Capítulo 3 - Should I stay or should I go?

17.2K 1K 958
                                    


Eloise #3

Tá, tá... Eu falo! Não me prolonguei antes porque realmente não havia necessidade. Eu não sabia se o que ocorreu tinha sido real, ainda não sei, imagina então se vou espalhar essa loucura para outras pessoas. "Eloise: A estranha", só que em vez de se banhar no sangue, brilhou no banheiro.

A ficha ainda não caiu para mim. Terminaria novamente essa cena por aqui, mas depois dessa chamada não posso mais ignorar.

Infelizmente vocês me conheceram em uma época terrível. Queria que tivesse sido há uns sete anos. Quando minha vida tinha sentido real.

No tempo que minha irmã mais velha, Alícia, batia na porta do meu quarto até cansar e eu raramente ouvia. Na maioria das vezes, estava com o fone de ouvido no máximo. Ouvindo algum pop enquanto dançava na cama mesmo, com as pernas para cima.

Hoje eu só queria ouvir aquelas batidas na porta novamente. "Abre essa merda, Louise! Você pegou o meu casaco!". O casaco já não existe mais, nem Alícia e nem meus pais...

Alícia precisava ir comprar as passagens aéreas com destino ao intercâmbio que acabara de ser aprovada. Meus pais, que sempre a colocaram no pedestal, decidiram levá-la nesse dia até a agência de viagens no shopping.

Eu não tinha ciúmes do apreço exagerado dos meus pais por ela. Essa nunca foi uma história de irmã crescendo na sombra da outra.

Na verdade, eu carregava uma inveja, mas não era uma inveja negativa... Meu objetivo era ser como ela, ou ao menos parecida. Estudiosa, badass e reluzente. Enquanto um cara pensava em enrolá-la, esse e outros dois estavam sendo enrolados por ela. De vez em quando, meu pai precisava amparar algum cara que Alícia tinha feito chorar. Sério, sem exagero.

Naquela idade não entendia bem o porquê das práticas de prevenção que nos instruíam na escola. Minha mãe falava que era porque a França estava em conflito. Conflito contra quem? Por quê? Ela não entrava em detalhes. Só reforçava para que minha irmã e eu sempre alertássemos de nossa localização.

Todo dia Alícia me buscava quando largava da escola, eu aproveitava para perguntar o porquê de tanta cautela. "A mamãe é assim, você sabe".

Foi no dia que eles foram ao shopping que descobri a real definição de conflito.

Naquela manhã, enquanto eles foram comprar as passagens, eu tinha ficado em casa sozinha, até que o vizinho veio correndo e espantado bater na nossa porta. Me pegou pelo braço e me levou até a casa dele.

Seus filhos, um pouco mais velhos do que eu, estavam com os olhos esbugalhados de medo enquanto o pai me transmitia palavras de conforto. No telefone, a esposa, que era amiga da minha mãe, chorava e gritava por respostas. No noticiário de urgência, pude ouvir ao fundo "bomba", "terrorismo", "mortos e feridos", "shopping".

Eu fui levada ao enterro dos quatro, papai, mamãe, Alícia e com eles o meu coração... Se você acha que sabe o que é dor, não ache mais.

O tempo passou e eu me vi obrigada a morar com meu tio, que se diz autônomo, mas é cafetão. Infelizmente, ele é a única família que me restou. Não, ele não abusa de mim, a não ser no aluguel.

Tinha que me virar para estudar e depois ir varrer o frigorífico em que conseguira um bico. Era ruim, mas era digno. De lá eu tirava a pouca grana para repartir com o meu tio, às vezes, ele usava esse dinheiro para subornar alguém e não ser entregue as autoridades.

Assim continuei por mais alguns anos. Escola, trabalho, outra escola, outro trabalho, várias mudanças - se você é cafetão, deve a muitas pessoas e mora com uma sobrinha de menor, o ideal é que não fique muito tempo em apenas um lugar.

Os Outros TerráqueosOnde histórias criam vida. Descubra agora