❤ De uma coisa eu sei ❤

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Eu estava num pátio, vestida com uma roupa branca (toda branca), até os pés. Meu cabelo estava solto e havia uma coroa em cima da minha cabeça. Nesse pátio havia uma árvore no centro totalmente florida. Aquela mesma voz que ouvi naquele sonho bradava no ambiente:

"A sua alma clama por mim, vejo seus traumas, inseguranças e medos, mas Eu estou aqui para trazer a calmaria. Ei, ver você dormindo tão serenamente me faz pensar o quanto sou responsável pela sua vida. Menina, olha pro Céu e veja o meu tamanho... sou maior do que seus problemas?"

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Acordei tão serena. Tive aquela mesma impressão de ontem: Sonhei com a voz daquele homem, mas não consigo me lembrar o que ele disse. Quem será? O que quer comigo? Será que é aquele de capa preta querendo me enganar novamente?

- Filha? - minha mãe bate na porta.

- Entra! - Abaixo de seus olhos estavam inchados, deve ter chorado a noite toda. Não sei como minha mãe consegue sorrir diante de todos estes problemas, é muita agonia para uma pessoa só. - Ele chegou né? - pergunto já sabendo a resposta.

- Sim. - responde triste. - Está no banho, você não vai para o projeto?

- Sim.

Ela olha para a Bíblia que estava em cima do criado-mudo. Sigo seu olhar e sorrio.

- É linda não é? - pergunto admirada.

- S-sim. Quem te deu? - ela se aproxima e pega. - Já sei...Lucy?!

- O sobrinho dela. - levanto e entro no banheiro.

- Uau! - ouço ela dizer. - Deve gostar muito de você hein?

- Mãe, não começa! - indago. - Qualquer um poderia me dar uma Bíblia, até o monstro que ajudou a me gerar...

- Não diga isso, eu creio que um dia ele vai mudar. Deus ainda realiza sonhos minha querida, basta ter fé e nunca parar de lutar. - diz.

Como a faculdade fica um pouco distante de onde eu moro, tive que acordar cedo. Tomei um banho bem fresco e desci para tomar café. E lá estava ele, tomando café como se nada tivesse acontecido. Hipócrita! Passei pelo mesmo e fingi não ter visto.
Abri a geladeira e peguei o leite.

- Bom dia? - diz num tom irônico. A vontade que tive é de jogar esse leite na cara dele.

- Se for bom, mais tarde lhe digo. - pego o prato e sento na mesa da sala de estar.

- Sonhou com quem esta noite? Com bicho? Não vejo o motivo de estar nervosa! Não paga as contas da casa, não faz mercado, não trabalha. - reclama.

Fiquei em silêncio enquanto ele expressava a sua "mísera opinião". Se eu pudesse quebrava esse copo de vidro em sua cabeça, até porque, não consegui esquecer aquela cena de ontem: ver minha mãe jogada no chão.

- Não vai dizer nada? Aceitou a verdade? Que milagre é esse?

Levanto discretamente e coloco meu prato na pia. Encaro o mesmo e suspiro: - Dá próxima vez que encostar suas podres mãos em minha mãe...vai parar na cadeia. - cuspo palavras.

- É mesmo?! - gargalha sarcasticamente. - Experimenta, somente experimenta ou nunca mais vai pôr seus pés na casa de Lucy, sua "psicóloga", não é? Pena que não sabe de quem está cuidando.

- Ela que não sabe do amigo que ela trabalhou na faculdade. - rebato.

- Vai contar. - cruza os braços.

- Eu-te-odeio! - grito. - Odeio você! Meu desejo é que você morra, que você vá pro inferno! - tentei ser forte, mas às lágrimas inundaram meus olhos.

- Pena que esse desejo não pode ser realizado! - grita bravo. Seu olhar era de muita fúria, levantou as mãos, mas rapidamente fechou. Aposto que iria me bater. Virou as costas e saiu.

- Por que não me bateu?! Por que? - grito desesperada! - Ele se vira para mim. Minha mãe corre em minha direção e pede para eu me acalmar. O mesmo me encara e inverte o olhar, como se houvesse mais alguém do meu lado, além dela. Não disse nada e saiu da cozinha.

Naquele momento eu desabei completamente. Como queria que ele morresse queimado vivo. Depositei meu ódio em minhas lágrimas, desejei sua morte loucamente.

(...) 🌸

Cheguei na faculdade e me sentei no pátio onde havia várias pessoas reunidas, mas peguei o lugar onde tinha poucas pessoas. Observei o semblante de todos, me decepcionei com aquilo: todo mundo sorrindo como se não existisse problemas em suas vidas. Por que tenho que agir diferente? Por que não encontro a felicidade que tanto almejo? Por que tudo só tem que acontecer comigo?

O que fiz para merecer tanto sofrimento? Às pessoas que vivem ao meu redor desaparece por um tempo. O defeito só pode estar em mim.

- Triste e isolada, por que isso? - Keyser senta ao meu lado.

- Não sei. Não vejo motivo para ser ao contrário. - digo.

- Encontrei uma pessoa que pensa o mesmo que eu. - sorri e encara o chão.

- Como assim? - franzi o cenho.

- Minha vida é uma merda! Meus pais brigam o tempo todo, vivo isolada em meu quarto só para não ter que ouvir cada barbaridade, choro sem necessidade...resumindo: ninguém entende, nada desdiz.

Por um momento fiquei paralisada. Não sabia que ela sofria também, mas ela sorri o tempo todo, não é notória sua tristeza.

- Você está todo tempo sorrindo...nunca imaginaria isso.

- Pra que chorar pelas mesmas coisas? Estou cansada disso, sabe? Aqui na faculdade eu sou super diferente, consigo me comunicar, mesmo com esse estilo. Agora, dentro de casa me afogo em lágrimas. Sabe, Melissa, minha vó me ensinou algo muito importante. - sorri ao parecer lembrar de algo. - Provérbios, capítulo sete, versículo treze diz: Veja como Deus faz as coisas e procure se adaptar a elas.

Que bom que ela olha para o lado positivo das coisas.

- Eu quero morrer! - sussurro encarando o chão. - Odeio essa vida medíocre, vulnerável...

- Por que morrer antes da hora? Enfrente cada problema que aparecer, e se você temer a Deus pode esperar que ele vai abençoa-lo.

(Provérbios 7:17-18)

- Por que me diz essas coisas? Você também sofre demais, olha como está sua vida. - indago.

- De uma coisa eu sei: se isso está acontecendo na minha vida, é porque lá na frente o nome dEle vai ser glorificado através do meu testemunho. Agora, tenho que esperar. - alisa minhas costas.

🌼🌼🌼

Herdeira IOnde histórias criam vida. Descubra agora