Até Que A Luz Se Apague

Capítulo 3 - Natalie

Um ano e meio depois

Dois anos tinham se passado e nada da porcaria do casamento está dando certo. Primeiro não tínhamos dinheiro suficiente e quando decidimos fazer uma coisa simples, Felipe teve que viajar para o exterior à trabalho; segundo, ele ficou mais de seis meses lá e namoro a distância já é ruim, imagina noivado - apesar de termos certeza que queremos passar o resto das nossas vidas juntos. Terceiro, minha futura sogra. Mulherzinha problemática. Sério, ela nunca foi a favor do meu relacionamento com seu filho; sempre dizendo aos ventos que o filho tinha que se envolver com alguém de classe alta, que se fosse mais além comigo, seria a ruína da família. Depois que ficou sabendo que iriamos nos casar, só fazia repetir que seria a ruína, fazia o drama.

Santo Deus. Ah, é claro, minha obra não foi aceita em nenhuma das editoras. Estou me sentindo a J.K. Rowling quando recusaram Harry Potter; só que ela tinha Harry Potter, e eu tenho Tempestade de Verão - o que nem se compara. Mas enfim, estávamos falando dos porquês que eu não tinha me casado, e não do meu fracasso como escritora.

Tudo isso acabou atrasando o casamento. Tá, uma parte de mim achava que aquilo era bom - não que eu esteja nervosa por saber que vou meu casar. Felipe voltaria hoje, isso mesmo. Voltaria. Mas o incrível chefe dele simplesmente disse para que ele ficasse por mais dois meses. Esse cara acha que as pessoas não têm mais o que fazer da vida, como se casar? Então como agora eu tive que atrasar um pouco mais meu casamento, eu me afundo no trabalho. Não no de escrever - aquilo só me faz me lembrar do meu fracasso e eu estou com um bloqueio -, e sim de secretária. Mas até que não é tão ruim assim, claro o salário não é muita coisa, porém eu sou secretária do presidente da editora Dark, que é escritor. Tá, tinha outros empregos e tals, só que esse me faz ficar mais perto do meu mundinho. E o melhor, o escritor era Alexander Nogueira! Eu simplesmente amo a escrita do cara. Sabe aqueles livros que você sente tudo, o suspense, a dor, o amor; aqueles que te faz engolir o livro (literalmente não)? Isso é o que os romances cheios de fantasias e suspense faziam comigo e com os outros que liam. E também não são só seus personagens que são misteriosos. A mídia tentou, e não conseguiram arrancar quase nada do verdadeiro Alexander Nogueira e seu passado. Só que ele é filho de Magda e Marcus Nogueira, tinha dois irmãos e um deles morreu quando estava, com ele, no Iraque servindo o exército americano. Não, ele não é americano. Ele é brasileiro, porém quando era pequeno, ele e a família foram morar nos Estados Unidos.

Ele não parece ser misterioso e tal com essa minha descrição, mas vocês não convivem com esse cara de segunda à sábado. O cara entra aqui e não olha nos olhos de ninguém e nem dá um bom-dia sequer; e quando me olha nos olhos... meu Deus! Quando aqueles olhos esmeraldas capturam os meus, sinto um calafrio na espinha. Sei lá, é como se fosse um alerta de perigo. E então ele vai pra sua sala e não sai de lá até às seis. Ninguém sabe porque ele nunca sorri, ou de nada ao seu respeito - exceto sobre o que eu falei antes. Talvez tudo isso esteja relacionado; a editora Dark com o seu jeito dark. Eu tenho que parar com isso, urgentemente.

Esbarrei em alguém e as folhas, que deveriam estar comigo e com esse alguém, caíram todas no chão. Me abaixei para recolhê-las, junto o homem que estava resmungando.

- Sinceramente, as pessoas deveriam prestar mais atenção. - disse enfurecido. Espera...eu conheço o dono da voz. Santa mãe de Cristo!

- Desculpe, senhor Nogueira. - Entrego os papéis que peguei e entrego a ele, sem erguer o olhar.

Ele bufa e puxa as folhas. Quando se levanta estende a mão para que eu pegue e levante. Faço-o. Mesmo sem levantar o olhar, sabia que estava me encarando; então comecei a organizar meus papéis e... onde está a página dez? Ele segue meu exemplo e quando vou pedir para ver se a página dez está com ele, o mesmo passa a mão nos cabelos desalinhados e começa a ler atentamente uma das folhas. Ah, não...