thais tomou um banho, recusou o café da "manhã" que ela fez para ver se a menina se alimentava e dormiu, um sono pesado, porem bem conturbado. Falava diversas vezes durante o sono, parecia as vezes pedir socorro, ou tentar lutar. Era horrível ver sua sobrinha tão traumatizada daquela forma.

Internamente pedia perdão, por ter sido cega, por deixar as coisas chegarem aquele ponto. Carlos nunca havia se mostrado alguém daquele tipo, ela nunca desconfiou que ele pudesse chegar aquele ponto. Ao ponto de estuprar sua própria sobrinha, que criavam como filha desde que seus cunhados haviam falecido.

Tudo que ela queria agora era fazer o possível e impossível para que Thais pudesse sair daquela depressão, pudesse conviver melhor com ela, se sentir mais segura, levá-la a algum profissional.



Ivete levou Thais a psicólogos, e depois de uns 2 anos quase de terapia ela se sentia mais segura, não tinha tanto medo quando algum homem chegava perto dela, já conseguia ir para a escola normalmente e estava prestes a terminar o ensino médio.

Nunca deu um trabalho sequer a sua tia, era só orgulho, mesmo diante de tantos problemas em casa, se dedicava aos estudos e nunca deixou o sonho de ser arquiteta, como eram seus pais, nunca quis ser porque eles preferiam assim, mas porque ela também amava aquela profissão deles, achava incrível e ia ser tão boa quanto eles, ser bem sucedida e depois de se estabilizar, seria a vez dela de cuidar da tia que mesmo com todos os seus defeitos era como uma mãe para ela.

Anos se passaram e ela de fato virou, uma arquiteta fantástica, com um currículo impecável, enchendo Ivete de orgulho.

Nunca se interessou por namorar, sempre teve medo, por mais que a terapia a tivesse ajudado muito, ela ainda sentia medo da maldade das  pessoas até que um certo dia, uma garota a olhava sem parar e ela não sabia porque mas estava amando aquilo.

Era Lara, Lara era da mesma universidade, mas estava em outra turma, mas sempre se esbarravam pelos corredores porque suas salas eram no mesmo corredor.
Lara fazia questão de encontrá-la por "coincidência" em tudo que é lugar em que ela ia, era fofo no início, mas mal sabia que essa fofura toda, anos depois se tornaria algo abusivo e sufocante.

Lara sabia o que queria.
Mal Thais imaginava o quanto iria sofre com esse relacionamento, logo ela que tanto já sofreu com o tio, dentro de casa, onde deveria estar segura.

Minha Amiga Virtual (Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora