Tadayoshi conseguia escutar. Ele escutava folhas balançando no vento, as águas de um pequeno riacho, pássaros voando. Mas o som que chegava aos seus ouvidos não era pertencia à floresta. Ele sabia o que era na mesma hora. Tinha escutado sua vida inteira. O som quase inaudível de metal chacoalhando. O som de uma espada.
O sol brilhava forte e os raios de luz que atravessavam as folhas criavam um lindo cenário. No entanto o homem não prestava muita atenção. Ele caminhava tranquilamente pela pequena trilha na floresta mas, escondidas entre as árvores, duas sombras acompanhavam seus passos. Ou pelo menos era o que acreditavam, já que Tadayoshi percebeu imediatamente. Mas ele não se preocupou o suficiente para parar. Queria encontrar alguém, não importava quem fosse, ou suas intenções. Fazia um bom tempo que ele não encontrava ninguém, a não ser se contasse aqueles atrás de sua cabeça. Se fossem eles, já teriam atacado, Tadayoshi pensou.
- Pare! - uma das sombras gritou e dois homens saltaram do esconderijo patético que não escondia ninguém, bloqueando o caminho de Tadayoshi.
O mais baixo faltava dois dentes da frente. O outro tinha uma cicatriz na bochecha e a ponta levantada do seu nariz fazia-o parecer um porco muito feio. Cada um segurava uma espada, se é que podiam chamar disso. Eram acabadas demais para ser uma ameaça; pequenos arranhões na superfície, lascas ao longo do fio e ferrugem já começava a devorar o metal.
A aparência e armas patéticas fariam Tadayoshi rir, mas o sorriso distorcido e desesperado deles deixavam-no apreensivo. 'Um inimigo encurralado é um inimigo perigoso', seu mestre tinha ensinado.
- Passe tudo o que tiver!
O homem perdeu toda apreensão e quase riu ao ouvir isso. Era a última coisa que esperava. Eu pareço possuir alguma coisa de valor? Eu? Suas roupas eram prova disso; um quimono folgado de uma peça, feito para um homem três vezes seu tamanho. Se não estivesse tão desgastado, ele não conseguiria usar. Estava tão rasgado e remendado com pedaços cujas cores não combinavam, com partes verdes, rosas e até estampas floridas, que não dava mais para dizer a cor original.
Mesmo assim, eles estão tentando me roubar. Agora Tadayoshi mal conseguia conter a risada. Ele levantou um braço e olhou para suas roupas atentamente, como se fizesse uma auto avaliação profunda e séria de si mesmo.
- Muito obrigado. Vocês fizeram meu dia - ele disse fazendo uma reverência exagerada, escondendo seu sorriso. - Por onde passo sou tratado como cidadão de última classe. Mas vocês parecem me considerar alguém importante o suficiente para possuir algo de valor. Obrigado.
Os bandidos trocaram olhares, sem saber o que fazer. Pela sujeira e poeira, parecia que estiveram escondido entre as árvores há muito tempo, esperando alguém passar para roubar seu dinheiro ou bens. A trilha através da floresta não era muito usada e depois que a guerra começou a se aproximar da região, viajantes raramente escolhiam esse caminho.
- O que é isso? - O menor apontou sua espada para a mão esquerda do homem.
A mão de Tadayoshi estava em cima de seu ombro, como se massageasse o pescoço. Mas olhando de perto, dava para ver uma faixa. Amarrado na ponta, tinha um embrulho discreto nas costas. Assim como as roupas, o pano estava em péssimo estado, e passaria despercebido por muitos. Mas não para estes bandidos desesperados.
- Isso aqui? - O homem tirou o objeto longo e fino das costas e segurou na sua frente. Com uma das mãos, retirou um pouco do pano prestes a se rasgar, revelando cabo de uma katana. - Apenas uma lembrança da minha antiga vida - ele disse, seu sorriso desaparecendo na mesma hora.
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Samurai NOT
ActionA pedido de seu mestre, Tadayoshi acabou com a sua vida. Agora ele procura o motivo por trás desse pedido.