Capítulo 1 - Desembrulho

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Léo #1

Estava na autoescola quando aconteceu essa... não sei do que chamar... coisa! Péssimo lugar para se descobrir tal coisa. Enquanto a professora explicava sobre preferência no cruzamento e todas as outras leis brasileiras ignoradas, a minha cadeira levitou uns 60 centímetros e então despencou de vez.

Você deve estar se perguntando agora – que porra é essa? Isso é mais uma história de jovens com poderes mágicos? Wingardium Leviosa? Não, embora eu acredite que a autora de Harry Potter realmente tenha o dom da criatividade. E também o de arrancar grana do bolso de adolescentes do mundo inteiro.

Voltando.

Quando me dei conta que estava levitando, primeiro, tive um susto enorme, depois, parei imediatamente de "viajar na maionese". É como chamo aqueles momentos de tédio extremo que você desliga o cérebro e olha fixamente para o nada, em um estado de dormência mental. Foi quando a queda livre da cadeira ocorreu, com os meus 74,6 quilos em cima, o suficiente para causar um barulho enorme e todos da sala me encararem repentinamente.

Nunca fui tímido – sou mesmo é desbocado – mas naquele momento, imediatamente, corei. De moreno me tornei vermelho. Garanto que eu estava parecendo um tomate que brotou na horta da vergonha. Eu era o último da fileira com espaços extensos entre as cadeiras, e todos olhavam para frente enquanto a professora escrevia algo no quadro, então, por sorte (ou desinteresse mesmo), ninguém me olhava no momento que eu estava a 3 palmos do chão. Não sei exatamente por quanto tempo levitei, mas chuto em uns 20 segundos.

Quando despenquei e todos finalmente viraram-se para mim, claro que fiquei meio desorientado naquela fração de minuto, mas simulei um arrasto na cadeira, como se estivesse ajustando a posição, e então olhei fixamente para a frente.

A professora engoliu a reclamação pelo barulho, retomou a lição e todos voltaram-se novamente para o quadro. Tudo em sua patética normalidade maçante, exceto por PUTA QUE PARIU, O QUE TINHA ACONTECIDO ALI? EU TINHA SAÍDO DO CHÃO DE VERDADE? EU POSSO VOAR? FOI UM DELÍRIO? EU SOU UM X-MEN? PORRA!

Por favor, se você se incomoda com palavrões, saiba que sou muito boca suja e estou fazendo um esforço enorme para poupá-lo de todos os palavrões que uso como adjetivos, tente não se incomodar.

Agora, tentando responder as perguntas em caixa alta acima. Gostaria muito que fosse a última opção, amo os X-Men. Ou a penúltima, sou totalmente cético com relação a tudo no universo que não seja fisicamente provável, ou a tudo que eu não veja com meus olhos em condição sóbria.

Você já se perguntou o porquê de todos os vídeos de óvnis apresentarem uma qualidade péssima de imagem? Simples, porque criar uma montagem a partir de uma gravação de baixa resolução é muito mais fácil. Se alienígenas realmente visitassem nosso planeta, eles apareceriam bem em cima do Vaticano, com todas as câmeras 4K do mundo os filmando.

Isso não quer dizer que eu não acredite em vida extraterrestre. Eles existem. Só que o universo é tão grande, e eles devem estar tão distantes de nós que talvez nunca vamos nos bater por aí no universo.

É muito espaço. Assista Cosmos.

Esse foi apenas um exemplo modesto para você ter noção do tamanho do meu ceticismo. Então, se eu estivesse lendo essa história no seu lugar, pararia agora. Pois não tenho tempo para ler dessas ficções distópicas e exageradas. Se você for como eu, fecha isso agora e vai ler Carl Sagan, porque nem eu estou acreditando no que houve comigo.

Ainda não tenho uma resposta concreta para o que aconteceu na autoescola. Agora estou no meu quarto, trancafiado, e ainda tremendo enquanto faço alguns experimentos com o intuito de tentar descobrir o que houve comigo. Preciso obter qualquer coisa que me acalme. O Google só resultou em histórias fictícias. Até aqui, 00h28, em um calor infernal e repentino, consegui levantar o ventilador do meu quarto em 20 cm da mesa.

Os Outros TerráqueosOnde histórias criam vida. Descubra agora