Connor #19

2.7K 557 85
                                    


O penúltimo relato de Connor está cheio de pequenas emoções para ele... Façam bom proveito.

Connor #19

Antes que o horário comercial iniciasse, levantei-me, comi os pães dormidos que estavam sobre mesa e saí de casa. Nesse horário, as chances de pegá-lo em casa seriam maiores.

Eu nunca tinha feito esse caminho, mas pareceu mais curto do que eu imaginava, o que me causou ainda mais raiva. Morando relativamente perto e, mesmo assim, nunca se importou de dar as caras, até esse momento. O que o levou a isso?

No caminho, liguei para o número do centro Tumeroy de reabilitação para falar com a minha mãe, contudo, talvez pelo horário, ninguém me atendeu.

Logo após me acertar com ele, pegarei um ônibus para o lugar onde minha mãe está.

A casa dele era muito melhor do que o duplex onde sempre vivemos. A começar pelo jardim. Amplo, vivo e com enfeites natalinos. Já tinha visto esse quintal em fotos pelo perfil conjunto que ele tem com a nova esposa, porém, pareceu mais bonito pessoalmente.

Segui a trilha de pedras hexagonais até alcançar a campainha de moldes antigos, daquelas em forma de arco que simula alguém batendo na porta... fazia sentido, talvez não quisessem acordar o bebê a cada toque.

A maçaneta girou cinco minutos depois, tempo que ele deve ter passado me olhando pelo olho mágico, talvez criando coragem para me enfrentar. E fez certo, ele vai precisar.

Eu não começaria essa conversa de forma amistosa, do contrário, seria rude e objetivo. Não tenho necessidade de buscar alguma conciliação ou ajuda por parte dele. Eu só quero saber com que direito ele decide tirar a minha mãe de casa sem me consultar.

Vamos, apareça. Seu covarde.

Conforme a porta corria para a lateral, o rosto fino de uma mulher latina e com o cabelo preto e crespo, na altura dos ombros, foi surgindo. Era ela. A esposa das fotos.

— Oi, você não me conhece. Gostaria de falar com o seu marido.

Ela me olhou de cima a baixo e, para o meu espanto, me deu um abraço. — Eu sei quem você é. É um prazer finalmente conhecê-lo, Connor.

Descobrir que ele havia revelado a minha existência para a nova família foi, no mínimo, inesperado. Eu não contava com essa.

— Eu... Ele está em casa?

— O seu pai?

— Não. Eu não tenho pai. A pessoa que eu quero falar é o homem que invadiu a minha casa e levou a minha mãe para uma instituição sem o consentimento da família.

— Ele não está — me olhou sem graça — por favor, entre. Eu estou preparando o café...

— Não, moça. É o seguinte: não sei se estarei aqui amanhã, então preciso resolver com ele ainda hoje, até o anoitecer. Para onde ele foi?

— Por favor, entre e eu lhe digo.

Desculpe, moça. Não tenho tempo a perder. Invadirei a sua mente.

Fechei os olhos e me concentrei para lançar a minha Energia bem no meio da testa dela, mas aquele choro repentino e estridente desviou a minha concentração e me fez abrir os olhos novamente. A mulher já não estava ali, e por entre a porta, eu a vi no quarto do bebê, pondo os braços dentro do berço.

A mulher retornou com uma criança de bochechas vermelhas e que vestia uma tiara com desenhos de joaninhas. Ao bater os seus grandes olhos castanhos nos meus, o bebê parou de chorar. Logo após, sorriu só com a gengiva, o que me desarmou por completo.

Os Outros TerráqueosOnde histórias criam vida. Descubra agora