Capítulo 27

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No momento em que saiu do templo, Ei fechou a porta.

Quando ficou sozinha, a dor em seu coração a dominou por completo e a garota sentiu vontade de chorar. Respirando fundo, ela fechou os olhos e deu o melhor de si para segurar as lágrimas

Não posso chorar... não posso chorar, Ei disse para si de novo e de novo até o sentimento de desolação diminuísse e se tornasse um pouco suportável.

A brisa gelada e insistente uivava contra ela. Ei não cobriu o rosto; nas suas bochechas quentes e suadas, era um alívio. Mas parte dela sabia que o vento não tinha nada a ver com isso.

Com a cabeça encostada na porta do templo, a garota exalou todo o ar dos pulmões e lutou contra a vontade de chorar de novo.

Preciso... coletar lenha... sim, coletar lenha... a gente precisa deixá-lo aquecido...

Mesmo lutando contra a desolação em sua alma, a garota sabia o que precisava fazer. Mas lá no fundo sabia que era apenas um jeito para evitar olhar o rosto de seu mestre.

Ei olhou a clareira ao redor do falso templo, seus olhos vasculhando o chão por qualquer pedaço de madeira decente o suficiente para alimentar o fogo. É mesmo... já peguei tudo nessa área, pensou lentamente quando não achou nem mesmo um graveto.

Ela sabia onde poderia achar lenha. Mas quando virou para a floresta e viu a escuridão esgueirando além das primeiras árvores no limiar da clareira, Ei fechou os olhos. Mesmo assim, sabia que precisava deixar a clareira, não importava o quanto não quisesse. Ela precisava se afastar do templo, de seu mestre.

Precisamos mantê-lo aquecido, a voz do seu professor ecoou na cabeça dela.

Com essas palavras em mente, Ei forçou as pernas a andar. Quando chegou nas primeiras árvores no limite da clareira, ela olhou para trás. O templo ainda estava lá, completamente imperturbado. Ignorando a dor em seu peito, a garota se forçou a desviar o olhar e andar.

Ei coletou qualquer coisa útil, mas a maior parte eram gravetos e farpas ao longo do caminho. Não era o suficiente. Ryuu-sensei deve ter coletado tudo por aqui também...

Lutando a vontade de olhar sobre o ombro e ver o templo, a garota continuou procurando por lenha. Finalmente ela achou o que procurava. Mas ao andar lentamente, Ei parou perto de uma árvore à alguns passos de seu objetivo.

Ela olhou entre a lenha e a árvore, passando a mão na superfície, sentindo cada saliência do tronco com os dedos gelados.

Era uma árvore como todas as outras, indistinguível das ao redor se não fosse por um corte grande e profundo feito por um humano. Esse é o limite, a garota pensou, seus dedos circulando a marca.

Ei tinha feito o corte ela mesma. Nessa árvore e em vários outros troncos ao redor do templo. Essas marcas delimitando a área que ela não ousava ultrapassar. Mesmo se não pudesse ver o templo, esse era o limite que poderia largar tudo e voltar correndo caso escutasse o apito do sacerdote.

Era uma forma de protegê-los caso os moradores decidissem retaliar. Foi Ei que teve a ideia. Desde que vieram para o falso templo, ela esteve patrulhando a área quando não conseguia mais ficar dentro do templo.

Mas até agora, não teve nada. Ela não tinha visto única alma. Ninguém além deles pareciam vivos na área. Até mesmo os animais pareciam ter medo de chegar perto do falso templo. Mas, mesmo que os moradores parecessem ignorar as mortes, incluindo a líder, Ei não abaixaria a guarda.

Ei não sabia se o silêncio absoluto era bom ou ruim. Mesmo assim, cada vez que se afastava o suficiente para o templo ficar fora de vista, a garota aguçava a audição, temendo escutar o som do apito.

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