— Estou feliz — o samurai disse, fazendo uma reverência com a cabeça para Tadayoshi. — Acreditava que hoje eu teria o trabalho ingrato de supervisionar uns bandidos matando pessoas inocentes e talvez queimar algumas casas. No entanto, graças a você, eu não terei nenhum derramamento de sangue sem sentido. — Apesar de suas palavras, a voz sempre teve um tom amigável e animado. Mas a sede de sangue emanando dele não diminuiu nem um pouco. — Mas acima de tudo, vejo que poderei apreciar uma luta interessante.
Os olhos do samurai não deixaram Tadayoshi, nem mesmo enquanto ele levou o cavalo até uma casa e amarrou as rédeas. Ele é mais cauteloso do que mostra, Tadayoshi notou, sua mão coçando para sacar a katana. Se acalme, ele disse para si mesmo, respirando fundo. Preciso ganhar algum tempo primeiro.
O samurai tirou a capa, dobrou algumas vezes e colocou na cela. Um rapaz, não mais do que alguns anos mais velho Tadayoshi, com cabelos pretos chegando a sua cintura amarrados atrás da cabeça. A hakama, roupas de samurai, azul e preta confirmavam as suspeitas de Tadayoshi. Com o rosto livre de cicatrizes, feições delicadas e barba recém feita, ele quase parecia alguém vindo de um conto de heróis.
Mas ele não é um herói. Apesar da aparência, Tadayoshi conseguia sentir. Ele é mesmo um samurai... e um bem forte. Não era apenas a sede de sangue e o comportamento calmo do inimigo que deixava o espadachim apreensivo. A bainha na cintura do samurai também o deixava preocupado; madeira tingida com vermelho vivo e um dragão dourado pintado. Quando ele sacou a katana, Tadayoshi não conseguiu deixar de fechar os olhos, apertar os lábios e xingar sua sorte de novo.
O silêncio ficou ainda mais evidente; os moradores estavam paralisados demais para fazer qualquer barulho. Até mesmo o espadachim teve problemas para encontrar palavras. A katana do samurai não era apenas diferente das que foram deixadas para trás. Era uma espada de alta qualidade. A lâmina polida refletia a luz do sol, o fio tão afiada que tremulava levemente. Quase como se procurasse uma vítima... espero que não seja eu, Tadayoshi pensou, uma risada vazia ecoando em sua cabeça. Ele encarou a lâmina de novo e engoliu seco. Com minha sorte, é uma espada Muramasa também.
Respirando fundo, Tadayoshi tirou a bainha do buraco de suas roupas. A diferença entre a sua e a do samurai eram gritantes. A do espadachim tinha visto dias melhores; a madeira estava desgastada e lascada em vários pontos, e a cor já tinha desaparecido, enquanto a samurai brilhava vermelho. Mas quando Tadayoshi sacou a katana pela primeira vez em dias, todos podiam perceber. Também era uma espada de alto nível.
— A sua presença confirma minhas suspeitas — Tadayoshi disse, jogando a bainha de lado e circulando o inimigo. O samurai fez o mesmo, sempre mantendo a mesma distância do espadachim. — Seu senhor traiu o superior dele e quer destruir essa vila para abrir caminho para a fortaleza. Estou certo?
Apesar de odiar esse tipo de pessoas, ele tentou manter a voz calma. Não devo irritá-lo. Pelo menos não agora. Preciso conseguir o máximo de tempo que der.
— Deve ser horrível servir um senhor nojento. Não sei como você ainda não cometeu seppuku pra preservar sua honra e essas outras merdas que só os samurais se importam. — As palavras escaparam seus lábios antes que ele pudesse impedi-las. Droga... eu e minha boca grande, Tadayoshi pensou, tentado e falhado em conter seu sorriso.
O rosto do samurai se contorceu de raiva por um instante. Ele fechou os olhos, pressionou os lábios e respirou fundo.
— As palavras de um mero ronin não me afetarão. Mas eu aconselho a você não ousar falar mal do meu senhor.
Tadayoshi estalou a língua. Ele não respondeu a minha provocação... Ou é tão sereno quanto parece ou já está acostumado a esse tipo de luta... Vou testar ele um pouco mais.

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Samurai NOT
ActionA pedido de seu mestre, Tadayoshi acabou com a sua vida. Agora ele procura o motivo por trás desse pedido.