MITCHEL STARK - Capítulo 7

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Elizabeth Holmes

Olho pela janela pela décima vez. Judith ainda não voltou do seu encontro, e estou esperando ela. Falo para mim mesma. Se eu repetir muito posso até acreditar. Na realidade meus olhos não saem da casa do meu vizinho, está tudo apagado no andar de cima.

Agora consigo ver uma movimentação, uma mudança de luzes. Quando eu menos espero a luz do quarto dele (ou que espero que seja, pois está logo em frente ao meu) se acende.

Maldita sorte a minha.

Estou há meia hora aqui e quando finalmente consigo alguma coisa, o que vejo é essa cena tão obscena, nojenta e repugnante, na casa da frente.

Ele é perturbador.

Meu novo vizinho e uma loira se beijam loucamente, e como a luz do quarto está acessa iluminando todo o ambiente eu consigo ver amplamente quando a mão dele sobe até o traseiro dela.

Eles podiam ter fechado a cortina pelo menos.

Sinto uma pontada no peito, é diferente de tudo o que senti antes. É como uma decepção. Afasto esses pensamentos rapidamente. A vida é dele e não tenho nada a ver com ele, o que me deixa aliviada.  Tudo bem, essa última parte é mentira, mas ninguém precisa saber.

Ele não é nada para mim, nada.

Estou a ponto de desviar meu olhar, quando nossos olhares se encontram. Vejo seus olhos me olharem com verozidade. Seus cabelos estão bagunçado - assim como os da loira.

Eu esperava que ele parasse o beijo, mas ao contrário do que achava ele simplemente o intensificou mais. Agarrou sua cintura mais forte e prendeu meu olhar ao seu. Como se estivesse tentando me ferir, chegar até mim. E esta funcionando.

O ar esta cada vez mais pesado. Difícil de ser encontrado e transportado aos meus pulmões. Como se ele tivesse sido sugado. Não sinto minhas pernas e minhas mãos estão formigando.

Eles param o beijo por um momento. Nossos olhares continuam juntos. Seu olhos vermelhos transbordam malícia.

Vejo um sorriso de satisfação se formar em sua boca, antes de desviar e a jogar na cama, deitando por cima, quebrando nosso contato visual.

Idiota, estúpido, imbecil, cafageste...

Depois dessa cena, minha mente vai estar suja para sempre. Nunca mais esquecerei essa cena. Sinto lágrimas se formarem, sinto nojo e desgosto por um momento sequer, desejar ser tocada por ele.

Como eu sou estúpida, mal o conheço e já estou com ciúmes daquele traste. Sou uma trouxa mesmo.

Me deito na minha cama, solitária como sempre fui e serei.

Luna.

Esse nome de novo não. Não. Não. Não. Esse nome me aterroriza nos sonhos e agora está na minha cabeça. Malditos sonhos que mexem com a minha sanidade.

Fecho meus olhos com o intuito de afastar esse nome, mas é mais forte que eu. O sinto se repetir como um eco, no fundo dos meus ouvidos. Nunca para.

Deito de bruços, tentando me proteger. Me sinto invadida, como se meu refugio interior tivesse sido invadido e destruido. Essa voz grave na minha cabeça, junto aquela cena vai me enloquecer.

Sinto dificuldades em respirar. Se formam lágrimas nos meus olhos. Fungo uma vez tentando conter, mas em pouco tempo as sinto descer pela minha bochecha. O sentimento de solidão me atinge como um raio.

Agora não, agora não.

Respiro fundo mas parece não haver mais ar. Me concentro e repito "não é real, não é real". Não consigo raciocinar direito.

Levanto cambaleante da cama e consigo descer as escadas, mas logo me encosto na parede e me encolho para a náusea passar. Droga. Droga. Droga.

Sinto um olhar me atravessando.

Um arrepio assustador.

Me viro para a porta e o encontro me olhando.

Ele.

Ele está aqui.

Pisco os olhos para saber se é real.

Como se ele estivesse ouvido minhas preces, um anjo enviado a mim. Mas me nego a acreditar nisso. Ele não é um anjo, e muito menos um milagre.

Ele me olha com esses olhos famintos. Não como ontem a noite. Seu olhar transmite uma sensação de conforto.

Ele vem na minha direção lentanente, sem desviar os olhos. Algo me diz que ele sabe exatamente o que estava acontecendo.

— Liz — sussurra brevemente, com sua voz que é capaz de enlouquecer qualquer mulher. Ele se aproxima lentamente e senta comigo. — O que houve?

— Eu não sei. — Sussurro e sinto as lágrimas descendo.

Sim, eu sei. Um maldito ataque de pânico. Fecho os olhos e choro baixinho, seus braços passam ao meu redor e me puxam para seu peito.

— Conversa comigo, princesa. — Fungo na sua blusa e ele ri suavemente.

— Eu tive um ataque de pânico, eu acho. — Ele me olha como se fosse óbvio. Idiota. — Eu tenho algumas vezes. Quando eu era mais nova, fiquei trancada num freezer por horas sozinha. Uma pegadinha. Desde então tenho medo de lugares fechados e de solidão, por assim dizer. Uma bobeira.

— Claro que não, Elizabeth — fala com raiva. — Já passou, eu estou aqui agora.

Sim, ele está.

Isso não importa o motivo agora. Me aproximo mais dele e ficamos em silêncio por um tempo. Apenas ouvindo a respiração um do outro. Sei que terei que me afastar alguma hora, mas me tardo o máximo possível.

Nada é eterno e como tudo de bom, uma hora acaba.

— Sinto muito por te atrapalhar, você não tem obrigação nenhuma comigo. — Me afasto e levanto lentamente. Ele se levanta também.

Ele me olha com aqueles olhos. 

— Não atrapalhou.

Judith entra pela porta, ou tenta, porque logo cai no chão. Corro até ela. É sangue? Sua camisa está cheia dele, mas não me parece ser dela. Ela está cheia de hematomas no braço. Pego seu rosto pálido e ela está tão fria.

O que aconteceu?

Mitchel se aproxima com o cenho franzido, sua expressão difícil de ler.

— Vem, vamos levar ela para o hospital.

Mitchel StarkOnde histórias criam vida. Descubra agora