Não Leia Este Livro!

"Alô? Quem está falando?" (parte 1/3)

Hospital Psiquiátrico - 23h20min da noite.

- Com licença, doutor. - falou Jefferson, após bater na porta - Vim trazer o relatório do nosso mais novo paciente.
- Obrigado. Aliás, deu os remédios para ele? - perguntei após pegar a prancheta.
- Sim senhor, como pediu. Uma dose a mais para mantê-lo calmo durante o questionário, e a que normalmente damos para evitar possíveis crises.
- Bom trabalho. Pode ir para casa se quiser, por hoje é só. - falei, terminando de assinar os últimos documentos.
- Obrigado senhor. Tenha uma boa noite.
- Igualmente. - respondi.

Antes de sair pela porta, o psiquiatra virou-se e fez um último comentário.

- Recomendo que o senhor leia o relato do paciente. A história é bem...intrigante.

***

Na última vez que eu olhei na tela do meu celular, eram exatamente 15h00min da tarde. O supermercado estava lotado, como todos os finais de semana aliás.

Estava quase chegando na minha vez de ser atendido pela caixa, até que meu celular começou a tocar.

Era minha esposa.

- Oi amor.
- Jonathan?! Onde você está?! Volte para casa agora! - Evelin falou em um tom de desespero.
- Eu estou fazendo compras, como te falei. Mas o que aconteceu? Por que está alarmada?
- Apenas volte para casa! Por favor! - respondeu parecendo começar a chorar.

E sem permitir que eu falasse mais uma única palavra sequer, ela desligou.

"O que está acontecendo?"

Então, sem demora, fui em direção ao carro deixando as compras num canto do supermercado. Eu já podia sentir a preocupação e o desespero começando a tomar conta de mim.

Ao chegar em casa, corri em direção à porta e entrei às pressas, procurando e chamando por minha esposa.

- Evelin?!

Nada. Ninguém respondeu.

"Oh céus"

- EVELIN?!!

- Estou aqui, meu bem! - ela respondeu. - No jardim!

Fui até onde estava.

Ela parecia normal, como se nada tivesse acontecido.

- Eu recebi sua ligação. O que houve? Você está bem? - perguntei
- Estou sim. Mas eu não te liguei. - disse, franzindo o cenho.
- Como não? Era você quem estava falando no telefone. Parecia em pânico. - falei, mostrando o número e a ligação feita.
- Que estranho. Tem certeza que seu celular não está com problema?
- Eu...acho que não.
- Bom, eu não te liguei. Aliás querido, você deixou meu celular ontem no concerto, não se lembra? Não estou com ele aqui.

"É verdade, tinha me esquecido completamente disso. No entanto, se não foi Evelin que me ligou, quem foi então? E por que tinha a voz de minha esposa?"

- Jonathan? Amor?
- Ah desculpe-me. Fiquei perdido em meus pensamentos.
- Não acha melhor descansar? Eu acho que essa insônia que você tem está começando a te deixar com a mente confusa. Eu estou terminando de podar as roseiras. Quando acabar eu farei um chá para nós.
- Está bem. Vou me deitar um pouco.

Fui em direção ao quarto, ainda tentando entender o que aconteceu mais cedo.

***

1h34min da madrugada.

"Mais uma noite sem conseguir dormir. Nem mesmo os remédios que o médico indicou estão fazendo efeito."

De repente, ouço o barulho de alguma coisa de vidro se quebrando na cozinha.

"O que foi isso?"

Olho para o meu lado e vejo Evelin dormindo calmamente. Decido então averiguar por conta própria.

Levanto-me da cama e pego minha pistola, escondida na gaveta do criado-mudo.

"Se for um ladrão, vou fazê-lo arrepender-se de ter escolhido essa casa para roubar."

Caminho até a cozinha à passos lentos, observando e prestando atenção ao meu redor. Ao chegar, me deparo com uma cena chocante: o cômodo estava em ordem, sem sinal de copo ou prato de vidro quebrado no chão. E mais: eu havia olhado em todos os cômodos, apenas eu e minha esposa estávamos em casa.

"Não é possível, não há nada aqui. Eu juro que ouvi algo, não posso estar enlouquecendo. Será que estou tendo alucinações por causa da insônia? Bom...acho melhor marcar outra consulta com o doutor William."

Depois de apagar as luzes da cozinha, dirijo-me de volta para o quarto.

Ao deitar na cama, noto que Evelin não está mais do meu lado.

Foi quando meu celular tocou.