Tadayoshi sentou lentamente e virou na direção da voz, todo seu sono desaparecendo. Ele estava certo; era mesmo uma criança.
Menor que outras, mas as roupas eram as mesmas. Simples e desgastadas pelo uso diário, a cor já desbotando devido à luz do sol. As mangas e a barra eram mais curtas do que deveriam, sem cobrir completamente as pernas e braços bronzeados. Provavelmente de trabalhar nos campos, Tadayoshi decidiu.
A criança tinha cabelos pretos amarrados atrás da cabeça, com duas mechas soltas e uma franja cobrindo a testa. Mas diferente do que suas roupas sugeriam, o rosto era delicado, e seus olhos...
Tadayoshi quase levantou quando notou os olhos do menino. Seu olhar tinha algo... então finalmente ele percebeu. O olhar dessa criança era vazio. O rosto de alguém que conhece profunda tristeza e dor. Algo comum hoje em dia, o homem pensou. Se não fosse por Kaguya e Taichi, eu estaria desse jeito, Tadayoshi sabia.
— Não, não. Eu não sou um ladrão — ele disse, levantando devagar para não assustar a criança. — Mas não se preocupe. Já cuidei deles. – Ele mostrou o mesmo sorriso que usou com os bandidos mais cedo, apesar de com outro significado.
Foi o mesmo que nada. A criança ficou parada, encarando o homem que acusava.
— Você é sim — a criança disse de novo, sua voz no mesmo tom sem emoção. – Esses pêssegos não eram seus.
Ele olhou para os restos das frutas perto de seus pés.
— Encontrei-os nessa árvore — ele apontou para cima — então assumi que pertenciam a natureza.
— Errado. Eles eram da minha vila. — O olhar acabaram na mesma coisa que atraiu a atenção dos ladrões; a katana. Seus olhos encararam o cabo por um tempo, um tipo de brilho despertando atrás deles. — Um samurai deve retribuir tudo que recebeu. Você tem que fazer um trabalho pra minha vila.
Não é nem um pedido, Tadayoshi pensou, rindo por um instante. Ele parou de rir quase na mesma hora. Pra exigir algo de um estranho, especialmente um com uma espada. Esse moleque é ousado... ou está desesperado demais.
— Antes de tudo, não sou um samurai — Tadayoshi reclamou. A essa altura, ele já estava acostumado, mesmo assim o irritava, e ele negava toda vez. Não sou como meu mestre. — Eu não devo nada a você nem a sua vila, mas talvez eu possa ajudar. — Melhor do que dormir a céu aberto de novo. E seria bom demais conseguir algumas roupas.
Ainda sem nenhuma expressão, a criança acenou a cabeça e virou, andando de volta para a trilha principal. Virando as costas pra um estranho... Tadayoshi seguiu a uma distância, tentando sentir qualquer presença próxima.
— Qual o trabalho exatamente? — Andar tanto tempo com alguém em silêncio era tedioso. A primeira pessoa que não foge ou me ataca em semanas acaba sendo um moleque calado. — Me chamo Tadayoshi, por sinal – ele acrescentou ao lembrar que não tinha se apresentado e que nem sabia o nome da criança.
— Proteger minha vila — ele respondeu secamente.
Tadayoshi segurou o impulso de suspirar. Então era um trabalho desses...
O espadachim esperou por mais, mas o menino ficou em silêncio de novo. O homem podia dizer que a criança queria falar mais, e faria caso Tadayoshi pedisse. No entanto, algo o fez esperar sem dizer uma palavra. Essa criança precisa falar por si mesmo, ele percebeu e esperou.
— Minha vila foi atacada... — o menino finalmente falou depois de um longo tempo. Apesar da voz continuar no mesmo tom, Tadayoshi percebeu que a respiração da criança estava mais lenta. Ele está reprimindo as emoções... O menino respirou fundo e disse: — Lutamos e os expulsamos, mas eles vão voltar. Hoje ou amanhã.
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Samurai NOT
AcciónA pedido de seu mestre, Tadayoshi acabou com a sua vida. Agora ele procura o motivo por trás desse pedido.