O conto dos dois irmãos 1

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Não importava por quanto tempo sentasse, o garoto não reclamou.

Não importava o quanto suas pernas latejassem, o garoto não reclamou.

Ele mal notou a dor por sentar na mesma posição por tanto tempo.

Pois estava concentrado demais em gravar tudo na sua memória. Ele se certificou de que lembraria de tudo sobre aquele dia para sempre.

O dia em que seu pai receberia sua maior glória do próprio senhor.

— Não sei por que ele deveria ser promovido — sussurrou um samurai.

— E pensar que um samurai de baixa classe como ele vai receber aquelas espadas Muramasa do senhor... — respondeu outro samurai, seu sussurro baixo o bastante para apenas aqueles próximos ouvirem. Mas não era baixo o bastante para esconder sua inveja.

O garoto não se incomodou. Ele já estava preparado para aquilo. As pessoas ao redor dele e de seu irmão não os queriam ali. Mas ele não se importava. Pois não foram eles que convidaram sua família. Foi o próprio senhor.

Todos aqueles homens sentados na grande sala de reuniões eram pessoas importantes. Guerreiros fortes, samurais valorosos, nobres. Pessoas que lideravam a província, quem comandavam os camponeses, quem os protegiam.

Eram homens que o garoto admirava e queria um dia estar em pé de igualdade. Através do meu próprio esforço, pensou, pressionando os lábios para esconder o sorriso, fechando o punho com força para parar o tremor de excitação.

É por isso que o garoto queria se lembrar de cada detalhe deste dia para sempre. Não só por ser a maior honra do seu pai; era o que ele próprio almejava para seu futuro. Toda vez que treinava sozinho ou acompanhado por seu irmão, ele se via na mesma posição que o pai estava no momento.

No instante em que o Senhor entrou no recinto, todas as conversas pararam. Até os samurais importantes abaixaram as cabeças perante o senhor de idade.

Após todas as formalidades terminadas, a cerimônia começou. O garoto mal ouviu as recompensas e títulos que o assessor do Senhor distribuía. Estava excitado demais para isso.

Quando o assessor chamou o nome completo do pai do menino, pela primeira vez em uma cerimônia, o recinto ficou quieto. O silêncio era absoluto. Mas de uma maneira diferente dos outros. Não era de admiração por um samurai de classe baixa que conseguiu derrotar mil soldados com apenas 200.

O garoto viu claramente. Havia apenas contentamento nos olhos dos samurais.

Mas aquilo não importava nenhum pouco para ele.

Seu pai se ergueu, caminhou até o Senhor e sentou-se perante ele do jeito polido. Ele colocou ambas as mãos no chão e então abaixou a cabeça, tão baixo que sua testa quase tocou seus dedos.

O Senhor o mandou erguer a cabeça com sua voz grave. Disse que a vitória deles no campo de batalha só foi possível porque ele conseguiu impedir os reforços inimigos.

Os nobres e samurais reconheceram aquele fato, embora de má vontade.

O garoto pressionou os lábios com mais força para impedir o sorriso enquanto ouvia os sussurros.

Porque, ainda que seu pai fosse um Senhor de baixo nível, além de um Samurai, e até tivesse ligação de sangue com a família principal, ele era o terceiro filho de um quarto filho. Tinha direito a nada e nenhum talento para compensar.

Para eles, seu pai não pertencia ali. Mesmo assim, reconheceram seus feitos hoje.

Aos olhos deles, a recompensa entregue ao baixo samurai era um desperdício. Mas ele tinha merecido aquelas duas espadas.

Asahi e Yuuhi. Nascer do sol e pôr do sol, o garoto já tinha memorizado seus nomes. Agora era difícil manter o sorriso fora do rosto. Ainda que estivesse aprendendo as letras, já aprendera a escrever o nome das espadas.

Com a cabeça ainda abaixada, o samurai de baixa classe ergueu ambas as mãos. Quando as espadas foram dadas a ele, o garoto viu as mãos do pai tremerem, ansiosas para segurarem a bainha.

Porém seu pai não o fez. Em vez disso, agradeceu com uma voz cheia de emoção. O samurai de baixa classe, com toda dignidade que poderia reunir, ergueu-se e caminhou até seu lugar entre os filhos.

Outros nomes foram chamados e outras recompensas entregues, mas o garoto só tinha olhos para as espadas que o pai colocara diante si.

Um dia, uma dessas katanas será minha, pensou o garoto, sem se incomodar em parar sua imaginação. Ele sabia que seria sua um dia. O pai prometera.

Um dia, com Asahi ou Yuuhi, farei meu nome ser conhecido pelo país. Viajarei e derrotarei os guerreiros mais fortes até ser o melhor de todos.

Mesmo assim, o garoto prometera a si mesmo que se esforçaria para ser digno da maior das glórias de seu pai.

— Ichirou, Jirou — disse o samurai em voz baixa após deixarem o salão principal. Ele segurou ambas espadas. — Um dia, elas pertencerão a vocês. Mas somente se os dois foram dignos delas. Não por serem filhos meus. Mas por merecerem o presente de nosso Senhor.

Os olhos dos dois brilharam. Eles assentiram juntos.

— Faremos por merecer, pai — disseram eles, em coro, as vozes excitadas.

O pai sorriu.

— Qual espada você quer, irmão? — perguntou o garoto para seu irmão mais velho quando alguém chamou o pai deles e podiam falar livremente.

— Você quem deveria escolher — disse Ichirou, seu sorriso um pouco triste. — É mais talentoso com a espada do que eu...

Jirou estendeu seu braço e colocou uma mão no ombro do irmão mais alto.

— Ainda que digam isso, você também tem seus próprios talentos. Sua força é algo que a maioria inveja — disse o jovem samurai. — Lembre-se disso. Você eu seremos grandes samurais um dia. E já que você é o mais velho, irá herdar a casa do pai e eu vou lhe apoiar, irmão.

Ichirou mostrou um sorriso alegre.

Jiroufez o mesmo. Algum dia, farei meu nome ser conhecido por todo o país. Sereio maior samurai após Yashiro-sama, prometeu o garoto a si mesmo.    

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