Até que a morte nos reúna

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Passou-se das dez horas
Os pingos de chuva estalavam sobre o asfalto.
Olhei para os dois lados: a rua mergulhada em trevas.
Mas nenhum carro avistei
Então conferi o relógio pela segunda vez.
"Dez horas e dez. Não me equivoquei"

Ao longe, notei duas luzes se aproximando.
E as gotas continuavam a cair do céu enegrecido.
O veículo enfim estacionou; sua porta foi se abrindo.
Entrei com pressa; o par de sapatos já encardido.

"Qual o destino, senhor?" perguntou o motorista.
"O centro, por favor. Na frente da capela Santa Marina"

Após acomodar-me no assento
(Que era de couro, todo preto)
Encaminhei meu olhar para a janela
Quase que o frio da chuva me congela!
Tinha que chegar em casa sem demora.
"Preciso de descanso para agora!"

Tranquilamente, o transporte percorria o concreto.
Todavia onde estão os postes que acabei de ver?
O condutor não está nada correto!
Será que errei ao lhe responder?

"Condutor? Este não é o caminho!"

A escuridão então cobriu o meu redor
As casas desapareceram
O som da chuva cessou
Um silêncio mórbido apareceu

"Motorista! Para onde me leva?"

O cheiro de terra inundou o carro
A estrada ganhou asperidade
Pedras batiam no teto de aço
O frio deu lugar ao calor

"Pare o veículo! O que pensa que está fazendo?"

Finalmente, o homem virou seu rosto.

O assombro preencheu minha alma.

Sua face branca, cadavérica
Os dentes todos expostos
O breu no lugar dos olhos
A curvatura bem desenhada de seu crânio rachado

"Perdoe-me, senhor" disse, calmante.

E as gotas, que antes tinham partido, voltaram.
Contudo por que elas agora queimavam?

"Talvez ainda esteja meio cedo..."

Por que os assentos esquentaram?
De que lugar essas chamas brotavam?

"...mas sua esposa o deseja ao seu lado"

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