Capítulo 4 - Alexander

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Não pude deixar de ouvir. Eu estava aqui, trabalhando, daí eu escuto a Natalie falando que ama alguém e esse alguém é o noivo dela. Cara, eu quase flertei com ela! Por um triz, quase. O que eu estava pensando quando segurei o pulso dela, e a olhei daquele jeito? Tá, me entendam, a mulher é bonita e eu como não sou cego...

E, aliás, eu não tenho nada duradouro com ninguém e ela parece ser o tipo de mulher que quer algo do tipo. Por que eu estou pensando nisso, na verdade, nela? Eu deveria estar trabalhando e não pensando naqueles olhos castanhos lindos, em como sua boca deve ser macia ou como eu quero tocar em seus cabelos cacheados, e o pescoço... bato na minha cara. O que diabos estou pensando?! Eu nunca posso ter alguém e ninguém nunca poderá me ter, muito menos ela. Caramba! Para desgraça!

Pego meu casaco e saio do prédio e entro no estacionamento. Entro no carro e começo a dirigir até minha casa. Deixo o carro na garagem e começo a subir os degraus da escada da entrada; abro a porta e, como todo santo dia, Marissa está me esperando sentada na poltrona com um livro nas mãos. Tal mãe tal filho, certo?

Ela ergue o olhar para mim e dá aquele sorriso que me lembra de porque ainda não devo me matar. Se levanta e me abraça logo em seguida. É tão bom estar com ela, sentir seu cheiro. Marissa sempre esteve aqui pra mim, desde que eu nasci para ser mais específico. Ela que deu todo o apoio a Magda e me criou, já que a minha mãe não aguentava dirigir o olhar à mim. Quando fiquei paraplégico ela e Nate, meu amigo e antigo enfermeiro, foram os que mais me ajudaram e acreditaram que eu voltaria a andar. E olha só, aqui estou eu!

- Como foi o dia, meu menino? - Ela coloca a mão num dos lados do meu rosto, coloco a minha sobre a dela.

- Melhor que o de ontem, Marissa. Mas agora eu tenho que ir para a biblioteca, você sabe, trabalho a fazer.

Ela assente e me olha atentamente. Lá vai...

- Tem algo diferente em você - afirmou. Ah droga... - Conheceu alguém hoje?

- Sim, o homem novo da cafeteria, um taxista e minha secretária. Meu deus há quantos anos ela está lá? Um, eu acho.

- Alex, você sabe o que eu quis dizer - censura. - Fale mais sobre sua secretária. - Ela coloca um braço ao redor de minha cintura e eu um sobre seus ombros.

- Ela é comprometida, sua casamenteira. - Marissa deixa a mão sobre o peito.

- Assim você me ofende!

- Pra uma mulher de cinquenta anos como a senhora, foram muitos casamentos.

Ela revira os olhos. Oh-oh.

- Corra para a biblioteca. Agora. - Tasco um beijo na sua bochecha e vou para a biblioteca sagrada de Alexander Nogueira.

Liguei o computador e comecei a escrever, porque hoje é quinta-feira - só que não - era quarta-feira ! Ok, não tem nada de emocionante na quinta. Além de trabalho e...ah droga. Hoje é terça, por que Deus? Odeio terças. O por quê? Bom, talvez porque toda terça, minha família perfeita vem jantar aqui em casa e como sempre, nunca termina bem. Eu não consigo escrever assim. Começo a discar o número de Nate e clico em ligar. Piiii. Piii.

- Barulhinho chato, viu.

- Quem é chato? - pergunta Nate.

- Graças a Aristóteles. Preciso que me diga que há algum lugar para dois amigos irem em quinta a noite? - pergunto esperançoso.

- Bom, vai ter um aniversá...

- Se for mais um aniversário das suas priminhas de sete anos, desista. Você vai sozinho dessa vez, soldado.

- E é pra isso que servem os amigos. Mas como o sr já adivinhou, só me resta mesmo é...nada.

- Então tá, tchau.

- Opa peraí! O cara liga pra mim e depois quando ver que eu sou inútil, quer desligar?!

- Exatamente. Que bom que o amigo do cara entendeu, até. - desligo antes que ele proteste.

Fico escrevendo até às sete e meia, e olha só! Cinco capítulos, não está tão ruim assim. Meu Deus, eu só queria um bom livro para ler. Eu tenho que comprar livros, urgentemente. Olho para minhas estantes, mal tem livro - só uns trezentos e pouco. Entro em um site de uma das lojas online que vendem livros e...

- Desculpe te incomodar, é que eu queria falar sobre o livro da minha amiga.

Ergo meu olhar e vejo Natalie. Espera o que ela tá fazendo aqui. Passo a mão nos cabelos rebeldes. E não, não estou arrumando esses cabelos rebeldes porque ela está aqui. Por favor! Ela está noiva.

- Ah, sente. - indico a poltrona ao meu lado. Sério, eu tô querendo me matar agora.

Ela se senta na poltrona e começa a observar o cômodo, especificadamente as estantes. Ela também tem bibliomania, é das minhas. QUÊ?!

- Então o que quer? - nossa cara, não precisava ter sido tão seco.

- Eu vim falar sobre o livro da minha amiga, como eu disse antes. - Disse?

- Sim, claro. Mas não teria que ser ela que viria falar comigo e não você? - porque você está me tirando do sério, mulher.

- Sim, porém. Como posso dizer isso... - ela franze a testa. - Ela é um pouco tímida e...bom, quer que eu resolva toda a burocracia pra ela. Mas não se preocupe - acrescenta rapidamente. - se tudo der certo, ela fará o contrato com a editora.

Fico pensando com meus botões, tímida? Meu sexto diz que tem uma pitada de mentira aí, mas depois cuido disso, só estou um pouco inseguro.

- E onde está?

- Ah, claro. Aqui - ela me entrega o "livro" - E por favor, leia e se achar ruim fale. Se achar bom, fale. - ela se levanta e eu deposito o livro na mesa de centro e a imito. - Eu vou indo agora, obrigada.

- Eu te acompanho. -me ofereço e ela assente.

Andamos lado a lado, e ela me parecia nervosa. Será que podia começar a encará-la? Chegamos na entrada da casa e deixo ela passar.

- Então, te vejo amanhã, no trabalho.

- Sim.

Começo a observá-la novamente. Os cabelos pretos e cacheados que caíam sobre os ombros, as mãos delicadas se contorcendo pelo nervosismo, os olhos lindos, e como ela ficava bonito mordendo o lábio. A pele morena e a corrente com...o anel de noivado. É como um tapa na cara.

- Alexander. - sinceramente, essa mulher quer que eu morra falando o meu nome dessa forma.

- Até. - fecho a porta na sua cara.

Tem que ser atração. Só porque ela é muito bonita, certo? Não posso fazer isso, não posso deixa-la fazer isso. A única que entrou no meu coração, morreu pra mim quando fez o que fez. Nunca vou esquecer das suas últimas palavras: "Não sei como me apaixonei por um homem que é filho de um...Adeus, Alexander". É, depois disso, virei um cara frio que tem uma escuridão que o consome cada vez mais.

Até Que A Luz Se ApagueOnde histórias criam vida. Descubra agora