O Artista (de) Plástico (parte 3/3)

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Inconscientes, mãe e filha foram arrastadas por uma das bonecas-humanas até o primeiro andar do casarão.

Enquanto estava dando continuidade em um de seus últimos trabalhos, o artista ouviu a porta de seu quarto de criações sendo aberta por uma de suas mais formosas obras.

- Ah! Você não poderia ter chegado em melhor hora, Cíntia! - disse, deixando suas ferramentas na bancada de madeira escura. - Deixe-a aqui, do lado de seu irmão. Não acha que irmãos deveriam permanecer um do lado do outro para sempre?

Sem pronunciar uma resposta, a serva apenas deitou a pequena Alice perto de Samuel. Contudo, devido à dificuldade de mover-se, ela acabou traçando um pequeno corte no rosto da garotinha.

- O que você está fazendo, sua incompetente? - esbravejou, ao socar fortemente o rosto da criatura. - Ela é um tesouro! Uma joia rara! Qualquer falta de cuidado e ela se torna uma sobra irrecuperável de carne e ossos!

Indiferente, o ser de plástico levantou-se e ficou de pé, como se nada tivesse acontecido.

- Agora pode se retirar, querida. Obrigado pela ajuda!

Após a saída do monstro, o homem percebeu que uma humana de cabelos encurtados e enegrecidos estava deitada no chão, perto da porta.

- Por Deus...ela se esqueceu de pôr o lixo para fora. - resmungou, depois de colocar a mulher em um de seus ombros. - Corpos velhos e usados são inúteis para mim.

Mas antes de tocar a maçanete, o criador teve uma ideia que poderia se tornar a maior diversão de sua longa noite.

Um sorriso esnobe estampou-lhe o cenho por debaixo da máscara branca.

***

Um grito fino despertou Rebecca de seu longo desmaio.

Ela estava presa em uma cama de ferro, com cordas que amarravam suas mãos e pés nas barras enferrujadas do leito.

Confusa, levantou as pálpebras móveis com lentidão. Na mesma hora, viu um homem magro, de estatura média, vestido com uma blusa social branca, uma calça preta e um avental manchado. Pelo fato de estar de costas, não foi possível nem tentar identificá-lo.

No entanto a mãe notou que os berros chorosos estavam vindo de sua filha.

Arregalando os olhos de pânico, a morena começou a remexer as amarras vigorosamente, em uma falha tentativa de soltar-se.

Após ouvir o barulho feito pela sua prisioneira, o desconhecido virou-se para trás.

A bizarra máscara, com contornos e detalhes de um rosto de manequim, imediatamente fez Rebecca paralisar seus movimentos.

- Ora, ora! Olá, minha mais recente cativa! - saudou logo depois de chegar mais perto e agachar-se para encarar o pálido rosto de sua nova vítima.

Ignorando a presença do homem, Rebecca olhou para a bancada de madeira que estava em sua frente.

- Alice! Você está me ouvindo?! - gritou, ao mesmo tempo que lágrimas de desalento saíam de seus olhos castanhos.

Exausta de tanto ter clamado por sua mãe (e de tanto chorar e de sentir dor) , a pequena menina somente soltou um sussurro baixo, que mal pôde ser ouvido.

Em seguida, uma mão enluvada em um tecido grosso e encharcada de sangue apertou as bochechas da mulher e moveu sua cabeça em direção ao olhar de seu dono.

- Rebecca, Rebecca...é assim que você me trata depois de eu ser tão educado contigo? - a voz por trás da máscara soava estranhamente séria. - É por isso que vadias da sua laia merecem sofrer até os seus últimos segundos de vida.

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