Volta para Casa

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Lavínia voltou para casa aos prantos, Duda tentava acalma-la, mas nada resolvia.
O que faria agora? Estavam distante uma da outra, tanto pela distância quanto por uma cama de hospital e um namorado idiota que só não a incomodou mais pois D. Sara não permitiu.
-Lavínia(Duda interrompeu seus pensamentos), eu acho que você tem que ser forte, precisa ter fé, precisa acreditar na melhora dela. Sofrendo assim, chorando assim não vai recuperar a saúde e estabilidade de Sofia. Precisa passar vibrações positivas para ela.
-Eu sei Duda, mas é que você não viu o que eu vi, era desesperador ver a
mulher que estava comigo no fim de semana linda, cheia de vida, radiante, outra mulher numa cama de hospital, ela estava tão fraca, tão machucada. Meu Deus! Ela precisa voltar para mim.
-Ela vai voltar! Vá sempre visitá-la, eu posso conversar com meus pais, eles deixam eu ir com você numa boa.
-Meu anjo, nem sei como agradecer, mas, não posso aceitar, você precisa estudar, você e a Valentina. Já fizeram muito por mim hoje e eu serei eternamente grata a vocês. Vocês duas são alunas que vou levar da escola para a vida, como amigas.
-Nós duas também! Mas isso não vai me atrapalhar. Faço questão! Quando nos formarmos e casarmos, queremos você como madrinha.
-São muito novas para pensar em casar, Duda!
-Ela é a mulher da minha vida! Não vejo outra mulher no lugar dela. Eu, ela, não somos como esses adolescentes que trocam de parceiros como trocam de roupa íntima. Nos damos muito bem, quando algo ruim acontece tentamos concertar, nos reerguer, não curtimos essa parada de tempo, de terminar por qualquer coisa. Nos amamos e isso basta!
-Nossa, que lindo Eduarda!(olhos marejados) Eu quero um amor como o de vocês também.
-Você terá! Cada um tem seu tempo, o seu vai chegar.
-Você é tão madura para sua idade, sabia?
-Que nada, hahahaha é que a Valentina realmente é o amor da minha vida, mas
ela pega no meu pé sabia?
-Sério? Por que?
-Diz que não é jogando video game que vou me tornar uma grande advogada.
-Hahahaha olhaa! Toma essa! Que namorada brava!
-Viu como não sou tão madura assim? Ela me faz desligar o vídeo game e tudo. Ela diz que precisa ouvir o bip do game e da tv desligada, e quer que eu abra os livros, senão não sossega.
-Ai meu Deus, que orgulho de vocês! Vocês serão tão bem sucedidas, tenho certeza.
-Com certeza! Sabe, nossa condição sexual já dificulta tanta coisa, pelo menos assim teremos uma vida digna e esfregar na cara dessa sociedade preconceituosa que nós "gays" também temos profissão, que batalhamos, que não somos apenas sexo e promiscuidades como acham que somos.
-Vejo verdade em suas palavras e não duvido disso sabia? Tenho certeza que vocês duas vão longe.
-Vamos, com certeza!
-Orgulho de ver daqui uns anos vocês duas bem sucedidas e dizer batendo no peito: "Foram minhas alunas"
-Queremos você na primeira fila em nossa formatura, tanto na minha quanto na da minha doutora.
-Estarei, eu e Sofia se tudo der certo. ela amou vocês duas!
-Mesmo?
-Mesmo, ficou encantada.
-Quero que mantenham esse gás sempre. Faculdade as vezes cansa, ainda mais o curso que escolheram, fica corrido, trabalho e uma porrada de provas, mas não desanimem nunca. Vida social, esqueçam por um tempo, mas, no final valerá à pena, vocês vão ver.
-Estamos cientes.
-Duda, você está entregue. Manda um beijão para a sua mãe, agradeça a ela por mim. Só não faço pessoalmente porque estou com a cara mais destruída do mundo, inchada de tanto chorar.
-Ela vai entender, vá para casa descansar. Me liga quando chegar?
-Claro! Boa noite meu anjo, obrigada por tudo.
-Boa noite! Cuidado tá?(disse dando um beijo carinhoso no rosto de Lavínia e a abraçando bem forte.)
-Tchau tchau!

Duda de certa forma acalmou bastante Lavínia, nem parecia que ela e Valentina eram apenas adolescentes, afinal, eram muito maduras, tão seguras de si, nunca se importando com a opinião das pessoas, nem
mesmo quando as pessoas faziam brincadeiras de mau gosto, ironizavam ou chamavam-nas por nomes pejorativos como "sapatões" , "mulher macho". Isso nunca afetou nenhuma das duas pois eram felizes como eram e se aceitavam independente da maldade das pessoas.
Ao chegar em casa, ela se afundou no sofá e pegou no sono.
Depois que falou com Vinícios e foi para o hospital não pegou mais no celular, afinal, não tinha mais motivos para esperar mensagens de ninguém, nem ligações, afinal ela sempre esperava de Sofia, que nesse momento estava impossibilitada de qualquer coisa.
Insistentemente seu celular tocava durante o sono, até que por fim ela despertou e atendeu.
-Olá, sou eu, Thais!
-Oi, Tha, tudo bem?
-Te acordei?
-Uhum(disse com a voz embargada de sono)
-Me desculpa. Você está bem?
-Nada bem e você?
-O que você tem? Precisa se ajuda?
-Não Tha, só preciso ficar sozinha. Descansar um pouco porque é uma longa história.
-Poxa, e como vou ficar despreocupada se está aí mal, me conta o que houve.
-Hoje não, me desculpa.
-Ok.
-Desculpa mesmo.
-Está tudo bem. Vou deixar você a vontade então. Qualquer coisa, promete que me liga?
-Prometo!
-Tchau, tchau. Boa noite!
-Boa noite!

Lavínia sentia um aperto tão grande no peito. Tudo que mais queria era poder estar do lado de Sofia a todo tempo, mas não seria possível, primeiramente porque tinha que dar aula, Vinícios que jamais daria paz e ia achar uma oportunidade de questiona-la assim que Sara não estivesse perto.

Dormir estava fora de cogitação, porém não sabia o que fazer para passar o tempo. Tudo que mais queria era que chegasse o dia seguinte após a aula para que pudesse ir até o hospital visitar Sofia.

A aula correu bem e então ela foi para casa se arrumar para ir a Salto, ao sair da garagem, Thais estaciona.

-Oi Lavínia, resolvi vir te ver. Fiz mal?
-Poxa, estou de saída, preciso visitar uma amiga. senão adoraria mesmo a companhia.
-Ta fugindo de mim?
-Hey, fugindo de que, afinal? Eu só preciso sair, senão poderia ficar aqui com você conversando numa boa, mas não posso e espero de verdade que me entenda. Caso não possa entender, sinto muito, mas já estou indo.

Lavínia nem se deu conta do quanto
você estúpida com Thais, e pior, sem nenhuma necessidade.
Thais ficou sem reação, de fato não esperava aquela reação, não vindo de Lavínia que mesmo em pouquíssimo tempo de convívio se mostrou alguém tão doce.
-Certo! (respondeu Thais)

Thais deu partida no carro e saiu sem
nem se despedir, se sentiu muito mal
por ser maltratada daquela forma.
-Thais! (gritou Lavínia, sem sucesso pois a amiga nem olhou para trás)

-O que eu fiz?(pensou ela, com lágrimas nos olhos)

Lavínia pegou a estrada, pensando no que tinha feito.
Thais era alguém legal, não merecia ser tratada daquela forma, mas Lavínia estava tão cega e apaixonada por Sofia que não conseguia pensar em mais nada, senão em "sua ruiva".
Na estrada se sentia mal, só de saber que naquele mesmo lugar ela quase a perdeu.
Sentia-se preocupada com o que ia encontrar no hospital. Se Vinícios estivesse lá, novamente aconteceria aquele encontro indesejado pelo qual ela não queria passar mas que não tinha outro jeito.
Por sorte, ao chegar lá, apenas Sara estava no corredor, sozinha. Fazendo orações pela filha com um terço na mão.
-D.Sara?
-Oi minha filha, tudo bem?
-Estou bem, tirando essa preocupação com Sofia.
-Você é amiga de verdade dela mesmo né? Vejo em sua expressão o quanto se importa com ela. 
-Gosto muito dela, ela é uma pessoa incrível. Está de parabéns com a criação que deu a ela.
-Oh minha filha, muito obrigada.(disse
com lágrimas nos olhos e abraçando forte Lavínia.
-Ela é forte, vai sair dessa.
-Vai! E te digo mais: se for tão forte quanto é teimosa, jajá ela sai dessa uti.
-Sai mesmo, tenho certeza que sim.

Minha Amiga Virtual (Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora