MITCHEL STARK - Capítulo 5

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Elizabeth Holmes

Não me lembro muito bem do que aconteceu, somente flashes. Tudo novamente. O medo, a angústia, o terror. As sensações do beijo, sua língua acariciando a minha, suas mãos na minha cintura. O desconforto com meu professor, suas palavras. Corpos espalhados pelo salão. Os olhos vermelhos.

Esses olhos vermelhos perturbadores.

Eu conheço esses olhos.

Esta tudo um turbilhão de memórias, pensamentos e sensações. Uma luz forte inunda meus olhos, junto vem uma dor na minha cabeça, muito forte.  Minha respiração acelera, uma onda de medo me invade. Sinto uma grande mão sobre meu braço, tentando me acalmar.

Quando consigo focar minha visão, vejo Nick com a mesma roupa da festa e com uma grande bolsa escura por baixo dos olhos.

— Nicholas — consigo dizer. Ou melhor, murmurar.

Olho ao redor, estou em um quarto claro. Sinto uma picada no meu braço e ao ver o que é, levo um susto. Uma agulha está enfiada no meu braço,  pela qual passa o soro, que neste momento está entrando nas minhas veias.

Tento me levantar, mas Nick impede.

— Calma, Liz. Tudo bem.

Sua voz me tranquiliza. Me traz uma paz, que sou incapaz de descrever. Ao meu lado trabalha uma máquina, que controla meus batimentos cardíacos.

— Nick. A boate, o ataque, as mortes, Judith... — Sinto minhas mãos tremerem.

— Respira Lizzy, Judith esta bem... Só esta muito preocupada com você.

Seus olhos violetas, me olham como seu eu fosse feita de vridro e a qualquer momento pudesse quebrar, estilhaçar. Olho pela janela, a luz do sol ilumina o quarto.

— Ontem a noite... — Começo mas sou interrompida.

— Ontem? — Ele me olha confuso  — Elizabeth, já faz dois dias.

Dois dias? Tudo isso? Logo me lembro da facada, que Nicholas levou.

— Nick, seu abdômen....

— Está tudo bem, tudo está bem. — Tenta me tranquilizar, mas não adianta.

Em um movimento rápido levanto sua blusa, a espera de uma cicatriz, mas não encontro nada. Sua pele exposta está lisa, sem nenhuma marca de ferimento. Impossível.

— Como? — Pergunto confusa. Eu lembro. Ele foi esfaqueado. Eu vi.

Ou eu acho que vi.

Eu vi tudo acontecer com meus próprios olhos. Eu me lembro perfeitamente daquele cara o esfaqueando.

— Do que você está falando, Lizzy? — Seus olhos parecem confusos, ligeiramente perdidos.

Por que ele está agindo assim?

Engulo seco.

— Mas Nick, eu vi... — Ele não me deixa terminar.

— O que você viu? — Seu rosto não expressa nenhuma emoção.

Pisco os olhos rapidamente. Será que eu imaginei tudo?

— Eu vi você sendo esfaqueado. — Afirmo e ele nega com a cabeça — Não trate de negar, isso aconteceu.

A máquina que controla meus batimentos começa a aumentar os barulhos, eu sinto uma raiva dentro de mim. Eu não sou louca.

— Você precisa se acalmar, bebê. Tudo vai ficar bem. O doutor disse que você poderia ter alucinações, ou até mesmo sonhos, e que logo que acordasse acreditaria que fossem reais. É normal. —  Diz cauteloso. — Deita, acho melhor você descansar.

Descanso? Mais descanso? A última coisa que quero neste momento é armar um barraco, aqui, neste quarto de hospital. Sinto o cansaço me abater, mesmo tendo dormido por dois dias.

— Onde Judith está? —  o interrogo com a voz fraca.

— Judith foi para casa trocar de roupa e descansar. Ela ficou muito tempo aqui e ainda estava muito abalada.

Meus olhos estão fechando e ele percebe. Sinto seus lábios me dando um vejo na testa, e seus passos seguindo até fora do quarto. Não preciso de descanso, e sim da verdade, se ele se recusa a me dar ela, então eu mesma irei buscar.

Mais tarde.

Pessoas inocentes morreram e ele está se fazendo de santo, como se nada tivesse acontecido. E ainda tem o Mitchel. Por que eu não paro de pensar nele?

Será que o Nick falou com a polícia? Tenho vontade de pedir para ele voltar e ficar comigo, mas preciso descobrir o que aconteceu.

Escuto o som da porta sendo aberta. Mas não me movo. Deve ser ele, Nick. Continuo de olhos fechados. Sinto uma presença de aproximar de mim, muito perto. Mas não me parece ele. Nem um pouco. É como se uma energia fluísse entre nós. Eu não sinto isso com ele.

Calafrios percorrem meu corpo e uma ansiedade toma conta. Dedos acariciam minha bochecha. Será que estou alucinando? Uma respiração está muito próxima do meu rosto. Eu quero abrir os olhos, mas não consigo.

— Eu sinto muito, Eli. — Uma voz sussurra.

E é a última coisa que ouço antes de cair de vez no sono.

Abro os olhos novamente e já escureceu. Olho ao redor do quarto, estou sozinha mas vejo um arranjo simples de flores ao meu lado junto com um cartão.

— MS.

Não precisa ser nenhum gênio para imaginar de quem seja. Uma parte de mim está pulando de alegria e a outra confusa pelo gesto, mas não posso evitar de sorrir.

Acho que ele pensa em mim também.

Mitchel StarkOnde histórias criam vida. Descubra agora