26... 27... 38... 39... Ei perdeu a conta de quantas vezes batera no tronco com o machado.
Após tentar se lembrar por um instante, desistiu de contar. Então, em algum número desconhecido, a garota acertara o bastante e a árvore caiu com o som alto e seco.
Os braços dela latejavam e as ataduras na mãos estavam vermelhas de sangue da ferida. Ei ignorou a dor, limpou o cabo e virou-se para a próxima árvore, batendo em outro tronco, agora sem se dar ao trabalho de contar.
A garota não fazia ideia de quanta lenha eles precisariam, mas sabia que tinha cortado mais que o suficiente. Ainda assim, aquilo não impediu Ei de acertar a próxima árvore com o machado várias e várias vezes. A distração, e até a dor, eram bem-vindas. Ela não queria ficar parada por nem um instante. Sempre que ficava, a dor em seu coração a dominava.
Após terem chorado juntos, o sacerdote a mandou descansar, mas Ei não conseguia. Ela não podia ficar dentro da templo. Precisava fazer algo, então saiu. A garota vagou sem rumo, acompanhada pela dor que atravessava seu corpo como uma espada.
Quando Ei voltou a si, percebeu que estava na clareira onde a luta acontecera. Sua respiração ficou lenta e profunda enquanto olhava para a trilha feita pela besta. No final da trilha, ela viu o grande cadáver, sem ser maculado pela natureza ou pelo povo da vila.
Antes que percebesse, seus pés a trouxeram para perto da besta. De longe, ele aparentava ser grande, mas, de perto, era monstruoso. Ninguém em sã consciência lutaria contra algo assim... É loucura, sabia ela. Mestre é um idiota... mestre... por que você tinha que lutar contra essa coisa...?
Ei olhou para o céu acinzentado e chorou.
Ela não fazia ideia de quanto tempo ficou lá chorando, mas, quando as lágrimas secaram, ela se forçou a olhar para a fera de novo. Ei não sabia o motivo, mas ela queria ver o Oni.
O corpo estava coberto com centenas de pequenas feridas. Cada uma delas era superficial e mal causou qualquer dano. Mas eram prova de que seu mestre era um espadachim incrível e sua lâmina podia cortar qualquer coisa.
A espada dele... Ela só se lembrou da espada de seu mestre naquela hora.
Os restos estavam no mesmo lugar, perfurando a nuca do demônio. Ei sentou perante a cabeça, colocou ambos os pés no rosto do Oni e puxou o cabo com toda sua força. A arma não se mexeu.
Ela fechou os olhos, se concentrou e puxou. Nada. Tentou de novo, e de novo, até que suas mãos ficassem só carne viva. Mas a lâmina não se moveu.
Ei não desistiu. A espada era apenas um resquício da grande arma que um dia fora. Um resquício que não servia para lutar ou tinha qualquer valor. Ainda assim, pertencera a dois grandes espadachins.
Com uma pedra, ela circulou a besta e atingiu a ponta da lâmina quebrada. Acertando algumas vezes, Ei sentiu a arma se mexendo um pouco. Foi bem pouco, mas aquilo a fez atingir com mais força e velocidade. Até que começou a atingir tanto a arma quanto a cabeça do demônio com a pedra cheia de sangue negro.
Graças a suas mãos machucadas, a pedra escapou por seus dedos e ela bateu com a mão na ponta da lâmina. Embora fosse uma ferida profunda, Ei não gritou. Não doeu tanto quanto deveria.
Ela desenrolou os curativos da perna e cobriu a ferida. Então pegou a pedra e bateu na arma de novo. Ela só parou quando a espada estava enterrada na nuca do Oni.
Jogando a pedra de lado, Ei deu a volta na besta e sentou na frente de seu rosto. Apesar das feridas, ela puxou a espada de novo.
A garota não fazia ideia de quanto tempo levou, mas finalmente conseguiu libertar a arma.
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Samurai NOT
ActionA pedido de seu mestre, Tadayoshi acabou com a sua vida. Agora ele procura o motivo por trás desse pedido.