Capítulo 2 - Primeiras dificuldades

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   Dois dias depois lá estavam elas arrumando a bagunça no pequeno apartamento em Oxford. Os primeiros três meses foram pagos pelo diretor da Universidade, para que Feliciana pudesse se acomodar e organizar as futuras aulas. No Brasil, costumava dar aula de Química e Física. Havia ganhado três prêmios consecutivos na feira Internacional de Ciências, o que facilitou na hora de ser selecionada entre dezenas de professores em todo o mundo.

- Filha, quer que eu te ajude a arrumar o seu quarto? - perguntou pela décima vez.

- Não, eu consigo sozinha. - Pegou o tablet e se jogou na cama. - E com licença, preciso falar com o meu ex namorado.

- Claro. - Dona Feliciana se retirou do quarto decepcionada com o comportamento da sua única filha. Continuou a limpar os móveis e logo em seguida se deitou. No dia seguinte conheceria a famosa Universidade de Oxford.
Enquanto isso, Lillith conversava desanimada com Felipe. A conexão de vídeo estava péssima, mas era possível perceber que ambos estavam abatidos.

- Como estão as coisas por ai? - Felipe perguntou.

- As pessoas daqui parecem múmias. Um ar de depressão que você nem imagina. Muito diferente do Brasil. - Lillith murmurou - Estou odiando cada segundo aqui.

- Deve ser por causa do tempo nublado. Ouvi dizer que raramente o sol aparece por ai. - Felipe fez uma pausa. - Estava pensando e... acho que devemos terminar.

- Mas Felipe, você disse que  tentaria vir aqui no meio do ano. - sua expressão era de pânico. - Por favor, não mude de ideia.

- Ok. Vamos tentar. Só vou fazer isso porque realmente te amo Lillith.

- Eu também te amo. - despediu-se e adormeceu poucos minutos depois.

    Amanheceu, e às seis Feliciana já estava de pé, com suas pastas em mãos. Tomou o seu café e depois se dirigiu até o quarto da filha.

- Lilly estou indo até a Universidade. Tem certeza que não quer ir comigo, para conhecer aquela imensidão? - insistiu.

- Não mãe... - murmurou colocando o travesseiro no rosto - Vou dormir mais um pouco.

- Tudo bem. Você deveria sair pra dar uma volta.

- Mãe apaga a luz. - jogou o travesseiro em direção a porta.
  
- Tabom, tabom... me deseje sorte filha. - fechou a porta e saiu.

- Boa sorte mamãe. - falou baixinho.

   Lillith acordou às dez. Abriu a geladeira e não havia nada de atrativo. O mesmo em relação aos armários.

- Só tem bolachas nessa casa. Será que a minha mãe enlouqueceu? - falava consigo enquanto abotoava o sobretudo.

  Trancou a porta e seguiu rua acima. Estava a procura de alguma cafeteria, mas ainda não conhecia bem o lugar que acabara de se mudar. Pediu informação para alguns ingleses e nesse momento agradeceu por todas as aulas chatas de inglês que foi obrigada a frequentar, no total quatro anos até se tornar fluente. Uma garota caminhava no mesmo sentido que Lillith, que decidiu pará-la para perguntar. Certamente a garota morava na mesma rua, já que caminhava devagar.

- Com licença, será que poderia me informar se tem alguma cafeteria por aqui? - perguntou e a garota a olhou estranho. Quando se deu conta de que havia falado em português. - Oh, me desculpe.

- Tudo bem, falo português também. - Ela riu, mas logo em seguida ficou séria - Mas como não quero desperdiçar os anos de inglês que fiz no Brasil, não vamos falar português aqui, ok?

- Você é brasileira? - Lillith perguntou curiosa, ja voltando ao inglês fluente - Como se chama?

- Alyson. Mas pode me chamar de Ally.

- Lillith. - estendeu uma das mãos cumprimentando a jovem que acabara de conhecer. - Mora por aqui?

- Sim, na próxima rua. Bom, preciso ir. - Alyson virou as costas e continuou a caminhar. - Ah,tem uma cafetaria exatamente a... dois passos á sua esquerda.

Lillith olhou para o lado e de fato havia uma cafeteria de frente para ela. Voltou o olhar para garota ruiva no intuito de agradecer, mas já tinha desaparecido de vista.
Entrou na cafeteria e pediu um café expresso acompanhado de alguns pãezinhos. Pegou o lanche e sentou-se perto da janela. Estava faminta, pois era a primeira refeição desde que chegaram. Todos da fila começaram a reclamar quando não sabia quanto o lanche havia custado. Retirou todas as notas que tinha na carteira e pediu para que o balconista retirasse o dinheiro correspondente. Ele puxou duas notas de sua mão e murmurou algo do tipo " Você devia ter estudado sobre o nosso dinheiro, antes de vim pra ca. Como pretende pagar os seus gastos?". Depois do mico, Lillith andou pelas ruas a procura da sua casa.

- Só me faltava isso. Perdida em plena luz do dia - disse para si enquanto retirava o celular da bolsa para ligar pra sua mãe. - Ai meu Deus! Esqueci o celular em cima da mesa.

  Tentou voltar até a cafeteria mas havia um problema, não sabia para onde ir. Para ela, as ruas eram todas iguais. Como não viu o nome da cafeteria, não poderia pedir informações.

- Ainda não achou a cafeteria? - a menina dos cabelos ruivos riu. Lillith revirou os olhos e bufou, enquanto puxava um cigarro da bolsa e colocava nos lábios.

- Na verdade encontrei sim, mas perdi o celular e o endereço da minha casa.

- Você é mesmo desastrada. Por acaso não pensou em escrever o endereço em um pedaço de papel e colocar na bolsa? - disse Alyson emprestando o esqueiro.

- Olha não pedi a sua opinião ok? - Lillith saiu batendo o pé, descendo a rua movimentada.

- Hey, a cafeteria fica para lá. E provavelmente a sua casa também! - gritou, fazendo Lillith parar no meio da rua e refazer o caminho.

  Depois de pegar o celular e ligar para a sua mãe, Lillith chegou em casa e se jogou na cama. Pegou o tablet e fez uma chamada de vídeo para o Felipe. Tentou uma, duas, três vezes mas ele não atendeu. Jogou o tablet na parede e afundou a cara no travesseiro.

- Odeio esse lugar! Odeio, odeio, odeio! - disse para si, enquanto lágrimas rolavam pelo seu rosto.

As aventuras de Lillith & AllyOnde histórias criam vida. Descubra agora