Enquanto isso

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-Mãe, por favor, me deixa dormir. Eu não consigo fazer nada, não consigo sair, não paro de sentir dor. Pelo menos dormindo não sinto nada disso, não sinto raiva por estar aqui atrapalhando vocês. 
-Garota, para de falar besteira! Não seja mal agradecida, a umas semanas atrás você nem os olhos abria, estava em coma, por um fio de vida.
-Me desculpa mãe. 
-Você sabe como é desesperador para mim ficar parada, sem fazer nada, atrapalhando as pessoas, eu não me sinto bem,
-Sofia!
-Só queria voltar para a faculdade, poder eu mesma ir ao mercado quando sentir vontade de comer algo diferente, eu mesma dirigir quando quiser ir a algum lugar. Eu queria poder viajar!
-Filha, você logo estará bem. 
-O Vini vai vir me ver hoje?
-Eu não sei, provavelmente sim, ele não deixar de vir. Sempre está aqui com você.
-Mãe, enquanto eu estive em coma, quem ficou com meu celular? 
-No dia do acidente e uns dias depois o Vinícios, mas depois eu mesma fiquei.
-Meu corporativo foi roubado, na conveniência que eu passei mal e cai. Mãe, minha amiga ligou depois da última vez que me visitou no hospital?
-Lavínia? Não ligou mais, Vini disse que até tentou ligar para ela mas nada dela atender ou responder mensagens.
-Hum...
-Ela foi te visitar algumas vezes, parece uma boa pessoa, mas  de onde conheceu essa menina? Nunca tinha comentado dela.
-Pra que quer saber mãe? Foi numa festa da faculdade.
-Sei. Enfim, ela não deu mais notícias, mas parecia preocupada contigo, passou varias tardes comigo no hospital. 

Sara estava ficando intrigada com Lavínia mas tentava não transparecer para Sofia.


-Melhor deixar isso para lá então né mãe, se ela não ligou nem apareceu mais é porque não se importa.
-Eu também acho.


Sofia estava chateada com Lavínia, sabia que tudo que viveram tinha sido lindo, mas que provavelmente para Lavínia tenha sido só quilo e pronto e foi ao hospital só por peso na consciência mesmo.

Lavínia era importante para ela, mas sabia que era só talvez mais um caso de internet, Vinícios não, estava sempre ali, do lado dela, com todos os defeitos, era ele que a acompanhava em tudo e para tudo.

Seus dias eram estressantes, entre consultas, fisioterapia, medicamentos, dores, etc.
Sentia falta de algo, de alguém, mas não sabia o quê.
O que mais queria era se recuperar logo, para poder retomar a sua rotina, estágio, faculdade.


-Ela não ligou mesmo mãe?
-Sofia, se eu disse que não, é porque não ligou, mas que coisa.
-Por que está nervosa?
-Não estou nervosa, só não gosto de ser questionada.
-Quem mandou ter uma filha advogada?
-Que era para ser médica.
-Mas que é advogada e a senhora deveria aceitar isso, você e papai me magoam com essa história.
-Sofia, ela não ligou. Ah, e outra: Esquece essa história, colega não é amigo, ela é só alguém de uma festa de faculdade, que chatice esse assunto.


Era no mínimo estranha essa atitude de Sara, logo ela que defendia Lavínia no hospital quando Vinícios dava seus ataques.
Por que agora não queria tocar no assunto, quando o mesmo era Lavínia?


Passados 15 minutos, Vinícios chega.


-Oi, meu amor! -diz ele entrando no quarto, com um vaso de flores para Sofia nas mãos.
-Oi, Vini. Você está bem amor?
-Melhor agora, te vendo bem, sem risco nenhum.
-Lindo.
-Vini, não precisava trazer mais flores, amor.
-Claro que precisava. Hoje vou te levar para jantar.
-Não vou sair de muletas, desculpa, muito menos de cadeira de rodas.
-Poxa Sofia, tem que reagir, sair de casa. Não tem que se envergonhar.
-Não vou, sério. Jantamos aqui em casa, amo a comida da minha mãe.

-Você está toda estranha, desde antes desse acidente. Lavínia te ensinou assim?
-Conhece ela para insinuar isso?
-Conheci no hospital.
-De vista, nunca conversou com o suficiente para saber como ela é, não o suficiente para saber se ela é alguém influenciável o bastante para me virar a cabeça, então por favor, sem piadinhas.
-Ela deve ser mesmo bem importante para você né? Só não entendo porque alguém tão importante assim não está aqui para te acompanhar nessa fase tão difícil.
-Mandei mensagem para ela, algo deve ter acontecido, se não respondeu é porque não deu, mas ela é minha amiga e não sua, portanto sem piadinhas.
-Ok, Sofia! Desculpa por isso!


Sofia não aguentava as ironias de Vinícios, o ciúmes, mas não podia negar que ele se importava com ela, Lavínia nem sequer fora em sua casa. 

Ainda bem que tudo tinha acabado de uma vez por todas antes que ela se apegasse mais.
Algo era incompleto dentro dela, mas não sabia explicar o que era.

A vontade que tinha era de fazer algo para saber, mas preferiu deixar essa história de lado, foi um fim de semana, uma aventura, não valeria a pena ficar estendendo isso.

Decidiu apagar o número de Lavínia e esquecer, esquecer o que aconteceu, esquecer o beijo, a noite no Orquidário, o domingo na casa dela, o cinema, esquecer tudo.

-Sofia, te trouxe um livro, talvez você goste.
-Obrigada Vini, não precisava se incomodar com isso, eu estou com tantos para ler.
-Aceita, sei que você ama livros. Lembra quando quase me matou por ter usado a capa de um dos seus para usar como apoio para escrever.
-Nossa! Lembro disso, jamais faça aquilo novamente.-diz ela com o livro na mão, levando-o para bem perto do nariz e sentindo o cheiro delicioso que tem um livro novo.
-O que está fazendo? - pergunta Vinícios achando bizarro o que Sofia estava fazendo.
-Hahahaha, mantendo meu único vicio, o vício em cheiro de livro novo. É o melhor perfume, perfume da sabedoria.
-Você é maluca, garota. Hahahahaha! Eu amo você sabia? - olhando para ela com os olhos brilhando - Não sei o que seria de mim se tivesse me deixado.
-Pensou que ia se ver livre de mim assim tão fácil?
-Nem queria! Nem consigo imaginar como seria perder você, eu enlouqueceria.
-Não fala assim. - disse ela engolindo a seco aquelas palavras, sentindo um certo receio.


E se um dia ela quisesse sair desse namoro, independente dela estar com alguém ou não, era preocupante que ele estivesse assim tão obcecado por ela.



Minha Amiga Virtual (Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora