"Alô? Quem está falando?" (parte 2/3)

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Era o mesmo número de antes.

Sem demora, atendo a ligação.

- Alô? Quem está falando?
- ...
- Por que está usando o número da minha esposa?!
- ...
- Responda!

De repente, ouço um barulho vindo da cozinha. Em seguida o desconhecido desliga a chamada.

"O que diabos está acontecendo?"

Decido ignorar o que houve e resolvo procurar por Evelin. Algo de muito estranho está acontecendo nessa casa.

Deixo o celular no bolso da bermuda e, com a pistola em mãos, ando lentamente no corredor, até que escuto um grito agudo vindo da cozinha.

"Isso só pode ser de uma única pessoa."

Corro em direção ao cômodo, na maior velocidade que eu podia.

"Por que tivemos que comprar uma casa tão grande?"

Quando cheguei, acendi as luzes e vi um corpo estirado no chão. Era Evelin, vestida com seu pijama favorito.

Que estava encharcado de sangue.

Agachei ao seu lado e chequei seu pulso. Meu desespero era tão grande que minhas mãos tremiam e meu suor começava a ficar frio. Os olhos azuis de minha mulher pareciam ter perdido seu brilho e seu rosto estava pálido, tal como um cadáver.

"Um cadáver."

As feridas ao longo de seu corpo eram terríveis. Havia cortes profundos de faca no abdômen e nas pernas, além de pequenos furos em todo seu pescoço. Evelin estava deitada em sua própria poça de sangue.

Levantei-me, peguei o celular e comecei a digitar o número da emergência.

Foi quando aquele contato novamente me ligou. Comecei a sentir a raiva dominando minha mente.

- O que você quer de nós?! - perguntei, num tom alto.

Um sussurro, não, uma voz rouca respondeu calmamente no outro lado da linha.

- Por que não vai até o porão e vê com seus próprios olhos?

E desligou a chamada.

Ao virar para trás, notei algo estranho.

O corpo de minha esposa não estava mais lá. No entanto havia um rastro de sangue que parecia ir até o jardim, como se alguém tivesse arrastado ela. Fui seguindo a trilha até o lado de fora da casa e acabei chegando na entrada do porão.

"Por que isso está aberto? Eu tinha deixado trancado já faz meses."

Empunhei a arma e entrei no pequeno cômodo. O seu interior estava bem escuro, então liguei a lanterna do celular. À passos lentos fui descendo as escadas, acompanhando o rastro de sangue e iluminando o caminho. Com o passar dos segundos, o cheiro de mofo ficava cada vez mais forte.

Foi quando comecei a sentir o odor de carne podre.

Acelerei os meus passos e fui mais à fundo do porão.

Mirei a lanterna ao redor e finalmente encontrei o corpo de Evelin.

"Mas o que..."

Comecei a caminhar lentamente para trás, com as mãos tremendo e a pistola apontada para a cabeça de minha esposa.

"Por que Evelin...não. Esse monstro não é minha querida Evelin. Ela não é assim."

A estranha criatura tinha olhos totalmente negros, como os de um demônio, e seu "cabelo" estava sujo e totalmente desgrenhado. Sua pele enrugada estava pálida e seca, permitindo que seja visto a curvatura de cada um de seus ossos. Seu rosto estava deformado e de sua boca saíam moscas, que ficavam voando à sua volta e entrando nas feridas podres e abertas. Diversas larvas ficavam saindo dos furos espalhados pelo seu pescoço.

A aberração usava o pijama branco de Evelin. O que antes era um leve tecido que cobria perfeitamente o corpo dela, agora era um trapo rasgado e ensopado de sangue que cobria os cortes do abdômen.

O monstro começou a se mexer. Ele movia-se lentamente em minha direção, contorcendo-se e soltando grunhidos estranhos.

Continuei a andar para trás, ainda com a arma e a lanterna apontadas para ele.

De repente, ouço a porta do porão se fechar.

E o som de uma corrente passando em volta das maçanetas.

Viro-me abruptamente e subo os degraus com rapidez. Tento abrir a porta, empurrando fortemente com um dos ombros.

Foi um esforço em vão.

Olho novamente para a criatura e aponto a pistola.

"Ou atiro ou morro neste lugar imundo."

Sem hesitar muito, dou o primeiro tiro. Acerto um pouco acima do estômago.

O monstro cambaleou para trás, mas ainda estava vivo.

Segundo tiro. Bem no olho esquerdo.

Ele soltou um berro, colocando a mão esquelética sobre o ferimento.

"Desde quando fiquei tão ruim de mira?!"

Terceiro tiro.

Finalmente, seu corpo cede. Ele começa a vomitar uma mistura de larvas com sangue escuro, e em seguida cai no chão.

Ainda com a respiração ofegante, decido sentar-me no chão, para recuperar o fôlego. Enquanto isso, fiquei recordando-me do rosto de Evelin, de seu sorriso, de sua doçura.

"Quando eu sair daqui, poderei encontrá-la e vê-la novamente."

O celular que estava na minha mão esquerda começou a vibrar.

Na tela, apareceu o número de Evelin.

- Alô? Evelin?!
- Jonathan?!
- Ah amor, graças a Deus. Onde você está?!
- Por favor me perdoe! - ela disse, enquanto chorava.
- Do que está falando querida? Agora tudo ficará bem. Apenas me diga onde está.

Uma risada seca soou do outro lado da linha. Depois, uma voz mais grossa começou a falar comigo.

- Evelin? Está tudo bem?!
- Ah está sim, "querido". Eu só preciso dar um jeito neste corpo aqui.
- O que...quem...
- De qualquer forma, obrigado por ter facilitado as coisas para mim. Agora tenho menos um problema para resolver.
- Do que está falando? Quem é você?! O que fez com ela?!
- Quem disse que fui eu quem fez algo à ela? Já olhou suas mãos? Já observou com mais atenção o corpo que está perto de você?

Olhei para minhas mãos. Ambas estavam sujas de sangue. Minha roupa estava encharcada de sangue.

Virei a cabeça em direção ao monstro.

Não. Não era mais o monstro.

A pele clara, os cachos dourados, o pijama branco feito da seda mais cara...

Era Evelin.

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