Mais uma vítima havia sido feita. O tranquilo bairro, que ficava bem longe do enérgico centro da cidade, tornou-se um local temido pelos seus moradores. À noite quase ninguém andava nas ruas e de dia, as pessoas evitavam conversar, o que era o contrário do que faziam aos montes nos anos anteriores (quem poderia garantir que seu vizinho ou o dono da quitanda não era um psicopata?).
As aparências podem enganar.
E isso tudo que desenrolava com o passar do tempo assustava o jovem rapaz de cabelos claros. As notícias que via em letras grandes e negras nos jornais das bancas aumentavam seus batimentos cardíacos, o que acelerava sua respiração:
"O misterioso assassino não para, já são mais de 200 mortos!"
Ele sempre tentava evitar ter contato com o assunto, por mais que este já estivesse difundido por toda a vizinhança.
"Tome cuidado, meu filho." dizia sua mãe, antes do garoto abrir o portão para sair de casa "Não ande em lugares vazios.".
E tanto o rádio como a televisão faziam seu papel insistente de espalhar ainda mais os ocorridos (e mostrar a opinião de certas pessoas a respeito dos casos).
"Dessa vez foi um homem de 36 anos que desapareceu..."
"O criminoso precisa ser encontrado e devidamente julgado. E com a morte se for necessário!"
"A polícia ainda não encontrou nada..."
"Muitos estão com medo! Precisam agir mais rápido. Vidas estão em jogo, não percebem isso?!"
"As autoridades pedem para que as pessoas evitem locais sem movimentação..."
"Quando nossa pequena comunidade terá paz novamente?!"
O rapaz parecia um ìmã dessas notícias. Aonde ele ia, frases do tipo o perseguiam constantemente para depois entrarem em sua mente e ficarem circulando infinitamente em meio a seus vários outros pensamentos.
Porém, em um determinado final de tarde, outra coisa passou a seguí-lo (novamente).
O sol estava começando a partir do céu, deixando um grande rastro alaranjado neste, enquanto o jovem pedalava apressadamente sua velha bicicleta vermelha. Ajudar seu avô na mercearia acabou levando mais tempo do que ele preveu.
Suando por conta do calor do verão, o adolescente secou a testa com a manga da camiseta; um vento forte fez as mechas de seu cabelo inclinarem para trás. As sombras formadas pelas casas e árvores ficaram maiores conforme o astro do dia se escondia por trás das montanhas da região.
Um vulto estava quase alcançando ele. Os arrepios que sentia o avisavam sobre isso.
Após poucos minutos, a noite finalmente havia marcado sua escura presença.
O garoto acelerou um pouco mais; o ar que inalava parecia sufocá-lo.
A cada poste que passava, uma lâmpada queimava-se, sem motivos lógicos, e um denso breu crescia atrás de si.
Era aquela sombra.
Ela não tinha forma e muito menos um nome. Seus passos eram silenciosos e os olhos, atentos e vermelhos, jamais perdiam seu alvo de vista.
O loiro voltou sua atenção para frente. Não deveria ter encarado, pois seu medo e pânico acabaram aumentando.
Em seguida ele virou à direita e seguiu reto, depois entrou em um beco. Repentinamente algo grudou em suas costas. O jovem sentiu-se mais pesado; as pernas fraquejaram. Suas tentativas de manter os olhos bem abertos não funcionavam. Um sono súbito e sem explicação se apossava de suas pálpebras, deixando-as quase impossíveis de serem sustentadas.
O controle, então, esvaiu-se. A bicicleta bateu em alguma coisa do chão e lançou o adolescente contra o concreto sujo. Um senhor já de idade, que estava passando pela rua no exato momento da queda, correu na direção do desamparado.
- Você está bem? - perguntou o homem de cabelos grisalhos e barba por fazer, ao se aproximar.
O rapaz desesperou-se.
- Machucou em algum lugar? - continuou o gentil desconhecido, tentando ajudá-lo a levantar do chão.
Sem querer, o garoto arrastou outra vítima para junto de sua própria desgraça.
***
A porta da velha moradia abriu-se, apesar dos seus estalos relutantes. Em seguida o jovem de cabelos claros pousou o saco preto no chão, com cuidado, bem no meio da sala desprovida de móveis.
- Meu bem, eu acabei de chegar. Eu trouxe um presente para você.
Ele ouviu passos lentos vindos da cozinha. Ela estava indo vê-lo.
- Espero que goste, Maria. - disse João, com um sorriso no rosto e um pouco de sangue em suas roupas. - Sei que você ama desenhar.
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Não Leia Este Livro!
HorrorQuer dizer que mesmo eu te avisando no título, você ainda tem a ousadia de vir ler a sinopse? Por que ainda está lendo isso? Quer realmente conhecer este livro? Está bem então, pode seguir em frente. Mas depois não diga que eu não avisei.