— Melhor a gente voltar. Já é bem tarde... — Tadayoshi olhou para cima. A lua e as estrelas dividiam o céu com o sol se pondo. Então ele virou para ela. — Você precisa se limpar e trocar de roupas antes. Duvido que alguém deixe você entrar na cidade desse jeito.
Além de sangue, estava coberta de terra, suor e folhas. Sua roupa tinha pequenos rasgos aqui e alie e seus braços e pernas cheios de cortes e arranhões. Quando foi que... ah... quando eu subi na árvore, ela percebeu, soltando uma pequena risada. Na última noite do festival, quando todo mundo vai estar no seu melhor, eu tô assim.
Ignorando seu corpo sem força, Ei escalou a árvore de novo, indo para um dos galhos mais baixos e mais largos, onde ela deixara os pertences deles antes de correr até o topo. Ela pulou, dobrou os joelhos no momento que aterrissou e olhou para seu mestre.
Tadayoshi descansava com as costas contra a árvore e se apoiando na espada. Seu rosto estremecia com cada respirada que dava. Ele está focado demais em recuperar as forças pra prestar atenção em mim, ela pensou antes de despir e se lavar no rio.
Quando saiu da água, ela secou o corpo com as roupas que usou até agora e colocou as velhas. Eu só tive essas roupas desde ontem e já estou chamando de velhas, ela pensou com uma risada fraca.
Por um momento, Ei encarou o quimono verde. A ideia de jogá-lo no rio cruzou sua mente. Ela levantou o braço, mas quando estava prestes a atirar, desistiu. Ela abaixou a mão e sentiu o tecido com os dedos. Essas roupas são prova que eu... Sem terminar o pensamento, ela andou de volta até seu mestre.
Tadayoshi ainda descansava contra a árvore. O rosto dele não tinha recuperado a cor de sempre, mas sua respiração estava normal e ele não estremecia tanto.
— Volte pra cidade. Tome um banho quente. Vai fazer você se sentir melhor — ele disse numa voz contida. Mas mesmo com toda a dor, ele mostrou um sorriso. — É melhor que eu fique aqui. Os guardas definitivamente vão me achar suspeito e eu prefiro evitar isso. Vê se consegue trazer um pouco de comida.
Ei assentiu sem dizer nada. Tadayoshi fechou o olho bom e ficou como estava, respirando fundo.
Ele é forte. Ei acreditava naquilo. Não, ela sabia que ele era. Mestre foi... é o discípulo de Yasuhiro-sama, o samurai mais forte... e mesmo assim ele quase morreu hoje... Acho que tem muitas pessoas fortes nesse mundo... A garota olhou para o céu e se sentiu pequena. Eu preciso... eu vou ser forte e lutar ao lado do meu mestre, ela reafirmou sua determinação, fechando o punho.
Ei começou a fazer seu caminho de volta para a cidade, mas parou e virou na direção do homem que tinha matado. Com os olhos fechados, ela mordeu os lábios, respirou fundo e andou até o cadáver.
O samurai estava na mesma posição, a mão que restara cobrindo o rosto. O sangue tinha secado de onde Ei o atacara. Ela tentou mexer o braço dele, mas com a armadura, era pesado demais para ela.
Juntando tudo que restava de suas forças, ela conseguiu mexer o suficiente para arrancar o que sobrou da máscara. Ela não sabia a razão, mas precisava ver o rosto do samurai, gravar o rosto do primeiro homem que matara em sua mente. Mesmo sem vida, tinha algo naqueles olhos. São iguais aos daquele samurai...
Com uma sensação de vazio, Ei se afastou do samurai e andou de volta até a cidade.
O sol quase desaparecera por completo quando Ei retornou a Mino. No momento que passou pelos portões, ela sabia que tinha algo diferente no último dia do Obon. A cidade parecia muito mais animada do que ontem. Tem ainda mais pessoas...
![](https://img.wattpad.com/cover/85539846-288-k891245.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Samurai NOT
ActionA pedido de seu mestre, Tadayoshi acabou com a sua vida. Agora ele procura o motivo por trás desse pedido.