O Conto dos dois irmãos 4

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— Permita... permita-me falar com meu pai — disse o samurai apesar da garganta seca. — Por favor...

O conselheiro sacudiu a cabeça.

— Não posso permitir. Ordens do nosso Senhor. E... Seu pai devia ter as últimas horas de vida sozinho.

— Por favor... permita-me falar com ele — disse Jirou, com dificuldade. Doía falar. Apesar de seu corpo dormente, ele se ajoelhou, fazendo um dogeza, colocando ambas as mãos no chão e abaixando a cabeça até tocá-las. — Por favor...

O guerreiro mais velho manteve seu silêncio por um bom tempo. O samurai sabia que colocava o conselheiro em uma situação complicada. Muneakira-sama queira ajudar, mas, mesmo assim, não poderia desobedecer uma ordem direta.

— Eu permito. — Ecoou outra voz acima a cabeça de Jirou.

O samurai ergueu os olhos a tempo de ver o Senhor. Os guardas e o conselheiro se alinharam contra a parede para abrir espaço para o homem e fizeram uma reverência.

Jirou manteve sua posição, olhando para cima, para o Senhor.

— Permito que fale com seu pai, Jirou — repetiu o Senhor.

— Mas, Senhor... — falou um dos guardas, mas foi interrompido.

— Isso não é sobre a traição de Daigorou. Muito menos sobre um traidor. É sobre um filho que deseja ver o pai. Que homem eu seria se não permitisse ao menos isso?

— Obrigado... meu... Senhor... — Jirou conseguiu dizer sem deixar as lágrimas saírem. Ele manteve-se ajoelhado até o Senhor se afastar. O conselheiro tocou seu ombro e seguiu seu superior sem dizer nada.

— Pai! — disse Jirou no momento em que os guardas o deixaram entrar na sala.

Daigorou sentava em uma almofada e escrevia algo. Ele não ergueu a cabeça imediatamente. Primeiro, terminou o que escrevia, abaixou o pincel e afastou-se da pequena mesa. Só então ergueu os olhos para ver seu filho.

— Jirou... — O samurai mais velho disse numa voz baixa. Ele sorriu, mas abaixou a cabeça, para não encontrar os olhos do filho.

Jirou sentiu como se fosse atravessado por uma espada. Ver o homem quem admirava assim doía mais do que qualquer derrota.

— Por favor, pai, não abaixe sua cabeça... não para mim...

— Mas eu devo, meu filho — disse ele na mesma voz baixa e fraca. — Trouxe vergonha para mim, nossa família e você. Como posso olhar nos seus olhos após o que fiz?

Jirou estava prestes a chorar. Mas conteve as lágrimas. Precisava. Pelo pai.

— Como salvar inocentes pode ser algo vergonhoso?

— Isso eu não sei dizer. Só os Céus sabem. Pois, pelas centenas de vidas que salvei, matei milhares de soldados. Não apenas soldados, conhecidos meus, meus amigos, seus amigos...

Com essas palavras, o samurai entendeu. Seu pai não tiraria sua vida para proteger sua honra. Ele salvou o vilarejo, mas para poder pagar pelos que perderam a vida, ele entregaria a sua própria.

A dor e o desejo de chorar o destruíam por dentro, mas Jirou manteve-se firme. Porque, se seu pai não choraria, ele também não derramaria uma lágrima. Isso traria vergonha ao homem que mais admirava.

— Pai...

Ambos samurais ficaram quietos por um bom tempo.

— Onde está Asahi? — perguntou o mais velho, quebrando o silêncio.

— Com os guardas. — Jirou conseguiu responder apesar da garganta seca. — Não permitiram que eu entrasse com ela.

O samurai mostrou um sorriso triste e suspirou.

— Uma pena. Eu queria ver uma das maiores honras de minha família uma última vez.

— Pai... — Apesar de seus esforços, o samurai não conseguia aguentar mais.

— Não chore, por favor, filho. Estou respondendo por minhas ações. A única forma de pagar pelo que fiz é com minha própria vida... Além disso, verei sua mãe... — Ele mostrou o mesmo sorriso triste.

Como tirar a vida melhorará alguma coisa? O samurai quis gritar, mas manteve aquilo para si com grande esforço.

— Mas você não fez nada de errado. Por isso, jamais abaixe a cabeça, por favor. Cuide do seu irmão mais velho. Ele pode ser grande e forte, mas tem um coração fraco. Estou feliz que tenha encontrado uma boa esposa para que não caía no caminho errado.

— Pai, eu...

— Obrigado por ser um ótimo filho, Jirou. Você foi abençoado com habilidade e aparência. Apenas queria que tivesse encontrado uma esposa antes disso. — Ele sorriu para Jirou, mas era o sorriso mais triste que o samurai já vira em seu pai. — Perdão por não ser o pai honrado que quis ser para você.

— Não, pai... Por favor... não diga isso... você foi um ótimo pai, por isso não... não... — Jirou perdeu as palavras por conta das lágrimas que caíam.

Ambosnada disseram por um bom tempo, apenas os choros de um filho que perderia seupai ecoou no recinto.    

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