Capítulo 7

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O sol mal surgira quando Tadayoshi abriu os olhos. Ainda deitado em sua cama de palha, ele expandiu seus sentidos. Quando o espadachim confirmou que estava sozinho no aposento, ele sentou.

Seu corpo latejava e a pasta, agora seca e dura, fez cada movimento doer um pouco. Tadayoshi estremeceu, mas ignorou a dor. Não tenho tempo pra perder. O conselheiro pode voltar a qualquer momento... e com mais soldados, ele pensou, tirando a pasta com as mãos. E é melhor ir embora antes que os moradores acordem. Desse jeito posso conseguir algumas roupas.

Enquanto se limpava da melhor forma que podia, Tadayoshi virou, mas quando ele viu a tigela de comida perto da sua cama, suas mãos pararam. Estava tão cansado que não percebi alguém passando perto de mim, ele notou, um sorriso aparecendo em seu rosto. Mas rapidamente sumiu quando ele apertou seus lábios. Mesmo que o chefe e sua esposa foram silenciosos, eu deveria ter notado. Eles não me fariam mal, mas se isso acontecer em outro lugar... Respirando fundo, ele mentalmente agradeceu e comeu a comida.

— Ainda não o agradecemos direito.

Tadayoshi virou no momento em que escutou a voz do chefe vindo da porta. Quando ele viu Daisuke-dono, Sumire-dono e Ei entrando na casa, um sorriso amarelo apareceu nos lábios do espadachim. O quão exausto estou para não perceber três pessoas? Ele não disse nada enquanto o trio andava até ele.

Tanto o chefe quanto sua esposa tinham os olhos avermelhados. Ei, por outro lado, tinha olheiras ao redor dos dele.

— Muito obrigado — Daisuke-dono e Sumire-dono falaram juntos. O menino apenas o encarou, mas fez uma reverência junto com o casal

— Não há razão para isso — disse Tadayoshi, desviando olhar. — Eu disse que lutei por meus próprios motivos.

— Você nos salvou. E por causa disso eu gostaria de poder dar mais — Daisuke-dono disse e então olhou para sua esposa.

Sumire-dono entregou para Tadayoshi dois embrulhos. Um ele conseguia dizer o que era pelo cheiro; comida. Pode durar alguns dias, mais se eu racionar, ele pensou, julgando pelo peso. Desde que começou sua jornada, o espadachim nunca tivera nenhuma provisão, e sempre precisou procurar alimento quando seu corpo necessitava.

O segundo embrulho ela leve e suave. Roupas, Tadayoshi percebeu, seus olhos arregalando. Ele colocou a comida junto com suas espadas e abriu o embrulho. O quimono de duas peças era simples, mas estava limpo e o mais importante, em bom estado. Comparado com meus trapos, são roupas de um senhor. Tinha até mesmo roupa de baixo, sandálias, meias e uma faixa.

— Eram do nosso filho... — Sumire-dono tinha um sorriso triste no rosto, as lágrimas ameaçando cair de seus olhos. Tadayoshi abriu a boca, mas então fechou-a, apertando os lábios. — Está tudo bem — ela adicionou, o olhando nos olhos pela primeira vez. — Você merece mais do que isso.

Nunca pensei que aceitar roupas me faria sentir mais culpado do que se roubasse, ele pensou, indo se trocar no quarto do chefe. A parte de baixo preta combinava com o topo azul escuro, e elas quase couberam perfeitamente, o topo um pouco solto. Acho que o filho deles era maior do que eu, ele notou, amarrando com a faixa.

— Ficaram boas em você. — Sumire-dono o elogiou. Apesar de suas bochechas úmidas e seus olhos mais vermelhos, o sorriso era genuíno, fazendo o sentimento de culpa dele sumir um pouco.

Enquanto Tadayoshi juntava seus pertences, ele conseguia sentir o menino encarando-o. Eu sei o que está na sua cabeça. E não vou falar nada, ele disse para si. Essa decisão é sua. Não vou ajudá-lo a tomar.

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