❤ Só me abraça tá?! ❤

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Tua misericórdia me
sustenta 🎶🏵❤

Melissa

A minha alma está perturbada, uma explosão de sentimentos que eu não sei discernir dentro do meu peito. Talvez ansiedade ou quem sabe medo, arrependimento de ter aceitado vê-lo.

Taylor dirigia, mas de relance percebi que me olhava às vezes. Aparentava estar preocupado, tentando perguntar se estou bem e se desejo voltar. Não adianta, agora tenho que encarar essa situação. Encosto minha cabeça no estofado da cadeira, pois ainda falta muito para chegarmos.

Melhor assim.

Minha mãe está no banco de trás, olhando a paisagem a fora, provavelmente animada com nosso reencontro e possível reconciliação.

"Me ajuda Senhor. Sei que podes restaurar esse amor, mas as cicatrizes que existem em mim, impede de recomeçar do zero."

Fecho os olhos e começo a lembrar da minha infância. Ele era um homem que não me dava tanta atenção, mas mesmo assim eu o amava. Todos os dias que ouvia o barulho do portão enferrujado sendo aberto, eu corria para abraça-lo, porém sempre inventava que estava suado e cansado. Aquilo me destruía. Toda via, minha inocência e carinho pela sua vida não terminava.

Flashback on ~
- Papai, por que o Senhor não compareceu a minha apresentação na escola? - pergunto sentando-me na beira da cama enquanto o mesmo estava encostado na cabeceira lendo livro.

- Trabalhei demais Melissa, desculpe. - diz não tirando a atenção do seu livro.

- Eu trouxe um pedaço de bolo que deu lá... toma! - entrego-lhe. Ele fechou os olhos, suspirou até que cedeu e pegou o bolo.
Flashback off ~~

- Chegamos filha. - meus pensamentos são interrompidos. Olho para faxada do hospital que é imenso, suspirei fundo e abri a porta do carro.

– Vai dar tudo certo. – Taylor sussurra em meu ouvido.

– Obrigada. – sorrio sem mostrar os dentes.

🏵(...)🏵

A recepcionista colocou o emblema de visitante em minha blusa. A vontade de voltar pra casa só aumentou, porém a vontade de dizer tudo que estou sentindo e que nunca tive oportunidade bradou mais ainda.

– Me acompanhe. – diz o doutor. Taylor e minha mãe vem atrás de mim. Passamos por um longo corredor até chegarmos no esperado quarto.

– Filha, qualquer coisa estaremos aqui fora. – alisa meu braço.

– Eu tenho que ir ao trabalho, te vejo mais tarde princesa. – segura meu rosto e sela nossos lábios. – Se cuida. Tchau sogrinha.

– Tchau meu filho, Jesus lhe acompanhe. – diz.

– Vou indo mãe. – sorrio sem mostrar os dentes e abro a porta. E lá estava ele, com o rosto um pouco desconfigurado, cheio de fios espalhados pelo seu corpo. Respirava serenamente, pela primeira vez tive um encontro pessoalmente com o famoso aparelho irritante (é bem chato mesmo). Meus olhos se enchem de lágrima ao lembrar do passado. Vou me aproximando devagar até encostar na beira da cama. Temo em apertar sua mão para saber se estava acordado. Eu odeio ter que ficar limpando as lágrimas, tento ser o mais forte possível (dói até se tentar ser o que não somos).

– P...ai. – sussurro o mais baixo possível. Não tenho coragem. Não tenho! Não, não! Me ajoelhei perante a cama e chorei baixinho. Fiquei por ali durante alguns minutos.

Na hora de se levantar, me desequilibrei e minha mão tocou a sua. Por um momento tive vontade de sair correndo e se possível, me chamar de burra, de idiota, de lerda, de desastrada, enfim... Ele começou a acariciar como se estivesse tentando adivinhar quem era, depois de tanto mexer solta um sorriso desconcertado, tenta falar alguma coisa mas nada sai.

– Não precisa dizer nada...sei como o seu estado é delicado. – digo com a voz falhosa. Ás lágrimas descem no seu rosto fazendo com que convidassem as minhas para descer também. – Posso falar o que estou sentindo nesse momento? – ele apertar minha mão.

Não sei se meu desabafo vai fazer algum efeito, mas eu eu vou dizer.

– Primeiramente eu queria dizer que antigamente temia chegar perto de você, por isso, hoje está sendo um pouco estranho essa... sensação. – engulo o choro. – Nunca tive a oportunidade de estar a sós contigo e desabafar tudo aquilo que está dentro do meu peito. Afinal de contas, sempre foi um pai que nunca esteve presente nos momentos coletivos e nas minhas festas de infância (não querendo voltar ao passado onde a minha mente era tão inocente, onde eu não tinha maldade no olhar, nem no pensamento), sempre ausente em todas as ocasiões. Nos meus quinze anos, desejei tanto uma festa, onde eu poderia ver toda a minha família com orgulho de mim, e quando eu passava de série... queria poder ouvir da sua boca um "Parabéns filha!". Quando entrei no ensino médio com medo de perder o primeiro ano, porque todo mundo dizia que é difícil passar... não encontrei palavras em sua boca para me motiva a seguir em frente e nunca desistir. Me doía muito ouvir você dizer que depressão era frescura, me matava por dentro e não sabia o tamanho da gravidade. – paro um pouco pra tentar recuperar a voz. Ás lágrimas desciam incessantemente. – A depressão pai, se você não sabe é uma doença silenciosa que impede que a felicidade alcance a nossa vida, que faz com que a gente deixe de acreditar em tudo que aprendemos desde infância, (momentos felizes, cultura familiar, rotina, costumes) te faz se afastar da família, dos amigos... Ela nos aprisiona em uma corrente que aos olhos humanos é impossível de se desprender. Um vazio tão profundo que podemos morrer dentro dele... – suspiro fortemente, acatando todo ar. – A cada palavra que me dizia quebrava uma veia dentro de mim, você me matava e eu tinha que suportar isso, disfarçando a minha cara com uma máscara para que ninguém pudesse ver, porque eu sabia que ninguém poderia me ajudar, ninguém poderia mudar minha situação, ninguém entenderia! Você só não me deu o fim concreto e fixo, porque cada palavra que disse, me fez crescer, hoje elas compõem a minha identidade. Um passado de derrota de mágoas, tristeza, opressão, de sofrimento. – Ele começou a soluçar, não estou me importando se está ferindo. Doeu muito mais em mim. – O senhor não está podendo enxergar agora, mas tenho certeza que quando Deus te der a visão, (e se ele te der não é?) Vai poder contemplar cada marca, cada cicatriz, vai sentir vergonha de si mesmo, vai dizer: "Eu fui um monstro!"

– Melissa! – ele clama quase sem voz. – Melissa, por favor filha...

– Pode falar! – digo enxugando minhas lágrimas, pois estavam queimando meu rosto.

– Eu sei que não fui o pai que você sempre sonhou, até porque fui enganado também assim como você. Mas o meu direito não cumpri. Bater nos filho dos outros não é coisa que se faça (digo isso na minha visão de agora, porque sei que és minha filha verdadeiramente). Tenho culpa por ter te ferido, tenho culpa por ter te matado por dentro, tenho culpa de tudo nessa vida, me sinto inferior a qualquer homem cidadão, me sinto totalmente inigualável! – engole o choro. – E certamente agora é bom que eu não consiga enxergar, pois não mereço ver o seu rosto tão triste e machucado filha, tenho certeza que deve estar me olhando com cara de nojo... quero te dizer que estou muito arrependido de tudo que eu te fiz passar, quero estar disposto a recomeçar do zero e consertar o erro do passado, por mais que nunca seja apagado.

– Preciso ir, não estou me sentindo bem. – digo já saíndo.

– Espera! – diz. – Que esse não seja o nosso último encontro, volte outro dia quando estiver mais tranquila. Preciso de você. Prometo mudar.

Fecho os olhos por um momento e logo abro a porta com força. Minha mãe estava andando de um lado para o outro ditando algumas palavras (provavelmente orando), ela me encara ao me ver e eu corro ao seu encontrar desesperada. Preciso desse abraço.

– O que aconteceu filha? – pergunta um pouco assustada.

– Nada. Só me abraça tá?!

❤❤❤❤

Herdeira IOnde histórias criam vida. Descubra agora